Há quase um ano no São Paulo, o volante Petros se consolidou como uma das principais lideranças do elenco que tenta recolocar a equipe no rumo dos títulos.
Identificado com o clube, ele diz ao Estado que defende a camisa tricolor como faz com sua família e que vê o time na direção certa em busca de conquistas.
Petros ainda revela um pacto firmado nos vestiários no início do Campeonato Brasileiro: estar entre os quatro primeiros da tabela de classificação antes da parada para a Copa do Mundo.
Que balanço você faz desse seu primeiro ano no São Paulo?
Estou muito feliz aqui. Sou pelo bem comum e abro mão de absolutamente tudo pelo meu trabalho, porque é ele que me dá tudo, o sustento da minha família, a realização dos meus sonhos. Foi por isso que saí de casa aos 20 anos. Eu vivo o São Paulo, me preocupo muito com o ambiente fora de campo, tenho estado sempre com os funcionários do clube, e no gramado não tenho preocupação com protagonismo. Não deixo ninguém mexer com o São Paulo. Tem gente que acha chato. Mas preciso representar o torcedor, por isso defendo o São Paulo como defendo minha família.
Como está o clima para a disputa do Campeonato Brasileiro e da Sul-Americana?
De confiança no trabalho. Sabemos que não está tudo acertado, mas trabalhamos para confirmar o trabalho com resultados. O São Paulo está no caminho depois de jogar sob muita pressão no ano passado. E a pressão é normal. Mas essa trajetória é como a construção de uma casa, precisa de uma base e de um bom alicerce para tudo se erguer. Teremos mais tranquilidade com uma sequência de vitórias. Na Sul-Americana, espero que a classificação diante do Rosario Central tenha sido um divisor de águas. O São Paulo está acostumado a decisões sul-americanas e devíamos a classificação ao nosso torcedor.
A parada de um mês para a Copa não pode atrapalhar essa expectativa de arrancada?
Temos diferentes experiências quanto a isso. Às vezes uma equipe para em fase ruim e depois melhora e com outras ocorre o contrário. Mas é o momento ideal para estar na parte de cima. Temos de estar entre os quatro primeiros antes da parada. É uma cobrança e um pacto que fizemos no início do Brasileirão e que partiu de nós, jogadores. Precisamos ter gordura para eventuais oscilações no fim. Os últimos anos mostram isso. Estamos invictos e espero que se mantenha assim por muito tempo.
O que o técnico Diego Aguirre pede? O que falta para o São Paulo deslanchar?
O Aguirre é uma pessoa tranquila, humilde, que pede nossa concentração a todo tempo e que quer fazer o São Paulo voltar a ser um grande campeão. Ele pede consistência, que representemos a torcida em campo da melhor maneira, um time aguerrido, com raça, determinação e sabendo o que quer. Ele cobra isso. E os jogadores têm feito. Isso fica claro nos vestiários, nos cobramos muito entre nós mesmos. Um clube como este precisa estar nas cabeças. São anos atípicos, mas sabemos da nossa importância.
Você teme que a torcida deixe de demonstrar apoio se os resultados não vierem?
A torcida é um negócio grandíssimo, é combustível. Muita gente não faz ideia de como isso tem uma força motivacional absurda. Estamos sempre atentos à opinião e às manifestações da torcida. No momento bom, tudo é fácil. É gente que não te conhece virando seu melhor amigo, é dono de restaurante te ligando para comer de graça. Mas quando o momento é mais difícil, é aí que a gente mais precisa. E o torcedor do São Paulo tem estado junto nesses momentos. Queremos os resultados justamente por isso.
Como foi voltar para o futebol brasileiro?
Foi uma decisão difícil, principalmente porque eu vivia um momento de estabilidade na Europa, numa cidade maravilhosa, com contrato renovado, moral no clube. Mas o chamado me tocou. Eu precisava estar aqui, sabia que poderia ajudar. E isso me motivou. E estou muito feliz com minha decisão. Ainda tenho muito a agregar para o São Paulo. A situação do ano passado era dedicada e conseguimos. Nossa expectativa é de fazer um grande ano agora.
E sobre estar de volta ao Brasil?
A principal mudança é em relação à qualidade de vida. É um absurdo que no país como o nosso a gente tenha que enfrentar problemas como a falta de segurança, de educação e de saúde. É um absurdo ter que andar num carro blindado. Conto na mão as vezes que usei meu carro na Espanha. É um absurdo, aqui você não pode estar na rua que é hostilizado, corre risco de ser assaltado, sequestrado. E era para ser o melhor país do mundo.
O que um “Pai de Família” pensa da situação atual do País?
A situação política do País é vergonhosa e precária. Sem expectativa alguma de mudança pelo menos a curto prazo, mesmo com eleições. Precisamos copiar um pouco os modelos políticos que deram certo, como Inglaterra e Estados Unidos. Rever nosso código penal urgentemente, porque a impunidade é total. Quantos bilhões em desvios, corrupção. É dinheiro de merenda, de saúde, de estradas. Tudo seria utilizado a favor de todos. Infelizmente a curto prazo não vejo perspectiva de mudanças.
Esse tipo de discussão é frequente entre os jogadores?
Muitos que jogaram foram percebem isso também e têm essa visão. Não é tão difícil (mudar). Se mudar e reestruturar nosso modelo político, nosso judiciário… Não dá para roubar e estar tudo certo. Esse sistema brasileiro, em que muitos ficam nessa de tentar levar vantagem, é um câncer que precisa ser curado. E esse tipo de comportamento se reflete em tudo, inclusive no futebol.
Você jogou na Espanha e, por lá, uma questão separatista envolvendo a Catalunha pode causar efeito no futebol. Como vê essa situação?
A Catalunha é a parte mais rica da Espanha. Então, eles se sentem um pouco superiores. Se fosse uma parte pobre do país, dificilmente pediriam a separação. Eles falam que funcionam bem sem o reinado espanhol, mas acho que não vai dar em nada.