quinta-feira, 19 de setembro de 2024
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Curso de Economia ou de Ciências Econômicas?

“As convicções são mais inimigas da verdade que as mentiras” (Nietzsche) As conversas cotidianas e o percorrer pelas salas de aula têm deixado transparecer uma tendência em se relacionar a…

“As convicções são mais inimigas da verdade que as mentiras” (Nietzsche)

As conversas cotidianas e o percorrer pelas salas de aula têm deixado transparecer uma tendência em se relacionar a palavra (e o curso) Economia à Matemática e à Bolsa de Valores.

Tal fato se torna preocupante, à medida que afasta dos vestibulares e do corpo discente os potenciais ingressantes que se identificam com as ciências humanas, que não têm facilidade com as ciências exatas, ou que consideram a Bolsa de Valores algo muito distante de sua realidade. Além de estigmatizar um curso bastante distinto do que supõe grande parcela da população.

Para que esse problema seja minimizado, é preciso esclarecer que o curso de economia faz parte da área de ciências humanas, mais precisamente, ciências sociais aplicadas, bem como, elucidar o papel e potencialidades do curso e do formando.

Faz-se necessário mencionar o fato de que o curso oferecido pela maioria das instituições não é “Economia”, mas sim “Ciências Econômicas”. E deve-se distinguir essas duas formações. O curso de Ciências Econômicas extrapola a formação mais técnica, dirigida, e traz para a Economia a importante contribuição da Ciência. De maneira bastante sucinta, pode-se dizer que o curso toma a partir de então um caráter mais amplo de formação, estimulando a pesquisa, a reflexão, a análise da realidade, o debate e a exposição das idéias.

Compreender a realidade e a atualidade de maneira efetiva só é possível com o auxílio de outras áreas da ciência. Além das disciplinas próprias do curso de Ciências Econômicas, o curso tem disciplina de história, sociologia, matemática e estatística, português, informática e disciplinas relacionadas ao trabalho de conclusão do curso. As disciplinas que são próprias às ciências econômicas e que constituem a raiz do curso dão ao futuro profissional a capacidade de olhar com maior facilidade o funcionamento de uma indústria (empresa), seus custos e receita, o comportamento do consumidor, as contas brasileiras (PIB, Balança comercial, Balanço de pagamentos), a relação do Brasil com outros países, câmbio, moeda, juros, as teorias econômicas, natureza e forma da concorrência, enfim, uma vasta gama de conhecimento.

A história permite rebuscar a formação do sistema econômico em que vivemos hoje, o capitalismo, trazendo à luz o fato de que ele foi historicamente construído pela humanidade, e não a antecedeu. Tal área aproxima ainda o formando em ciências econômicas da edificação da economia brasileira, a construção de nossa indústria, e as razões pelas quais o Brasil apresenta as dificuldades que estão tão latentes.

A sociologia permite uma compreensão das relações e das classes sociais típicas de nosso sistema e, com a ajuda da filosofia e do direito levam à reflexão dos antagonismos, das divergências, das contradições.

Matemática e estatística, diferente do que se acredita, não são a base de formação do bacharel em economia. Mas têm papel de suma importância como instrumental de pesquisa para ilustrar, confirmar ou refutar as idéias e análises que surgem com a observação da realidade.

Já Português, informática, e as disciplinas relacionadas com a elaboração da monografia (trabalho de conclusão do curso), além de preparar o aluno teórica e metodologicamente para a pesquisa, o ensina a escrever com o rigor exigido por revistas especializadas e a se expressar de maneira clara e precisa.

Esse aparato teórico, interligado com diversas e distintas áreas, auxiliado por inúmeros instrumentos técnicos permite uma compreensão mais profunda e próxima do cotidiano e da atualidade brasileira e mundial, além de caracterizar o curso como uma ciência.

É a capacidade de formar pessoas aptas a analisar, compreender e intervir na realidade, reconhecendo que a grande maioria das alterações ocorridas na área econômica influencia na realidade de toda uma sociedade, bem como, a sensibilização dos formandos para seu papel como agente que pode auxiliar nos rumos tomados por essa mesma sociedade, que insere o curso na área de ciências humanas.

É essa formação ampla que dá aos bacharéis em ciências econômicas a possibilidade de trabalho nas mais diversas instituições da esfera privada (bancos, indústrias, comércio, empresas) ou pública (concursos), além de viabilizar e estimular o aperfeiçoamento daqueles que se interessam pela carreira acadêmica (professores, pesquisadores). É essa minuciosa análise do passado que permite uma reflexão integrada da realidade e propicia, aos profissionais dessa área, todo o aparato necessário para o sucesso, a transformação própria, e, a do futuro em algo mais próximo do que é justo e eminentemente humano.

THIAGO MARQUES MANDARINO
Mestre em Economia e Professor do Curso de Ciências Econômicas da Fundação Educacional de Fernandópolis (FEF) tmandarino@fef.br

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