quinta-feira, 19 de setembro de 2024
Pesquisar
Close this search box.

Crise hídrica já ameaça paralisar a Hidrovia Tietê-Paraná

A Hidrovia Tietê-Paraná, que recebe atualmente, 24 embarcações por dia e movimentou somente este ano 416 mil toneladas de cargas, poderá ser paralisada por causa da crise hídrica, que reduziu…

A Hidrovia Tietê-Paraná, que recebe atualmente, 24 embarcações por dia e movimentou somente este ano 416 mil toneladas de cargas, poderá ser paralisada por causa da crise hídrica, que reduziu o nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas e pode prejudicar o uso múltiplo das águas, incluindo o transporte da produção agrícola do País, já que a prioridade é a geração de energia.

O Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo (DH), que administra a via, já recebeu um alerta do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), informando da possibilidade da paralisação. O Comitê é responsável por acompanhar e avaliar permanentemente a continuidade e a segurança do suprimento eletroenergético em todo o território nacional.

O aviso ao DH deve-se à crise hídrica provocada pela falta de chuva nos últimos meses, que impactou o nível dos reservatórios. Na região de Araçatuba, o maior deles é o da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, que hoje está com 45,83% de volume útil (volume de armazenamento necessário para garantir uma vazão regularizada constante durante o período crítico de estiagem). Em junho do ano passado, este percentual era de 64,29%. Os dados são do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).

A queda é verificada também no reservatório de Três Irmãos, localizado em Pereira Barreto, que hoje está com 48,75% do volume útil ante os 64,02% registrados em junho do ano passado.

Como os reservatórios precisam de água para produzir energia, a solução pode ser utilizar mais água para garantir a quantidade mínima no reservatório das usinas, o que causa impacto no nível dos rios e, consequentemente, redução no volume máximo que pode ser transportado nas embarcações.

Para evitar a paralisação da Tietê-Paraná, o Departamento Hidroviário está estudando, junto à ANA (Agência Nacional de Águas), uma redução gradativa de calados (profundidade mínima necessária para as embarcações navegarem com cargas) no rio Tietê e, assim, permitir o escoamento dos grãos.

O limite mínimo possível dos reservatórios seria de 325,4 metros em relação ao nível do mar, segundo representantes do setor aquaviário. Abaixo disso, ainda que favoreça a geração de energia, a navegação é prejudicada.

No dia 19 de junho, conforme dados do Sindasp (Sindicato dos Armadores de Navegação Fluvial de São Paulo), o nível do reservatório de Ilha Solteira estava em 327,4 metros acima do nível do mar. Esse volume permite que os navios operem com um calado de 3 metros de profundidade na hidrovia.

Desde a semana passada, os transportadores estão utilizando um calado de 2,80 metros, o que significa que as embarcações estão transportando menos mercadorias.

Segundo o DH, por enquanto, não houve impacto na navegação da hidrovia, que registrou alta de mais de 90% no primeiro semestre deste ano. Foram 416 mil toneladas de cargas movimentadas ante a 216 mil em 2020. Os principais produtos foram soja, milho e cana.
Sobre a crise do setor elétrico, o DH afirma que o problema afeta diretamente o transporte da produção agrícola do Brasil. Segundo o órgão, sete empresas atuam no escoamento pela Tietê-Paraná. São elas a Louis Dreyfus, TNPM, EGTM, PBV, Sartco, Raizen e Arealva.

“É por isto que a Secretaria de Logística e Transportes entende que é importantíssimo mudar a matriz energética do país para diminuir a dependência das hidroelétricas”, afirmou a assessoria de imprensa do órgão em nota enviada à reportagem. “A Secretaria acredita que tem faltado uma ação mais firme de planejamento para atenuar o problema, que é recorrente e vem se agravando em períodos mais recentes”, completou.

No período de 2014 a 2016, a hidrovia teve de ser interditada por causa da crise hídrica, causando um prejuízo de R$ 1 bilhão às empresas de navegação e 1,6 mil demissões no setor, segundo a CNT (Confederação Nacional do Transporte).

Notícias relacionadas