


A conveniência dos alimentos ultraprocessados tem levado os brasileiros a consumi-los cada vez mais, apesar dos riscos à saúde. Um estudo recente, divulgado nesta sexta-feira, 27 de junho, na Revista de Saúde Pública, revela que esses produtos estão ligados a pelo menos 32 problemas de saúde diferentes. Em Fernandópolis, a situação é ainda mais preocupante: 22,2% da alimentação dos moradores é composta por ultraprocessados, índice acima da média nacional de 20%.

A pesquisa, realizada pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP), utilizou dados do Censo Demográfico e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE. Os resultados indicam que o consumo elevado de ultraprocessados está associado a fatores como a urbanização e a renda. Cidades com mais de 15% da população recebendo acima de cinco salários mínimos per capita, por exemplo, mostram que os ultraprocessados representam mais de 20% das calorias diárias.
Disparidades Regionais e Debate sobre Tributação
Leandro Cacau, pesquisador do Nupens e principal autor do estudo, destacou a grande diferença no consumo entre os municípios. Segundo ele, as regiões Sul e Sudeste concentram as maiores estimativas, enquanto o consumo é mais baixo no Norte e Nordeste. No entanto, o menor consumo nessas últimas regiões não significa, necessariamente, uma alimentação mais saudável, já que famílias de baixa renda e em áreas rurais tendem a consumir alimentos básicos como arroz, feijão e açúcar, mas com poucas frutas, legumes e verduras.
Para tentar mudar esse cenário, a Reforma Tributária está debatendo a inclusão de um imposto seletivo sobre os produtos ultraprocessados, similar ao aplicado ao tabaco. A ideia é desestimular o consumo desses alimentos e, ao mesmo tempo, tornar os alimentos naturais mais acessíveis financeiramente.
Os ultraprocessados são produzidos em larga escala por meio de técnicas industriais complexas e contêm ingredientes artificiais, aditivos químicos e substâncias incomuns em cozinhas domésticas. O Ministério da Saúde aponta alguns exemplos desses ingredientes: gordura vegetal hidrogenada, xarope de frutose, emulsificantes, maltodextrina, xarope de milho, espessantes, corantes e realçadores de sabor.
Estudos ao redor do mundo têm documentado a relação entre o consumo frequente desses alimentos e diversas doenças, como obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, depressão e câncer.
