Exatos cem dias após ter sido diagnosticada pela primeira vez no Brasil, a doença primeiro chamada de “gripezinha” já mata mais de um brasileiro a cada minuto no país.
Com um salto de 1.473 óbitos por Covid-19 registrados no país nas últimas 24 horas, o Brasil cruzou a marca de 34 mil mortes em decorrência do novo coronavírus e superou a Itália, país que simbolizou primeiro a tragédia da pandemia, tornando-se nesta quinta-feira (4) o terceiro no ranking de óbitos resultantes da doença no mundo.
Neste momento, apenas os Estados Unidos, com 107 mil mortes, e o Reino Unido, com quase 40 mil, estão à frente.
Foram 30.925 novos casos de coronavírus registrados apenas nas últimas 24 horas, informou o Ministério da Saúde com um atraso de mais de três horas em relação ao horário programado. Ao todo, são 34.021 mortes e 614.941 casos confirmados no país até agora, com outras 4.159 mortes em investigação.
O numero pode ser maior, sobretudo nos casos, já que o país é um dos que tem os menores índices de testagem do mundo, limitando os exames no sistema público a casos graves e profissionais da saúde e da segurança.
Esta quinta foi o segundo dia seguido com recorde no número de mortes. Na quarta-feira (3), foram registradas 1.349 óbitos em um período de 24 horas.
Nas últimas semana, o Brasil, que registrou seu primeiro diagnóstico em 25 de fevereiro e a primeira morte decorrente da doença em 16 de março, foi superando um a um os países que marcaram a emergência da crise, inclusive Espanha e França, e caminha para superar também o Reino Unido.
Diferentemente dos demais países com grande numero de casos, porém, o Brasil ainda não começou a achatar a curva de disseminação da doença. Ou seja, o pico de casos, quando eles chegam a seu auge para então começar a regredir, não foi atingido, indicando que a situação vai piorar nas próximas semanas.
Esse salto ocorre em um momento em que governadores e prefeitos, pressionados pela queda abrupta na atividade econômica, começam a afrouxar restrições de isolamento social que vinham contendo parte do crescimento dos casos. Coincide também com a disseminação do discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que a paralisação da atividade econômica traria consequências mais graves do que a pandemia em si, apesar dos repetidos alertas de médicos e cientistas para os riscos.
A quarentena tem sido recomendada como um meio de os estados prepararem melhor seus sistemas hospitalares para receber os doentes de Covid-19. Nesta semana, segundo levantamento feito pela Folha, ao menos cinco estados tinham mais de 90% de seus leitos de UTI para pacientes de coronavírus ocupados, o que coloca novos doentes em risco de ficarem sem vagas.
Assim como acontece desde o início da pandemia, o estado de São Paulo concentra os casos confirmados da Covid-19. São agora 8.560 óbitos e 129.200 pessoas infectadas pela doença. O Rio de Janeiro é o segundo estado com maior número de óbitos: 6.327. Na sequência aparecem Ceará (3.813), Pará (3.416) e Pernambuco (3.134).
O balanço do Ministério da Saúde também indica que 254.963 pessoas se recuperaram da Covid-19, o que representa 41,5% do total de infectados. Os demais casos estão em fase de acompanhamento da doença.
Também nesta quinta-feira, gráficos apresentados pelo Ministério da Saúde com referências às duas semanas anteriores à atual mostram que nenhuma região brasileira apresenta indícios de estabilização, tanto na quantidade de novos casos como de óbitos.
“Ao se comparar as semanas 21 e 22, a gente ainda percebe um aumento [na quantidade de casos e mortes] nessas semanas”, disse o secretário substituto de vigilância em saúde do ministério, Eduardo Macário.
Por outro lado, alguns estados brasileiros mostram os primeiros sinais de estabilização e queda. O caso mais visível é Pernambuco, o quinto com maior número de mortes.
Comparando-se a semana passada com a anterior, a curva de casos e óbitos é decrescente, como na região metropolitana do Recife. Há indícios também de estabilização nas regiões metropolitanas de Manaus (AM) e Belém (PA).
A reabertura das atividades em vários desses estados, porem, põe a tendência em risco, podendo alimentar nova onda de disseminação do vírus.