sexta-feira, 20 de setembro de 2024
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Crônica de uma queda anunciada

Não é segredo algum que Eduardo Cunha foi eleito presidente da Câmara contra a vontade do governo federal e com apoio irrestrito do chamado “baixo clero”. Também não é segredo…

Não é segredo algum que Eduardo Cunha foi eleito presidente da Câmara contra a vontade do governo federal e com apoio irrestrito do chamado “baixo clero”. Também não é segredo que, a partir daí, começou a pautar não só o Congresso, mas também o governo, criando factoides e fazendo o jogo que a torcida (congressista) gosta. Nem sempre, porém, essa é a melhor estratégia, e quando o seu telhado é de vidro, pior ainda. Foi o caso de Eduardo Cunha e agora resta contar as horas e os dias para a sua queda anunciada, repetindo a tragédia de Severino Cavalcanti.

Enquanto isso, o deputado vai se mantendo, aos trancos e barrancos, no cargo ao qual se apegou de uma tal maneira que dava até a impressão de que tinha nascido nele. Ledo e ivo engano. Por enquanto, a palavra de ordem, nos bastidores da Câmara, ainda é aguardar o andamento das investigações, porém, confirmadas as denúncias de que ele manteria conta no exterior, a Inês e morta e será deflagrado o processo que certamente vai resultar na sua cassação.

A verdade é que Eduardo Cunha vai morrer pela sua própria boca, já que, numa das CPIs em andamento, jurou de pé junto que não tinha conta no exterior. Agora que são favas contadas a existência dessas contas, Cunha está em maus lençóis, até porque não vai ter como negar que esse dinheiro e originado de corrupção. Vai pesar, ainda mais, o fato de ele ter mentido na (e para a) casa. E isso, os nobres deputados não perdoam, porque caracteriza a quebra do decoro parlamentar. Menos mal que seja assim.

O curioso disso tudo é que o PSDB segue sua triste de “ficar em cima do muro”. Num primeiro momento, o líder da bancada tucana afirmou que Cunha teria o benefício da dúvida. Na sequência, foi desautorizado por outras lideranças, que disseram que a comprovação das denúncias obrigariam que ele perdesse o cargo. Logo em seguida, o tucanato de alta plumagem combinou de não jogar pedras nem blindar o deputado. Agora, já querem o seu afastamento da presidência para que ele possa se defender das acusações. Bem típico.

A verdade é que Cunha sabe que está com os dias contados, mas ameaça levar consigo mais gente e para isso vai contando com a benevolência da oposição por mais algum tempo, em razão de haver declarado seu rompimento com Dilma e principalmente por ter o poder de receber ou engavetar os pedidos de impeachment, que, aliás, vão chegando aos montes. O governo, por sua vez, fica esperando a movimentação para definir os seus próximos passos e não será nenhuma surpresa que Cunha se alie novamente aos petistas, interessados tão somente em salvar o mandato da presidente.

Enfim, a história se repete. Mudam os personagens, mas o roteiro continua igualzinho. Aliás, o final da história é conhecido de todos. A tendência, nesse momento, é que ele renuncie à presidência para tentar salvar o mandato. A lógica prevê que seja cassado. Então, não percamos as cenas dos próximos capítulos.

Henri Dias é advogado em Fernandópolis (henri@adv.oabsp.org.br)

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