sábado, 23 de novembro de 2024
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Desequilíbrio após gol levanta dúvidas sobre preparo psicológico

A estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo ficou marcada por um aspecto preocupante: o desequilíbrio dos jogadores. Depois do gol da Suíça, o que se viu foi um…

A estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo ficou marcada por um aspecto preocupante: o desequilíbrio dos jogadores.

Depois do gol da Suíça, o que se viu foi um time excessivamente ansioso, apressado, buscando voltar a ter a vantagem no placar a todo custo. O comportamento teve como consequência o temor de que os atletas não estejam fortalecidos emocionalmente.

Na Copa de 2014, um dos principais fatores para o fracasso do Brasil foi o descontrole emocional dos atletas. Jogando em casa, a pressão pelo título foi imensa e isso, somado a circunstâncias como a má preparação, acabou por minar psicologicamente a equipe.

Quatro anos se passaram, o grupo foi bastante renovado e a comissão técnica pensa de maneira bem diferente da anterior – Tite, por exemplo, abriu mão da presença de um psicólogo na comissão técnica. No entanto, o comportamento demonstrado no segundo tempo da partida do último domingo contra os suíços deixou no ar a impressão de que esse fantasma não foi totalmente exorcizado. Mesmo porque dos jogadores atuais se cobra a conquista da taça como uma resposta ao Mundial dos 7 a 1.

O psicólogo do esporte João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista de Psicologia do Esporte, considera que há risco, sim, de o grupo atual repetir o desequilíbrio que marcou o elenco de 2014. E cita como um dos motivos não haver um trabalho de longo prazo nessa área na seleção – no próprio futebol brasileiro, diz, menos de 30% dos clubes profissionais contam com esse recurso.

Há outros três fatores que podem levar a equipe de Tite a se abalar psicologicamente. “Não existe um líder efetivo dentro do grupo e isso levou o treinador a estabelecer o rodízio de capitães. Também há a falta de experiência do próprio treinador; a primeira grande competição internacional que ele disputa é a Copa. Além disso, essa equipe não foi testada em situação de adversidade”, disse João Ricardo Cozac.

Esses fatores, de acordo com o psicólogo, “sugerem” que a seleção possa ser derrotada pelo descontrole emocional. “Veja, contra a Suíça a equipe levou um gol que era apenas o do empate e naufragou emocionalmente”. Para o psicólogo, a falta de um capitão fixo é ruim, pois os grupos precisam de uma “referência”. João Ricardo Cozac entende que Tite não encontrou um grande líder. Ao optar pelo revezamento, busca “dividir responsabilidades”, mas não vê isso como ideal.

Ele diz compreender Tite por não ter contratado um psicólogo para a Seleção, alegando que o tempo para trabalhar é curto. Mas alerta que a opção de levar familiares e amigos dos jogadores para perto deles na Copa não serve para compensar a falta do trabalho de um profissional de psicologia. “Não levar psicólogo do esporte, optando por levar a família, não é a mesma coisa. Família é importante e a proximidade é algo bom, mas não substitui o trabalho científico (de um psicólogo)”, enfatizou.

Tite e os atletas reconhecem que o aspecto emocional pesou na estreia. “A ansiedade bateu forte”, admitiu o treinador. “Sabemos da responsabilidade que carregamos”, acrescentou Gabriel Jesus.

CONFIANÇA – Mas, na Seleção, todos atribuem a dificuldade em manter a concentração e o foco à estreia e também ao excesso de confiança com que a equipe chegou para a disputa na Rússia. “A gente criou uma expectativa muito grande nas pessoas, e em nós mesmos, sobre jogar bem, sobre ganhar”, disse o zagueiro Miranda.

O problema é que a Seleção, mesmo sem empolgar, fazia partida correta e tinha o domínio do jogo até a Suíça empatar. A partir daquele momento, a precipitação ao buscar as jogadas ficou clara. Mesmo considerando-se que os europeus estavam bem armados em campo, ficou a impressão de que o Brasil não estava preparado para agir em situação de dificuldade. “Temos de ter calma. Todo mundo espera o Brasil vencendo, mas precisa analisar o jogo. Eles chegaram uma vez e marcaram”, entendeu o volante Casemiro.

Os jogadores evitam fazer ligação com 2014 e apostam que, já a partir do jogo desta sexta-feira contra a Costa Rica, em São Petersburgo, a força mental apresentada em momentos de dificuldade nas Eliminatórias e nos últimos compromissos que precederam o Mundial estará de volta. “Por ser uma estreia, tinha todo um nervosismo”, disse o goleiro Alisson sobre o confronto contra a Suíça. “Agora, quem sabe vamos poder encarar as coisas com mais naturalidade. A equipe vai saber o que rendeu e o que poderia ter feito melhor”.

Há jogadores que consideram até ser perda de tempo questionar o equilíbrio psicológico da equipe. “Temos de nos manter mentalmente fortes”, afirmou Willian, um dos remanescentes de 2014. “A gente sabe que algumas seleções grandes iniciaram perdendo. E nosso pensamento é jogo a jogo”, indicou Miranda.

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