Um grupo de pesquisadores da Universidade de Viena, na Áustria, concluiu que um adolescente de 12 anos que apresentou ereção por mais de 24 horas teve o problema devido à covid. O caso foi publicado no periódico Urology e levantou a relação entre o coronavírus e quadros de microtromboses, observados desde o início da pandemia.
Ereções involuntárias e prolongadas são chamadas de priapismo e podem causar danos ao tecido peniano, levando à disfunção erétil e até necrose do membro. No órgão, a circulação do sangue entre artérias e veias é chamada de terminal. “O priapismo é a congestão por dificuldade de fazer o sangue retornar, é como se ele entrasse pelas artérias e não pudesse ser escoado pelas veias”, explica o urologista pediátrico Ubirajara Barroso Júnior, coordenador de urologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e membro titular da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia).
Segundo o médico, no caso de uma pessoa com covid, essa dificuldade para o retorno do sangue pode acontecer pois, em alguns pacientes, a doença provocada pelo coronavírus leva à formação de coágulos (trombos) na corrente sanguínea, que podem obstruir veias e artérias.
O priapismo associado à covid-19 já foi relatado em pessoas mais velhas e com quadros graves da doença —um paciente, por exemplo, demorou para buscar ajuda médica para tratar a ereção prolongada e ficou cinco dias internado.
Quais os tipos e causas de priapismo?
Os casos podem ser isquêmicos, quando a veia entope e impede que o sangue “saia” do pênis, ou de alto fluxo, provocado por lesão vascular e caracterizado por ereção menos rígida. Traumas e certas medicações (como alguns antipsicóticos) podem induzir o priapismo, além de condições hematológicas (“doenças no sangue”) —entre elas, talassemia, leucemia linfoblástica aguda e leucemia mieloide crônica.
Uma das principais causas, inclusive, é a anemia falciforme. Em pessoas com a condição, defeitos nas hemácias impedem que elas se moldem ao passar por pequenos vasos, causando aglomerações e podendo levar à lesão. “Às vezes, quando entopem pequenas artérias, causam até isquemia [obstrução parcial ou total do vaso]. No caso das veias, podem levar ao priapismo em crianças e adultos”, alerta o urologista da SBU.
Covid pode ter causado hipercoagulação
Segundo a equipe da Universidade de Viena, a covid-19 pode ter gerado a ereção involuntária por favorecer o aumento da viscosidade do sangue, hipercoagulação e a possibilidade de danificar vasos.
“As apresentações clínica e laboratorial em nosso paciente sugerem fortemente priapismo isquêmico relacionado à infecção pelo novo coronavírus. Esta emergência médica deve ser reconhecida pelos profissionais de saúde e tratada imediatamente, para prevenir a disfunção erétil”, escreveram os médicos.
A demora em buscar ajuda pode trazer danos irreparáveis e, em alguns casos, até mesmo necrose do órgão. Em quadros de disfunção, há danos na parte vascular e do tecido, resultados do endurecimento prolongado.
“Em uma ereção, a ativação do nervo causa desejo erótico e o corpo peniano se distende e acumula o sangue, mas para isso é preciso que os vasos não tenham obstruções e sejam funcionais. Além do tecido próprio da região, que permite dureza e elasticidade necessárias para rigidez e a penetração”, comenta Barroso Júnior. “Caso demore muito tempo para escoar o sangue, o aumento de pressão no pênis causa reações danosas ao tecido e o órgão entra em fibrose, pelo tecido distendido.”
Evolução do paciente
No relato, o grupo descreve diferentes abordagens para controlar o quadro. Primeiro, realizou punção, mas interrompeu o procedimento por dores. Após 24 horas, o jovem ainda apresentava priapismo recorrente e foram usadas compressas de gelo na região.
Depois de 3 dias, ele passou por nova punção, sequências de aspiração e injeções de substâncias para reduzir a pressão no local. Ele teve alta após mais 24 horas de observação e passou por exames para avaliar doenças hematológicas, que foram descartadas. Em oito semanas, o paciente confirmou apenas ereções fisiológicas.
Participe de pesquisa sobre comportamento sexual da USP
Para entender o comportamento sexual em diversas regiões do mundo, o IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP), ao lado de outros 45 países, está realizando um grande estudo sobre o tema. A ideia é examinar diferentes comportamentos sexuais, incluindo aspectos positivos, como a satisfação e o desejo sexual, e os negativos, como os riscos e problemas do funcionamento sexual.
Um dos questionários já está disponível e pode ser respondido até o final de fevereiro de 2022 —qualquer pessoa a partir de 18 anos pode participar.