sexta, 15 de novembro de 2024
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Crise financeira já atinge filantropia e gera demissões no Lar São Vicente

Uma entidade catanduvense fundada em 1939 passa por fase de reestruturação e previne-se contra a crise financeira mundial. A Associação de Assistência São Vicente de Paulo foi forçada a fazer…

Uma entidade catanduvense fundada em 1939 passa por fase de reestruturação e previne-se contra a crise financeira mundial. A Associação de Assistência São Vicente de Paulo foi forçada a fazer cortes em seu quadro funcional devido à redução na colaboração de empresas. O presidente da entidade, Francisco Batista de Souza (Careca), que é vereador pelo PDT, em entrevista ao Notícia da Manhã, disse que entende a crise, mas não pode deixar que faltem medicamento e alimento aos idosos.

“Fomos forçados a exonerar seis funcionários e, nessa reestruturação, temos que cortar despesas e reduzir gastos, mas não podemos cortar medicamento e alimento”, ressalta, ao salientar que a Vila São Vicente, como é conhecida, está com 128 idosos e não há mais vagas. “É difícil o dia que não vemos uma ou duas pessoas pedindo vaga, principalmente acamadas”.

Careca fala que a Vila não está em crise, “mas temos que nos prevenir para não sermos atingidos”. A entidade não tem renda própria e sustenta-se por meio de doações. “Temos que fazer promoção de eventos para arrecadar fundos e, em março próximo, teremos um, aqui na Vila”, anuncia. Além de eventos, a Vila tem serviço de telermaketing. Embora consiga equilibrar receita e despesa da entidade, Careca admite que “nesses três primeiros meses, as coisas vão apertar”, referindo-se à crise nas empresas.

De acordo com o presidente, a Vila tem um custo mensal de cerca de R$ 65 mil. “A receita bate por aí, não estamos em crise”, frisa. Entretanto, segundo indica o balancete de dezembro último, as despesas ultrapassaram R$ 90 mil. “São férias, 13º, rescisão de contrato e outros”, emenda.

A entidade tinha 32 funcionários. Com as demissões, ficaram 26, dentre enfermeiros, terapeutas, psicóloga, médicos, dentistas, fisioterapeutas, podóloga. Dentre as despesas com idosos, incluem-se material de higiene e limpeza. “Gastamos de R$ 4 mil a R$ 5 mil por mês desse material, e até R$ 5 mil por mês com fraldas. Tem paciente que usa quatro a cinco fraldas por dia”, informa.

Energia elétrica também é despesa elevada na Vila. Segundo o presidente, a média é de R$ 2,8 mil por mês, porém, em 16 de janeiro, vencerá uma conta de R$ 2.978. “A Companhia nos dá uma doação de R$ 425 por mês”, referindo-se à Companhia Nacional de Energia Elétrica. A Vila tem freezers, geladeira e câmara fria.

Ajuda
Vila São Vicente de Paulo abriga 40 idosos acamados

Careca diz que, atualmente, a Vila tem 40 idosos acamados. Dentre esses, 25 não tem aposentadoria. “Um acamado custa mais de R$ 1 mil por mês para a entidade. Aquele que é aposentado tem benefício de R$ 415 por mês. A entidade fica com o salário, mas não é suficiente”, explica.

Além de 128 idosos, a Vila, com seus 14.800 metros quadrados, abriga várias áreas com alojamento de primeira qualidade. São 24 casas que dão moradia, também, para 12 mães e 28 filhos, uma creche para 50 crianças oriundas da periferia. Careca abre parênteses sobre a creche. “Temos convênio com a Prefeitura e com a Secretaria de Educação, que nos dão professores e merenda. A entidade dá material de higiene e limpeza, funcionário para serviços gerais e mais a manutenção”.

Dois convênios foram firmados, recentemente, com valores de R$ 30 mil cada, com o Governo Estadual, verbas conseguidas pelo deputado Geraldo Vinholi (PDT). O primeiro convênio, segundo Careca, é para a colocação de hidrante, na Vila. “Está orçado em R$ 48 mil; a entidade tem que colocar mais R$ 18 mil para colocá-lo”. Com o outro convênio, de R$ 30 mil, a Vila comprou uma máquina industrial para a lavanderia. “Custou R$ 35,6 mil e a entidade teve de colocar mais R$ 5,6 mil”, registra.

Relato
Daiane: “Aqui, é o mesmo que ganhar na loteria”, diz mãe.

Ontem, na entrada da Vila, Daiane Cristina da Silva, e sua tia aguardavam resposta de Careca sobre seu pedido de conseguir casa para ela e os três filhos. O diálogo foi rápido, pois a mãe, de 22 anos, já havia morado na Vila e tinha boas referências. Vítima de briga com o marido, Daiane falou que não tinha para onde ir com os filhos. Seu pai, desempregado, não tinha como abrigá-la.

Antes de dar resposta positiva, Careca fez recomendações. “Aqui, você trata de seus filhos, porque procuramos dar a todos uma vida digna, e você tem que dar valor a tudo isso. A entidade tem regulamento, se descumprir, terá dez dias para desocupar a casa”. Em troca, Daiane tem que trabalhar na Vila. “Aqui, é o mesmo que ganhar na loteria”, comentou ao saber que poderia trazer a mudança, que a própria Vila se incumbe de buscar.

São cinco refeições servidas ao dia: café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e chá e bolacha.

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