Há uma semana, o envenenamento de animais de estimação voltou à tona entre donos e protetores com o caso do miolo de pão recheado com chumbinho que poderia ter levado à morte o cachorro da jornalista Barbara Gancia, que comeu o veneno durante um passeio no Itaim-Bibi, na zona sul da capital.
Ziggy, um dachshund pelo duro, já está em casa, segundo relatos da jornalista nas redes sociais, mas viveu momentos de desespero. “Ele começou a se retorcer, babar, vomitar, muita diarreia e uivava alto, aparentemente com dor intensa”, contou Barbara na rede.
Os casos de envenenamento de animais em casa ou na rua não são apenas comuns, mas crescentes. Levantamento das duas unidades do Hospital Veterinário Público de São Paulo aponta que o número de casos saltou de 43, em 2013, para 67 em 2014. Neste ano, foram 12. Porém, os dados não refletem a real situação na capital, segundo Daniel Jarrouge, diretor da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa), que gerencia as unidades. “O número de envenenamentos é muito maior. A intoxicação é uma emergência, e o animal pode morrer em duas ou três horas. O índice de atendimento é baixo porque o animal morre antes de chegar ao hospital.”
Jarrouge afirma que o chumbinho, usado para matar ratos, e a warfarina, medicamento anticoagulante que causa hemorragia quando consumido em altas doses, são os principais produtos usados no envenenamento de cães e gatos.Foi após uma luta contra o tempo que o arquiteto Amaury Cauê, de 27 anos, perdeu, em janeiro, o gato Ônix, de 1 ano e meio. “Ele e outro filhote que eu tenho foram envenenados. Cheguei em casa e vi um bolo de carne crua, mas o Ônix comeu e saiu. Quando eu o encontrei, ele já estava muito mal”, afirma.
Cauê conta que conseguiu salvar apenas Hipster, o animal mais novo. Como os casos estavam frequentes na região onde ele mora, em Pinheiros, na zona oeste, o arquiteto e os vizinhos resolveram agir. “Meu gato era preto, e já tinha acontecido de sumirem com um outro animal da mesma cor. Quando outro gato morreu envenenado, a gente contratou um segurança que fica observando a rua.”
No mês passado, a psicóloga Graziele da Silva de Andrade, de 32 anos, perdeu o sexto gato desde que começou a ter animais de estimação, há 20 anos. “Foram seis que morreram por envenenamento no meu quintal, isso sem contar os que sumiram e que podem ter sido envenenados. O último que morreu foi o Branco. Ele tinha 2 anos.”
Graziele diz que o animal foi encontrado na casa de uma vizinha, em Itaquera, na zona leste, foi socorrido, mas não resistiu. “As pessoas que não gostam de bicho têm de respeitar. Deixar o bichinho morrer nos braços da gente é horrível. É a mesma dor de perder um ente querido.”
UTI. O gato da representante comercial Idely Florence Lelot, de 64 anos, quase morreu há dois anos após dar mais uma de suas escapadas para um passeio. “Ele voltou para casa arrebentado e nós o levamos para o veterinário. Ele chegou lá quase sem os sinais vitais e ficou cinco dias internado na UTI. Não tenho ideia de quem pode ter feito isso.” Idely mora no Brooklin, na zona sul.
Apesar da gravidade do quadro, A-breu, que recebeu esse nome por ser preto e por ter sido encontrado em um local escuro quando era um filhote, não ficou com sequelas. “Ele continua ótimo e arteiro. Todo mundo se surpreendeu com a recuperação dele”, comemora a representante comercial.