A presidente do Conselho da Comunidade Negra de Votuporanga, Maria Madalena Moreira, lamentou a morte do ativista Adias Nascimento, registrada na terça-feira.
“Ex-deputado e ex-senador, Abdias Nascimento foi precursor do movimento negro no Brasil, por isso devemos a ele grande parte das conquistas obtidas pela comunidade negra”, revela. Aos 97 anos, Abdias estava internado havia dois meses no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, devido a complicações decorrentes de diabetes.
“Embora esperada, visto a idade avançada, a morte de Abdias dói muito em todos os que acreditam e defendem a igualdade humana e têm nojo do racismo”, lamenta Madalena. “Para nós, da Comunidade Negra, Abdias do Nascimento foi um brasileiro negro, que amou a arte, o conhecimento e as pessoas”. Um dos mais notáveis feitos do ativista aconteceu em 1941 quando, em sua luta contra o Estado Novo e contra o racismo, organizou na Penitenciária de Carandiru, o Teatro do Sentenciado, formado por um grupo de presos que escreviam, dirigiam e interpretavam.
Em julho do ano passado, após a sanção do Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/10), Abdias escreveu carta aberta ao presidente Lula com reparos à nova norma. “Não me cabe apoiar ou aplaudir a legislação do País. Cabe-me, sim, apoiar e aplaudir as forças políticas que se dedicam a combater o racismo. Isto farei sempre”, afirmou.
Abdias Nascimento
Professor benemérito da State University of New York, recebeu título de doutor honoris causa pela Universidade de Brasília (UnB) e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em função da militância no combate à discriminação racial. Recebeu diversas premiações, como o Prêmio Unesco em 2001, na categoria Direitos Humanos e Cultura de Paz.
Professor e artista plástico, Abdias Nascimento nasceu em Franca (SP). Nos anos 40, fundou o Teatro Experimental do Negro e o jornal Quilombo, no Rio de Janeiro. Durante o regime militar, exilou-se nos Estados Unidos.
No retorno ao Brasil, exerceu mandato de deputado federal entre 1983 e 1987 e de senador de 1997 a 1999, além de ter criado e ocupado nos anos 90 a Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras, no governo fluminense.