Contra uma provável candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi aconselhado a se antecipar na articulação à reeleição para evitar que o petista avance sobre grupos de eleitores que apoiaram a sua eleição em 2018.
Antes mesmo de o STF (Supremo Tribunal Federal) ter tornado Lula elegível para 2022, o petista já vinha mantendo diálogo informal com setores empresariais e com denominações católicas e, agora, tem tentado uma aproximação com o eleitorado evagélico, que ainda representa parcela relevante do apoio a Bolsonaro.
O movimento do petista preocupou deputados e senadores governistas que, desde o início deste mês, têm alertado o presidente sobre a necessidade de ele fazer uma contraofensiva.
O jantar com um grupo de empresários, promovido no início de abril, foi o primeiro movimento do presidente na tentativa de desarmar uma ameaça de debandada.
A ideia é que o encontro, articulado pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, com a ajuda do empresário João Camargo (Grupo Alpha), seja realizado bimestralmente a partir de agora. E que, nas próximas edições, inclua perfis diferentes de empresários, muitos dos quais não afinados ao presidente.
Um dos nomes que está no radar do governo, segundo assessores palacianos, é Josué Alencar, da Coteminas. Lula já sinalizou a integrantes do centrão o interesse em ter como candidato a vice o filho do seu vice-presidente José Alencar e empresário filiado ao PL, partido da base aliada de Bolsonaro.
Além do esforço para evitar perda de apoio no setor empresarial, o presidente avalia fazer, no segundo semestre, uma espécie de périplo por templos evangélicos e reforçar já neste momento que, desta vez, cumprirá a promessa de indicar um jurista “terrivelmente evangélico” para o Supremo.
Adventista, o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Humberto Martins, tem ganhado força junto à equipe do presidente e a denominações evangélicas para substituir o ministro Marco Aurélio Mello, que completará 75 anos em julho e deixará o STF.
Como mostrou a última edição do Datafolha, eleitores que se identificam como evangélicos ou empresários estão entre os que menos rejeitam o governo.
O receio, no entanto, é que o agravamento da pandemia e a escalada da crise política com a instalação da CPI da Covid possam levar parcela desse eleitorado a migrar para candidaturas oposicionistas.
Para evitar esse movimento, diante da queda de aprovação do governo, Bolsonaro voltou a encampar a retórica anticorrupção, usada por ele na última campanha eleitoral.
A ideia, que ele começou a explorar na sua live semanal na última quinta-feira (15), é associar uma eventual vitória de Lula à ameaça de novos escândalos de corrupção no país.
“Se o Lula voltar pelo voto direto, pelo voto auditável, tudo bem. Agora, veja qual vai ser o futuro do Brasil com o tipo de gente que ele vai trazer para dentro da Presidência”, afirmou Bolsonaro.
“Querem criticar meu governo, fiquem à vontade, mas puxem um pouquinho pela memória para ver como o Brasil era conduzido no passado”, disse.
Segundo deputados governistas, pesquisas recentes feitas por partidos da base aliada mostraram que a corrupção ainda é um assunto que preocupa o brasileiro. Elas apontam, contudo, que o tema se tornou lateral diante da preocupação com a saúde pública.
Além disso, integrantes do centrão ressaltam que, após quatro anos de governo, o discurso anticorrupção encampado por Bolsonaro tende a não ser forte como antes por causa de casos envolvendo a família do presidente, como a investigação que apura se o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) liderava “esquema de rachadinha” quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.
Nesta sexta-feira (16), a retórica anticorrupção também foi explorada pelo vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB). Segundo o general, o Supremo anulou as acusações contra Lula, não os crimes que teriam sido cometidos.
“Os crimes estão aí. Foi anulado o processo. Estes crimes foram julgados em três instâncias, três instâncias condenaram. Então, não dá para apagar os crimes. Você não está passando uma borracha nos atos que aconteceram, está passando uma borracha no processo”, afirmou.
A avaliação no Planalto é que se tornou inevitável que a eleição seja polarizada entre Bolsonaro e Lula, o que permite ao presidente disputar em um cenário no qual ele tem mais familiaridade, com a adoção de um discurso radical de defesa da pauta de costumes e de crítica a bandeiras progressistas.
Para assessores palacianos, em uma campanha contra um candidato de centro, Bolsonaro precisaria moderar seu discurso político para ter mais chances de avançar sobre eleitores que o apoiaram na eleição passada, como os liberais e os lava-jatistas.
Para deputados governistas, no entanto, uma polarização não significa uma vitória fácil do presidente. Eles lembram que uma coisa é enfrentar um candidato como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e outra é ser adversário de Lula, que conta com “recall eleitoral”.
Por isso, diferentemente da última campanha, Bolsonaro tem sido aconselhado a contratar um marqueteiro, que construa um discurso efetivo na tentativa de reduzir o dano de imagem do presidente causado pela pandemia e que consiga apresentá-lo como um nome mais confiável que Lula.
Assessores presidenciais também dizem que Bolsonaro já começou a sinalizar nomes que gostaria de escalar para a equipe de campanha, como o ministro da Secretaria-Geral, Onyx Lorenzoni —deputado federal do DEM-RS licenciado— e o ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF).
Para melhorar a relação com o setor econômico, auxiliares defendem a colaboração do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, e do empresário Fábio Wajngarten, ex-chefe da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social).
No caso de Onyx e de Skaf, deputados governistas lembram que ambos têm pretensões políticas no Rio Grande do Sul e em São Paulo, respectivamente, o que pode inviabilizar a presença de ambos na equipe de campanha presidencial de Bolsonaro.