O skate é um esporte no qual crianças, adolescentes e adultos dividem as mesmas pistas e competem lado a lado. Não à toa, a seleção brasileira reúne de Letícia Bufoni (27 anos) e Pedro Barros (25) a Isadora Pacheco (15) e Rayssa Leal (12). Até por isso, a convocação de uma seleção sub-15 da modalidade chama atenção. Segundo a Confederação Brasileira de Skate (CBSk), o projeto é inédito no mundo.
“Na verdade, não existe a categoria internacionalmente. Criamos o critério do sub-15, muito mais por entender que é quem podemos ajudar mais nesse momento de crescimento e evolução do skate. Acho que saímos na frente, sem dúvidas”, diz o presidente da entidade, Eduardo Musa.
Em julho, o dirigente comentou sobre a tendência de se categorizar as competições de skate após a estreia olímpica da modalidade, nos Jogos de Tóquio (Japão), em 2021: “Acho que isso vai acontecer, mas é muito mais pelas gerações que vêm com essa cabeça [de ser skatista de competição], e é natural que aconteça, porque o skate está ganhando um ambiente competitivo. A grande maioria dos que você vê na seleção, talvez 100%, não começaram no skate para competir, mas por diversão”.
Segundo a confederação, os convocados para a seleção sub-15 terão suporte médico, fisioterápico e psicológico. “A diferença do trabalho com crianças é que temos que ajustar as intervenções à fase de desenvolvimento delas. Isso envolve a escolha dos objetivos e a linguagem. Além disso, a psicologia do esporte com crianças envolve uma intervenção direta com os pais”, diz a psicóloga da entidade, Juliane Fechio.
“Ter um trabalho [psicológico] de base é muito positivo, pois, ao mesmo tempo em que as crianças poderão evoluir como atletas, poderemos começar desde cedo a desenvolver habilidades importantes para o sucesso esportivo e preservar o prazer pela modalidade. Para uma criança se manter no esporte e chegar a um alto desempenho, ela precisa se divertir”, completa Juliane.
A seleção sub-15 abarca os dois estilos olímpicas do skate: street (praticado em obstáculos de rua, como escadarias ou corrimões) e park (cuja pista tem um formato similar a de uma piscina, com paredes e elementos de rua), com oito vagas por estilo, sendo quatro no masculino e quatro no feminino. A primeira convocação, divulgada na última quinta (27) à noite, tem 15 atletas. O catarinense Kalani Konig, de 11 anos, integra as equipes de street e park.
Conforme a CBSk, as duas primeiras vagas de cada vertente são dos melhores colocados nos rankings do circuito nacional, com idade até 15 anos (completados no ano corrente) e que não integrem a seleção principal. A terceira leva em conta os rankings brasileiros amador/feminino 1 e iniciante/feminino 2. Já a quarta e última vaga será decidida por índice técnico.
Os estilos terão consultores técnicos diferentes. No park, o nome escolhido foi o de Fábio Castilho, skatista que dá nome à pista pública da cidade de Cabo Frio (RJ), onde nasceu. “Fiz bacharelado em Educação Física, então tenho toda uma bagagem de periodizar o atleta. Já venho trabalhando com aulas para a base, com a criançada. Vai ter que ser um comprometimento de todos, uma soma de forças. Durante esses 28 anos que ando de skate, me senti como se estivesse pisado no skate pela primeira vez”, afirma.
Já no street, o consultor será o também skatista Allan Mesquita. “Faço esse trabalho com a molecada há muito tempo. Então, nada mais é do que pegar toda a nossa bagagem, adquirida nesses anos de muito suor e dificuldade de se manter no skate e passar isso de uma forma suave. Não exigir muito nesse sentido de competição, mas trabalhar e desenvolver o potencial no máximo que a gente puder de cada um”, conclui.