Nesta Quarta-Feira de Cinzas, o papa fez a primeira aparição pública desde que anunciou a renúncia. Ele fez referências à divisão que existe, hoje, no Vaticano. E afirmou que a decisão foi pelo bem da Igreja.
Um papa sem bengala e aparentemente aliviado enfrentou os fiéis no primeiro encontro público depois do anúncio que chocou o mundo católico e fora dele.
Bento XVI abriu a audiência da quarta-feira explicando o seu gesto. “Decidi renunciar em plena liberdade e pelo bem da Igreja.”
O papa reafirmou ter consciência da gravidade do seu ato e que não possui mais as forças de antes.
Olhando para os fiéis, agradeceu a todos pelo amor e orações. “Nesses dias, que não foram nada fáceis para mim, senti quase fisicamente a força das orações”. Os aplausos tornaram-se ovação.
O papa leu um texto cheio de metáforas. “O deserto, onde Jesus se retirou, é o lugar do silêncio, da pobreza, onde só existe o essencial e onde é mais fácil encontrar Deus. Mas o deserto é também o lugar da morte, onde não há água ou vida. Só solidão e tentação.”
Ao pregar a conversão, Bento XVI condenou a luta pelo sucesso. Alguns teólogos enxergaram como uma referência ao carreirismo e às guerras de poder na cúpula da Igreja.
Em português, Bento XVI saudou os fiéis de Portugal e do Brasil, e foi aplaudido por eles. Mais tarde, na Basílica de São Pedro, na missa da Quarta-Feira de Cinzas, o papa voltou a falar que o verdadeiro discípulo não serve a si mesmo.
Nesta que foi a última cerimônia dele como papa com o colégio de cardeais, Bento XVI foi mais claro na sua mensagem ao afirmar que divisões deturpam a Igreja e que as rivalidades devem ser superadas, e que Jesus denunciou a hipocrisia religiosa.
O secretario de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, fez um discurso emocionado sobre a coragem de Bento XVI. A expressão do papa continha uma certa amargura.
No fim da cerimônia, o que se viu e ouviu foi um longo, interminável aplauso. Agora faltam poucos compromissos antes da despedida final.
Bento XVI vai se reunir com bispos, vai receber algumas autoridades, fará duas aparições da janela do palácio apostólico.No dia 27 será a sua última audiência pública na Praça São Pedro.
No dia 28, depois de se reunir com os cardeais, às 17h, horário local, um helicóptero levará Bento XVI para a residência de verão dos papas, onde ele vai passar a primeira fase da sua vida longe do pontificado.
Só às 20h, a renúncia entrará em vigor, dando início a um processo novo na história da Igreja: uma sucessão papal sem morte.