O dólar fechou com alta superior a 1,5 por cento nesta segunda-feira, no patamar de 3,55 reais e no maior nível em 12 anos e meio, reagindo à intensa aversão ao risco nos mercados globais após as bolsas da China derreterem diante dos sinais de desaceleração da segunda maior economia do mundo.
A moeda norte-americana avançou 1,62 por cento, a 3,5525 reais na venda, maior cotação de fechamento desde 5 de março de 2003, quando foi negociado a 3,555 reais. No ano até agora, dólar já subiu 33,62 por cento.
“A China deu início ao pânico no mundo hoje. Aliado a isso, a gente tem grande vulnerabilidade por causa das incertezas políticas”, disse o especialista em câmbio da Icap Corretora, Ítalo Abucater, para quem o dólar deve chegar a 4 reais ainda este ano, mas encerrará 2015 no patamar entre 3,70 e 3,80 reais.
Na máxima desta sessão, o dólar subiu 2,43 por cento e foi a 3,5809 reais, nível mais alto no intradia desde 27 de fevereiro de 2003, quando alcançou 3,6050 reais, mas a alta acabou perdendo força no fim da manhã.
“São forças de pânico, não há racionalidade. Em um dia como hoje, não há nada a fazer: é esperar e ver o quanto o dólar sobe”, disse o economista da 4Cast, Pedro Tuesta.
Ele ressaltou, no entanto, que o avanço visto mais cedo foi exagerado. Além disso, ponderou que, “se não houver recuperação (da China), o Fed preferirá adiar (a alta dos juros). Os danos foram significativos”, referindo-se ao Federal Reserve, banco central norte-americano, que está na iminência de elevar os juros nos Estados Unidos.
As bolsas de Xangai e Shenzhen desabaram mais de 8 por cento nesta sessão, reforçando o quadro de preocupações com a China, que vem afetando o apetite por ativos de risco, como aqueles denominados em reais, nos mercados globais.
“Os agentes internacionais esperavam que o banco central chinês anunciasse novas medidas no final de semana para dar suporte ao sistema financeiro. Como nada foi feito, as principais bolsas chinesas fecharam novamente com fortes quedas hoje, arrastando as demais praças para um pregão de perdas”, escreveu o operador da corretora SLW João Paulo de Gracia Correa, em nota a clientes.
Agentes financeiros também buscavam pistas sobre a intervenção do Banco Central brasileiro no câmbio, uma vez que aumentou sua atuação na última vez em que a moeda dos EUA operou em patamares próximos aos atuais.
Nesta segunda-feira, uma importante fonte da equipe econômica disse à Reuters que o programa de swap cambial está funcionando “muito bem”, e não há necessidade de usar as reservas internacionais no mercado de câmbio.
“O BC não vai mexer nas reservas… Na teoria, ele deve dar sequência às rolagens de 100 por cento (dos contratos de swap) até que se tenha uma luz no fim do túnel”, disse Abucater, da Icap.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total de até 11 mil contratos de swap cambial tradicional, que equivalem a venda futura de dólares, para a rolagem do lote que vence no próximo mês. Ao todo, o BC já rolou 7,562 bilhões de dólares, ou cerca de 75 por cento, do total de 10,027 bilhões de dólares e, se continuar neste ritmo, vai recolocar o todo o lote.
No Brasil, preocupações políticas também atingiram o ânimo dos agentes financeiros, após o vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, determinar que as contas de campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff e o PT sejam investigados por suposta prática de crimes, argumentando que há “vários indicativos” de que ambos foram financiados por propina desviada da Petrobras.
Além disso, nesta sessão, o vice-presidente da República Michel Temer deixou o comando da articulação política do governo da presidente Dilma Rousseff, disse à Reuters uma fonte próxima ao setor de articulação do Planalto.
Os mercados financeiros têm sido profundamente afetados pelas incertezas em torno da permanência de Dilma no cargo até o fim de seu mandato.
“Está cada vez mais difícil imaginar a luz no fim do túnel”, disse o operador da corretora Intercam Glauber Romano.