O momento bom do mercado de trabalho no Brasil tem gerado dificuldades para alguns setores. O comércio é um deles.
De um lado do supermercado, o caixa sem operador. Do outro, a fila que não anda. “Você fica perdendo tempo na fila e tem um caixa fechado”, reclama uma cliente.
A empresa põe propaganda na porta, mas não consegue preencher as 300 vagas disponíveis; a maioria para estoquista e caixa.
Algumas empresas não estão conseguindo contornar o problema nem oferecendo salário um pouco acima da média de mercado. Uma rede com nove mil funcionários pode ser a primeira de Minas Gerais a adotar uma medida polêmica: acabar de vez com o expediente aos domingos.
“A nossa mão de obra é nova, em grande parte feminina, e a gente sabe que as pessoas precisam de um convívio familiar”, explica Gisele Fonseca, coordenadora de Recursos Humanos.
De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados, a taxa de rotatividade em algumas funções, como caixas e empacotadores, é muito alta. Chega a 10%. Está faltando gente também para uma função essencial no comércio: a de vendedor.
“Faz a entrevista. O pessoal vem na primeira semana, fica e aí já não volta mais”, conta a gerente comercial Valmir de Souza.
O déficit é provocado pela concorrência de outros setores, como a construção civil e a indústria. Uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas mostra que 80% dos empresários reclamam da dificuldade de contratar profissionais. Em uma loja de shopping, em Belo Horizonte, a dona tem que pôr a mão na massa para não perder faturamento.
“Até que você selecione alguém, treine, faça com que essa pessoa se interesse e comece a exercer a função plenamente, são três meses. Então realmente está uma carência bem grande”, diz a empresária Valéria Abdo.