Em meio à discussão e a judicialização do lockdown decretado pelo prefeito João Dado (PSD) aos domingos em Votuporanga, o jornal A Cidade ouviu os principais afetados pele decisão: os comerciantes. Já judiados pelas ações de isolamento judicial desde o mês de março, muitos perderão a principal parte da única fonte de renda que lhes restou.
É o que revela a empresário Diego Anoni, responsável pelo “Seu Santo Bar”. Segundo ele, além de ineficaz, a medida prejudicará ainda mais o setor que foi mais afetado até agora, o de bares, lanchonetes e restaurantes, que estão impedidos de atender presencialmente desde março.
“O domingo é o dia de maior isolamento social na cidade, então fazer lockdown é simplesmente ineficaz em relação à doença, e para nós do delivery vai prejudicar muito. Agora imagina, um ramo de atividade que já está parado há 120 dias e ainda vai fechar no seu melhor dia. Nós já estamos com uma queda de faturamento de mais de 90% e dos 10% restantes querem tirar o dia mais importante, aí não vai ter quem aguente mesmo. Somos o único setor que até agora não teve nenhuma chance de reabrir, os outros abriram, fecharam, e nós não. O delivery nunca foi nosso foco, ele surgiu como uma opção para que a gente consiga sobreviver nesse período e até isso vão tirar de nós”, disse ele.
Na mesma linha de raciocínio segue o comerciante Marcos Rogério Braz, responsável pelo Summers Delivery. Ele disse que não consegue entender a decisão de suspender as entregas deliverys, sendo que foi uma das poucas atividades mantidas desde o início da quarentena no estado.
“Não faz muito sentido, pois foi feito um estudo e na fase vermelha provou-se que os deliverys poderia continuar trabalhando, aliás, foi assim desde o início da quarentena. Tivemos que nos reinventar e agora querem mexer e mudar tudo novamente. O entregador já higieniza a moto, o capacete, a caixa, a maquininha, as mãos entre uma entrega e outra, então não faz sentido algum e não acredito que isso vá ajudar em alguma coisa. Acredito que o nosso prefeito está muito mal assessorado. Muitas outras medidas poderiam ser tomadas no lugar dessa de domingo que vai prejudicar muita gente e não trará ganho nenhum na questão da saúde”, completou.
Fernanda CavalineDucarele, responsável pelo Restaurante Cedro, por sua vez, disse que é a favor do lockdown, desde que ele seja embasado por um estudo técnico que comprove sua eficiência, o que, segundo ela, não é o caso.
“Nosso setor foi o mais afetado nessa pandemia, não tivemos nenhum apoio e nenhum tipo de flexibilização, então estamos trabalhando apenas com o delivery. Só ele já não está sustentando e, agora, o único dia que tem um movimento um pouquinho maior é no domingo, justo esse dia que eles querem fechar sem embasamento nenhum, sem nenhum estudo e muito menos nos avisar, pois eu só fiquei sabendo por uma matéria de vocês. Sou a favor do lockdown, desde que tenha um estudo por traz disso, tenha um embasamento e não simplesmente a Deus dará, como está sendo feito”, ponderou.
Bares, pizzarias e restaurantes, porém, não serão os únicos afetados pela decisão. Mercearias, açougues, rotisserias, padarias, conveniências e supermercados também terão que baixar as portas aos domingos.
“Não resolve nada fazer isso agora e prejudica todo mundo do comércio. Mercado pequeno como o meu não tem aglomeração, aqui entra dois ou três por vez e justo no domingo que é o dia que a gente tem um movimento um pouco melhor. Não vai ajudar em nada na questão da pandemia, e vai nos atrapalhar ainda mais”, disse Davi Cesar Zaneti, proprietário da Mercearia do Davi.
APAS
A APAS (Associação Paulista de Supermercados) também se manifestou sobre a situação. Em carta enviada à imprensa a entidade diz que restringir os supermercados não combate a Covid-19.
No documento a APAS afirma que tem trabalhado para reverter decretos municipais que, de alguma forma, afetam o funcionamento dos supermercados e, consequentemente, causam restrições de direito à população, uma vez que o acesso aos serviços essenciais não pode ser interrompido.
“Ao restringir o funcionamento dos supermercados, a população se vê obrigada a aglomerar em filas nas portas dos estabelecimentos, o que vai na contramão de qualquer medida razoável em tempos aonde o distanciamento social é a melhor prevenção. Ao fechar os supermercados em um município, a população se desloca até as cidades vizinhas para conseguir suprir suas necessidades imediatas, o que pode propagar ainda mais a disseminação do vírus. O direito de acesso aos serviços essenciais e as medidas de distanciamento social precisam ser respeitadas para que esta pandemia seja superada sem causar mais traumas em nossa sociedade”, conclui a nota.