O segundo debate presidencial das eleições de 2022 realizado neste sábado (24) foi marcado por acusações de corrupção na gestão Jair Bolsonaro (PL) e críticas à ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – que lidera as pesquisas de intenção de voto.
O debate, o segundo realizado nestas eleições, foi promovido por um pool de veículos de imprensa formado por SBT, CNN, Estadão/Rádio Eldorado, Terra, Veja e Rádio Nova Brasil FM.
Participam do debate:
Jair Bolsonaro (PL)
Ciro Gomes (PDT)
Simone Tebet (MDB)
Soraya Thronicke (União Brasil)
Felipe DÁvila (Novo)
Padre Kelmon (PTB)
“Ao invés de vir aqui, foge, desrespeitando você, desrepeitando a todos nós” diz Ciro sobre ausência de Lula no debate
A primeira candidata a comentar a ausência de Lula foi Soraya Thronicke. Na sua participação inicial, a presidenciável do União Brasil afirmou:
“Uma sabatina, um debate, é como uma entrevista de emprego. Você aí na sua casa contrataria um candidato que faltou à entrevista de emprego? Esse é o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, que não merece o seu voto de maneira nenhuma”.
Jair Bolsonaro também atacou Lula – a quem voltou a chamar de “presidiário” – pela ausência no debate. Ciro Gomes disse que o petista “desrespeita” o eleitor ao não comparecer.
“O candidato Lula, que não veio, por estar com salto alto ou achar que já ganhou… Portanto, ele desrespeita a todos nós, seus oponentes, e desrespeita especialmente a você [telespectador]. Mas ele não vem mesmo porque não tem como explicar nem as promessas, porque tem quatro mandatos que você deu a ele e ele não cumpriu, nem a denúncia de corrupção”, disse Ciro.
Corrupção
Soraya Thronicke, que apoiou Bolsonaro nas eleições de 2018, afirmou que ele “abandonou” as bandeiras que dizia defender, como a de anticorrupção, e gerou “decepção” na população. A candidata do União Brasil também afirmou que Bolsonaro “traiu” a nação brasileira.
“Ajudei a eleger Jair Bolsonaro e não me arrependo, porque era necessário tirar o PT do poder. Sabe o que que eu sinto? O meu sentimento? Decepção e tristeza, como muitos brasileiros. Não me arrependo porque foi necessário e eu acreditei”, afirmou.
“Acreditei muito, com veemência, mas ele [Bolsonaro] abandonou essas bandeiras, foi ele que abandonou. Eu continuo com elas, ele traiu o nosso partido, eu continuo nele. Eu continuo no mesmo lugar. Essa pergunta tem que ser pra ele. Por que é que ele traiu a nação brasileira? Ele que traiu”, acrescentou Soraya.
Bolsonaro pediu direito de resposta porque disse que estava sendo chamado de corrupto. O direito de resposta foi concedido e o presidente afirmou que as candidatas Soraya Thronicke e Simone Tebet ajudaram, como senadoras, a derrubar veto dele sobre o chamado “orçamento secreto”, conhecido pela falta de equidade na distribuição de recursos e pela falta de transparência.
“As duas senadoras votaram para derrubar o veto do dito orçamento secreto. A senadora Soraya, em matéria, fez uso de R$ 114 milhões do dinheiro do orçamento secreto. Esse orçamento é privativo do parlamento brasileiro, nós apenas executamos. Eu não posso indicar tantos milhões para fazer tal obras em tal local, quem indica são deputados e senadores. Sobre Soraya, a senhora não me elegeu não. Todo seu material de campanha, quer seja santinhos e vídeos, está escrito lá: a candidata do Bolsonaro. A senhora foi uma estelionatária por ocasião das eleições”, disse Bolsonaro.
Simone Tebet (MDB) disse que Bolsonaro, no início da pandemia, não queria pagar R$ 600 de auxílio emergencial. A emedebista também afirmou que Bolsonaro demorou a comprar vacinas contra a Covid-19, o que prolongou a duração das medidas de restrição social na crise sanitária.
“Repito, [Bolsonaro] é insensível à dor alheia. Sabe por que ficamos tanto tempo em casa, mais do que a média do mundo? Porque ele negou a vocês vacina. Quarenta e cinco dias de atraso, eu estava lá. Eu vi o esquema de corrupção, como se a vida pudesse valer um dólar – que era o que o Ministério da Saúde queria cobrar de uma empresa para comprar vacina pra colocar no seu braço. É este presidente insensível, que virou as costas para o povo brasileiro, que quer, de novo, seu voto”, disse Simone Tebet.
Ainda sobre corrupção, Felipe D’Avila defendeu acabar com a prática, que tira dinheiro da saúde e da educação. Para acabar com desvios de recursos públicos, ele defendeu voto em candidatos “honestos e competentes”.
Ciro Gomes disse que o presidente Bolsonaro teve uma “oportunidade de ouro” para acabar com a corrupção, mas perdeu, conseguindo ainda, segundo ele, “ressuscitar” Lula.
Candidato do PL à reeleição, Bolsonaro optou por fazer perguntas a Padre Kelmon, evitando confrontos com os adversários Ciro Gomes e Simone Tebet – que aparecem, respectivamente, em terceiro e quarto lugares nas sondagens de intenção de voto.
Kelmon, por sua vez, saiu em defesa de Bolsonaro durante o debate. O candidato do PTB, que diz ser de direita, chegou a elogiar o governo do presidenciável do PL e a reclamar das críticas feitas pelos demais adversários ao presidente. “Será que o presidente da República não fez nada de bom para o Brasil? Vocês só enxergam maldade, corrupção”, disse.
Em outro momento, Bolsonaro citou operação de busca e apreensão da Polícia Federal que teve Ciro Gomes como alvo em uma investigação sobre supostas irregularidades nas obras de ampliação da Arena Castelão, principal estádio do Ceará, para a Copa do Mundo de 2014.
Ciro Gomes pediu direito de resposta, que foi concedido, e atacou Lula e Bolsonaro. “Eu, de fato, fui vítima de busca e apreensão, ação meramente cautelar. Nunca respondi, em 42 anos de vida pública, por qualquer denúncia de corrupção. E essa busca foi julgada ilegal por unanimidade. A minha desconfiança é, é um delegado petista canalha, que eu sei que é; ou foi o governo Bolsonaro que, interferindo na PF, fez para proteger os filhos?”, questionou.
Aumento para o STF
Felipe DÁvila, do Novo, perguntou para Simone Tebet sobre o aumento de 18% do salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O aumento foi aprovado pelos próprios ministros e será concedido metade em 2023 e metade em 2024.
Tebet afirmou que votará contra a proposta, que será analisada pelo Congresso, porque há “33 milhões de pessoas com insegurança alimentar e passando fome” e milhões de desempregados. “É vergonhoso, é afrontoso é imoral”, disse. Ela também afirmou que, se eleita presidente, vetaria o reajuste.
DÁvila falou em “enquadrar o Supremo Tribunal”. “O Supremo foi responsável por soltar Lula da Silva e deixar que um criminoso seja candidato”, afirmou. Ele também criticou a ausência de Lula no debate.
Armas
Felipe DÁvila foi questionado por uma jornalista sobre a política de controle de armas no país. O candidato do Novo disse considerar um direito do cidadão ter posse e porte de arma.
“Nós somos liberais e defendemos que o brasileiro tenha responsabilidade de fazer suas escolhas. Ter porte não é fácil no Brasil. O problema é que os CACs [colecionadores, atiradores e caçadores] foram avacalhados, qualquer clubinho de tiro da esquina você sai armado. Isso é um absurdo. As Forças Armadas não sabem o histórico do cidadão que está se armando. Precisamos ter um único banco de dados. Não podemos banalizar um direito do cidadão”, afirmou.
Soraya Thronicke comentou a resposta e disse que, quando foi eleita senadora, levantou a bandeira armamentista para defesa pessoal do cidadão. “Me disponho a continuar trabalhando nesta senda, desde que haja responsabilidade”, disse.
Aborto
O candidato Padre Kelmon questionou Simone Tebet se, por ela ser feminista, seria também a favor do aborto.
A candidata respondeu que o feminismo não pode ser confundido como uma pauta de esquerda, e que ela é contra o aborto, por ser católica.
“Eu sou contra o aborto, porque eu sou católica e sou cristã. Isso não me faz menos feminista. Eu defendo a vida, e assim sempre fui, mas o feminismo no Brasil precisa não ser entendido como uma pauta de esquerda, mas como uma pauta cristã”, afirmou Tebet.
Kelmon também abordou o tema durante pergunta a Ciro Gomes. Ele questionou se Ciro se comprometeria a assinar um “pacto pela vida” para “proteger os bebês”.
Ciro afirmou que está concentrado, produzindo um “programa de renda mínima, problema do endividamento, estabelecer uma lei antiganância e em fazer uma revolução pedagógica da educação”.
Sobre a questão do aborto, Ciro afirmou: “Nosso poder, como presidente, neste assunto é nenhum. É um assunto que envolve aspectos religiosos, morais. Aborto para nós é uma tragédia. A questão não é essa, a questão é o papel do estado e confesso que a legislação como está é o alcance possível”, disse.
Primeiro debate
O primeiro debate, realizado nos estúdios da TV Band em São Paulo no mês passado, foi marcado por troca de acusações entre Lula e Bolsonaro – que ficaram na mira dos demais candidatos com menores pontuações nas pesquisas.
Em pergunta a Lula, Bolsonaro explorou escândalos de corrupção nos governos petistas. O petista disse que, quando foi presidente, fortaleceu as instituições e disse que tiveram autonomia para conduzir investigações.
E o candidato do PL à reeleição foi criticado pelos demais concorrentes após, contrariado com um questionamento, ter atacado a jornalista Vera Magalhães.
Após a repercussão negativa, Bolsonaro disse mais de uma vez, no segundo debate presidencial, que defende e respeita as mulheres. Atrás nas pesquisas, o candidato do PL tenta diminuir a rejeição entre o eleitorado feminino.
“O meu governo foi o que mais colocou machões na cadeia, defendendo as mulheres que sofrem violência pelo Brasil”, afirmou Bolsonaro neste sábado.