O documentário Belchior – Apenas um coração selvagem terá sua primeira exibição no Brasil na 27º edição do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, que acontece até o dia 10 de abril. O filme será exibido nesta quinta-feira, 7, às 20h, no Espaço Itaú de Cinema Augusta, em São Paulo, e no Espaço Itaú de Cinema Botafogo, no Rio de Janeiro, simultaneamente, e marca a estreia de Natália Dias e Camilo Cavalcanti na direção de um documentário.
“Nosso filme começa em 2016, com Belchior ainda vivo. Um desejo que nasce junto ao grito Volta, Belchior!, movimento que, para além da internet, já estampava os muros do país. Atravessados por essa obra potente, decidimos mergulhar nas palavras de Bel. Nosso foco sempre foi a palavra, a construção de uma poesia afiada, a força das mensagens, a atemporalidade dos versos. Fomos conduzidos por esse personagem complexo e contraditório no processo de descoberta do filme”, conta Cavalcanti.
“No momento de sua morte, naquele dia fatídico em 2017, decidimos que o projeto merecia e deveria seguir. Cresceu em nós a certeza da importância de seguirmos mergulhados nesta obra pulsante e atemporal. Aprendemos com Belchior, este artista único da Música Popular Brasileira, sobre a força de sua presença, mesmo diante de sua ausência. E estrear no É Tudo Verdade, o festival de documentários mais importante do país, representa a coroação dessa jornada e o reconhecimento da obra do eterno rapaz latino-americano”, pontua Natália.
A dupla com longa carreira na produção de projetos brasileiros, assina também o roteiro com Paulo Henrique Fontenelle, diretor e roteirista de Cássia Eller (2014) e Loki, Arnaldo Baptista (2008). A produção é da Clariô Filmes, do mineiro Camilo Cavalcanti, responsável pela produção executiva de longas-metragens como A Vida Invisível.
A história e as contradições do rapaz latino-americano são mostradas no filme por meio de imagens de arquivo e depoimentos de diferentes momentos dos 40 anos de carreira do artista. Contado em primeira pessoa, o longa traz entrevistas do cantor cearense. O documentário também apresenta poemas e letras de sua obra, declamadas por Silvero Pereira (Bacurau). Conterrâneo de Belchior, o ator foi a escolha imediata dos diretores, por sua relação com o Nordeste, as semelhanças com o cantor e a potência de sua atuação.
“Nosso desejo era trazer a palavra do Belchior através de pessoas que tivessem alguma ligação com o artista, ou algum atravessamento pela sua obra. Sempre pensamos no Silvero como uma dessas pessoas por toda sua força como artista, por ser também cearense e trazer muitos signos presentes na poesia de Belchior. Silvero abraçou a ideia imediatamente, disse que se sentia parte da poesia cantada pelo Belchior. Que muitas das músicas poderiam falar de sua vida e trajetória artística”, lembra Natália.
Nascido em Sobral, no Ceará, Belchior relata no filme a influência poética, lírica e religiosa do Nordeste em suas canções. O cantor era conhecido por ser crítico às letras do Tropicalismo com frases como “nada é divino, nada, nada é maravilhoso”, em alusão à música de Caetano Veloso. O longa passeia por composições de sucesso como Sujeito de Sorte, Como Nossos Pais, Paralelas, A palo seco, Apenas um rapaz latino-americano e Coração Selvagem.
Belchior – Apenas um coração selvagem acompanha a trajetória de um dos compositores mais importantes da Música Popular Brasileira. Com a canção Mucuripe, em 1972, em parceria com o também cearense Fagner, Belchior começa a ganhar destaque. A faixa foi gravada na voz de Elis Regina, que ajudou a consagrar a obra do artista ao interpretar Como Nossos Pais. O compositor alcançou o auge do sucesso em 1976 com Alucinação e lançou dezenas de álbuns nas décadas seguintes. Nos anos 2000, Belchior desapareceu da cena pública e passou quase 10 anos vivendo recluso. Morreu em 2017, vítima de um aneurisma.