quinta, 14 de novembro de 2024
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Depois da Bahia, chuvas fortes devem atingir Rio, SP e Minas

Após as chuvas intensas na Bahia, que resultaram em 21 mortes e mais de 30 mil pessoas desabrigadas devido a enchentes e deslizamentos, estados do Sudeste poderão ser os próximos…

Após as chuvas intensas na Bahia, que resultaram em 21 mortes e mais de 30 mil pessoas desabrigadas devido a enchentes e deslizamentos, estados do Sudeste poderão ser os próximos a sofrerem com as tempestades, já no Réveillon. Um alerta enviado pela empresa de meteorologia Metsul, nesta terça, diz que os volumes de precipitação devem ser muito altos em várias áreas do Sudeste, e o maior risco está em Minas Gerais, mas com previsões preocupantes também para São Paulo e Rio. Como mostrou O GLOBO nesta segunda, o corredor de umidade que acometeu a Bahia está vindo em direção ao Sul.

Como Minas e Rio possuem muitas cidades em regiões serranas, a Metsul alertou para a possibilidade de deslizamentos e enchentes nos próximos 10 a 15 dias. Ou seja, além da virada do ano, os primeiros dias de 2022 podem ser afetados pelas tempestades. Em uma projeção feita pela empresa, com base no modelo meteorológico alemão Icon, foi detectada tendência de chuva forte nos próximos sete dias em Minas, com acúmulo de 200mm a 300 mm de precipitação em algumas cidades. No Sudeste, a capital com maior risco é justamente Belo Horizonte, e o volume de água acumulada, juntando a sua Região Metropolitana, poderia exceder os 200 mm na próxima semana.

Foram feitas, ainda, projeções da Metsul em outros dois modelos para um previsões de período de 15 dias, com sinalização de volumes de precipitação de 300 mm a 500 mm acumulados em localidades no Sudeste, também com destaque para Minas. Mas áreas do Rio e de São Paulo também podem sofrer com chuvas excessivas. Em Campos de Jordão (SP), por exemplo, a média histórica é de 300 mm de chuva para o período inteiro de dezembro, então algumas cidades podem receber, em duas semanas, chuvas normalmente previstas para todo o mês. Tradicionalmente, é considerado que um acúmulo de 30 mm em uma hora resulta em enchentes, em centros urbanos, e o acúmulo de 100 a 120 mm em três dias, em áreas montanhosas, podem causar deslizamentos.

As projeções do Metsul apontaram também que as praias do litoral norte do Rio estarão, no réveillon, sob menos risco de tempestade em comparação com o litoral sul, a Costa Verde. Nesta terça, a cidade de São Paulo registrou chuva em todas as suas regiões. A capital entrou em “estado de atenção” para alagamentos às 12h25.

Meteorologista do Metsul, Estael Sias diz que o centro-sul de Minas e o Norte de São Paulo são as regiões mais preocupantes no momento. Mas, a região serrana do Rio, as regiões metropolitanas do Rio e Espírito Santo, além de porções de Goiás e Mato Grosso também demandam atenção.

— Os resultados das projeções são preocupantes. Diante do cenário que já temos registrado, como na Bahia e norte de Minas, já há um ambiente de vulnerabilidade. Então o risco de transtornos no Sudeste é muito alto — explicou Sias, que lembra que a situação na Bahia resultou da combinação do fenômeno da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) com um ciclone subtropical observado há cerca de duas semanas, no estado, o que acelerou o acúmulo de umidade.

Nesta segunda, o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) explicou que a tragédia baiana foi deflagrada pela ZCAS, colossal canal de umidade trazida do mar que “estaciona” sobre determinadas áreas, causando chuva intensa e inundação por dias. Essa massa de umidade irá se deslocar para o Sudeste e o Sul, o que motiva as previsões de chuvas. Ele afirmou, porém, que ainda não é possível saber se as precipitações acontecerão no mesmo nível dos registrados na Bahia.

— A ZCAS se espalhou pela Bahia, o que é totalmente fora do normal, e despejou aguaceiros numa região cerca de 1.000 quilômetros ao norte da que costuma ocorrer (o Sudeste). E esse fenômeno, que por si só já seria raro, aconteceu duas vezes no mesmo mês — disse Seluchi.

Cuidado em rios e cachoeiras
Apesar da necessidade de atenção e da expectativa de chuvas acentuadas, o meteorologista e professor da UFRJ Wanderson Luiz Silva explicou que ainda não é possível precisar exatamente qual será o volume da precipitação. Por isso, não haveria necessidade de se cancelar possíveis planos de viagem do réveillon, mas o alerta serve, por exemplo, para quem quiser nadar em rios e cachoeiras, principalmente na região serrana, onde há mais riscos de deslizamentos.

— Difícil saber em qual área específica a chuva será mais intensa. Mas regiões com relevo considerável podem sofrer mais. Ainda não dá para saber se a chuva ficará muito concentrada em apenas um dia, ou mais distribuída até domingo. As chuvas das ZCAS costumam ser generalizadas e esparsas em todo o Sudeste — explicou Silva, que destacou que a região do centro-sul de Minas é onde há maior previsão de volume de chuva, mas que também há alerta para a região serrana do Rio e do Vale do Paraíba, em São Paulo. — O que vale é ter atenção contra risco de deslizamentos. Se tiver chovendo intensamente, ficar em local seguro. E se viajar para algum lugar com cachoeira, tomar cuidado com possibilidade de cabeça dágua.

Estado de cautela em SP, MG e Rio
As Defesas Civis dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio se dizem em estado de cautela em relação às chuvas na última semana do ano. O monitoramento em curso, informam, é padrão para essa época do ano, em que tradicionalmente ocorrem pancadas de chuva com intensidade e recorrência — o que inclui a possibilidade de enchentes e deslizamentos.

A Defesa Civil de Belo Horizonte informou que “todas as estruturas da prefeitura estão mobilizadas para enfrentar dezembro, o mês mais chuvoso da temporada de chuvas”. O período de maior precipitação na capital mineira se estende de outubro a março, segundo a gestão municipal.

O programa de acompanhamento se assemelha, segundo a Defesa Civil de BH, ao de ualquer dezembro de anos anteriores. Não há nenhuma movimentação fora do protocolo. O mesmo se vê na região do Vale do Paraíba, da Serra da Mantiqueira e do Litoral Norte paulistas. Novas sinalizações da Defesa Civil dependem de aumentos significativos nos índices pluviométricos (que medem o volume de chuva) na média de três dias, o que ainda não ocorreu.

— Não houve necessidade de colocarmos novos planos de contingência em prática. Se chegássemos ao extremo, como na Bahia, já teríamos realizado evacuações, abertura de abrigos, temos know-how para tanto. Contudo, não podemos ainda falar sobre risco no Réveillon, só saberemos de fato na sexta pela manhã — diz Wander Vieira, coordenador regional de Defesa Civil do Estado de São Paulo.

Em Volta Redonda, no Vale do Paraíba fluminense, também há um sistema integrado que avalia a vulnerabilidade da cidade em períodos de chuva. Anualmente, entre novembro e março é comum que a região esteja em alerta máximo, o que já ocorre agora. A Defesa Civil local informou que mantém a mobilização do plano de contingência para o caso de um aumento extremo de chuvas. Nesse esquema de monitoramento, caminhões e outros equipamentos necessários para o transporte e uso no combate às enchentes estão à disposição da prefeitura em tempo integral. Também é mapeada a totalidade dos centros de atendimento médico e locais de acolhimento para eventuais desabrigados.

— Não posso me atentar somente ao que o sistema meteorológico oferece. Trabalho com a previsão de chuva todos os dias até março de 2022 (mesmo que não ocorra). Temos cautela responsável, é o alerta de verão — afirma Rubens Siqueira, coordenador da Defesa Civil de Volta Redonda.

Em nota, o governo do Estado do Rio afirmou que à Defesa Civil Estadual cabem “ações de apoio aos municípios em ocorrências que extrapolam a capacidade de resposta dos mesmos”.

“O Cemaden-RJ, órgão ligado à Sedec-RJ (Secretaria de Estado de Defesa Civil), monitora as condições meteorológicas e os níveis pluviométricos no estado, enviando alertas para as regiões com riscos de eventos geológicos ou hidrológicos. Os agentes mantêm contato permanente com as prefeituras, prestando apoio quando as ocorrências extrapolam a capacidade de resposta da gestão municipal”, diz o documento.

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