Bicampeão mundial e medalhista olímpico de prata nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, Diego Hypolito precisou superar traumas de infância para revelar os abusos que sofreu quando ser um grande ginasta era ainda um sonho distante.
Entre 9 e 12 anos, os atletas mais experientes e técnicos forçavam os novatos pagar alguns castigos. Um dessas “provas” era pegar uma pilha com o ânus, além de trancar os menores em tampa de plinto, equipamento de ginástica que serve para treinos de saltos, em um ambiente escuro e asfixiante.
Diego Hypolito fez essas revelações pela primeira vez no dia 30 de abril em entrevista para a repórter Joanna de Assis, da TV Globo. Apesar do alívio por finalmente conseguir expor essas práticas constrangedoras, o medalhista olímpico não conseguiu evitar os danos causados por esses abusos.
Em tratamento para crise de ansiedade, ele contou em entrevista ao Portal da Band após participar do Melhor da Tarde, que passou ao fazer as revelações. “Quase desmaiei, deitei no chão, tive que tomar remédio, minha pressão baixou, precisei voltar para casa. Na hora que a entrevista foi ao ar, estava muito nervoso, não sabia o que ia acontecer. Fiquei bem doente nos três dias seguintes, ainda estou bem sem voz. Esse processo de contar acabou com a minha energia, não consegui treinar no dia seguinte, mas agora voltei a treinar, estou super bem, leve”, detalhou.
“Estou fazendo tratamento [para ansiedade] faz três meses, me ajudou muito. Fazia um ano e meio que eu não dava entrevista em auditório, inventava todas as desculpas possíveis para não ir. Depois que contei, me libertei, me fez bem, precisava falar antes”, completou.
As revelações de Hypolito aconteceram após vir à tona a denúncia de abuso sexual de 40 ginastas contra o técnico Fernando de Carvalho Lopes. Com o escândalo, a Caixa, que patrocina a Confederação Brasileira de Ginástica desde 2006, ameaça cortar o apoio.
“Estou bastante preocupado, a gente precisa de apoio, vivemos disso. Eu vivo dos meus patrocinadores, não tenho mais contratos individuais, estou à procura de patrocínio, me preocupa muito porque isso vai acabar com o esporte. Tomara que isso não aconteça”, analisou o bicampeão mundial.
Um dos maiores nomes da ginástica brasileira, Hypolito não quer que suas declarações tenham peso apenas por ser uma personalidade e pede para que todos prestem atenção ao caso e evitem que outras pessoas passem pelos mesmo problemas.
“O esporte tem que transportar saúde, educação para as crianças. O esporte é muito bonito, não pode perder a sua beleza por pessoas que trabalham dentro de dele. A gente está precisando de apoio, precisa que seja incentivado para que isso não volte a acontecer. A maneira de eu falar é para expor que as pessoas não voltem a fazer”, explicou.
Hypolito nunca conseguiu contar para a família sobre os abusos que sofria, nem mesmo a irmã Dani Hypolito, vice-campeã mundial de solo, sabia do ocorrido. Bruno Chateaubriand, empresário do atleta, teve conhecimento antes e tentou convencê-lo a falar.
“Ele [Chateaubriand] ficou chocado, queria que eu tomasse uma providência, mas não conseguia inicialmente. Quase um ano depois, tomei coragem, falei e expus todo esse terror. Foi algo muito difícil, caminhou junto comigo a minha vida inteira. [Se tivesse falado antes] não influenciaria em questão de resultado, mas sim como pessoa. Aprenderia a me defender mais, aprenderia ter atitude mais rígida, a dizer não, teria me respeitado mais”, enumerou.
“Acho que isso tudo a gente tem na formação, meus pais foram excepcionais comigo, me fizeram ser perseverante, acreditar sempre em mim, nos meus sonhos de esporte, mas eu não tinha coragem de falar publicamente, acho que isso foi libertador, fez com que eu me sentisse melhor. Espero que as pessoas que ficaram sabendo da história, se motivem a expor também tudo que passaram”, incentivou.