A comissão do Ministério da Educação (MEC) criada para rever o funcionamento dos cursos de jornalismo no país reuniu-se nesta quinta-feira pela primeira vez, em Brasília. O presidente da comissão, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) José Marques de Melo, anunciou que serão realizadas três audiências públicas, no Rio de Janeiro, em Recife e São Paulo, a partir do mês que vem. Ainda não há uma definição clara, no entanto, sobre o que mudar nos currículos. O MEC pretende revisar também as diretrizes curriculares dos cursos de engenharia e tecnologia da informação.
Formada por oito pessoas, sete delas do meio acadêmico, a comissão presidida por Marques de Melo pretende encerrar sua tarefa no dia 3 de junho. Nessa data, ela deverá concluir uma proposta de revisão das diretrizes dos cursos de jornalismo a ser encaminhada ao Conselho Nacional de Educação (CNE). A palavra final caberá ao conselho e ao ministro Fernando Haddad. Na página do MEC na internet (www.mec.gov.br), haverá espaço para sugestões.
– Já começamos a pensar em várias coisas, mas não temos solução ainda. A minha ideia é não ter fórmula pronta. Vamos ouvir a sociedade. Jornalista tem mania de saber tudo, ser dono da verdade. Temos que superar isso.
A secretária de Educação Superior do MEC, Maria Paula Dallari Bucci, disse que o curso de jornalismo, na forma como está estruturado hoje, carece de especificidade. Um dos problemas, segundo ela, está no fato de que o jornalismo é uma habilitação do curso de Comunicação Social, que engloba as carreiras de publicidade e relações públicas.
– Jornalismo e publicidade são coisas totalmente distintas – reforçou Marques de Melo.
Maria Paula afirmou que o ministério trabalha com a ideia de manter o jornalismo como curso de graduação. Entre os membros da comissão, porém, há quem defenda que o jornalismo vire uma especialização, com duração de um a dois anos, oferecida a diplomados de qualquer outra área do ensino superior.
A primeira audiência pública está marcada para 20 de março, no Rio, com foco no meio acadêmico. A segunda será em Recife, em 24 de abril, destinada às empresas e sindicatos. A terceira será em 12 de maio, em São Paulo, voltada para a sociedade.
A comissão não discute a obrigatoriedade ou não do diploma de jornalista para o exercício profissional. A questão aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). A secretária disse que a comissão terá liberdade total para formular sua proposta. As diretrizes servem de base para as questões do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade):
– É um curso de graduação, discutem-se caminhos formativos. Quem vai decidir é a comissão.
Fundador do curso de jornalismo da USP e atualmente professor de pós-graduação da Universidade Metodista (SP), Marques de Melo, de 65 anos, é contra a ideia de currículo mínimo nacional. Segundo ele, cada região deve ter liberdade para definir as disciplinas do curso.
O professor propõe que o estudante de jornalismo possa dedicar grande parte do curso a outra área do conhecimento. Assim, um calouro de jornalismo teria a opção de escolher outra área, como artes ou direito, cursando-as concomitantemente. Ao final, seria diplomado em jornalismo. Outro desafio, segundo ele, é dosar a formação prática e teórica. Para Marques de Melo, a maioria dos cursos exagera na parte teórica:
– Hoje os cursos estão mais preocupados em formar comunicólogos do que profissionais de comunicação.
Os demais integrantes da comissão são Alfredo Eurico Vizeu Pereira Júnior (Universidade Federal de Pernambuco), Eduardo Barreto Vianna Meditsch (Universidade Federal de Santa Catarina), Lúcia Maria Araújo (Canal Futura), Luiz Gonzaga Motta (Universidade de Brasília), Manuel Carlos da Conceição Chaparro (Universidade de São Paulo), Sérgio Augusto Soares Mattos (Universidade Federal do Recôncavo Baiano) e Sônia Virgínia Moreira (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).