Assisti, estarrecido, nesta semana, a um dos milhares de excelentes comentários do jornalista Alexandre Garcia sobre fatos políticos do Brasil. Aliás, este é um dos poucos profissionais da imprensa que, atualmente, consigo assistir um comentário inteiro sem medo de ter de engolir uma narrativa ou um fragmento de mentiras oficializadas.
Também estarrecido, Alexandre Garcia encerrou a gravação exatamente com uma frase associada ao título deste artigo. O medo da opinião, hoje, faz parte do dia a dia de quem trabalha com informação e formação de opinião. Porém, o medo de expor o pensamento e a opinião é o “novo” fantasma que ronda jornalistas e boa parte dos brasileiros que ainda pensa.
Por exemplo, aqui mesmo no Região Noroeste, há alguns anos, eu denuncie políticos, policiais, empresários e pessoas “comuns” de envolvimento em crimes – um deles que poderia ter levado uma importante personagem da política fernandopolense à cadeia, mas que se livrou da pena na última hora, após gastar muito dinheiro com advogados -, desmandos em geral e abusos.
Na Folha de Fernandópolis, também há alguns anos, denunciei uma “amizade” muito suspeita de um prefeito com o dono da empreiteira mais contratada da história da prefeitura da cidade, muitas vezes em licitação. As denúncias fizeram parte de uma CPI da Câmara, que apurou “estar tudo correto” nas negociações. Alguma novidade nisso?
Também no jornal Diário da Região, na Rádio Alvorada e em mais de uma dezena de jornais menores e sites também pude opinar, criticar, analisar e até apoiar fatos do dia a dia de Fernandópolis e do Brasil. Fui assertivo na cassação de mandato de pelo menos três prefeitos da região e na prisão de um vereador, sem medo de opinar.
Hoje, com certeza, não poderia falar nem escrever uma linha do que falei na época.
O mesmo medo que hoje apavora profissionais da imprensa habita na mente de brasileiros que, sequer, ousam ir a um evento público com uma camiseta verde e amarelo, semelhante à bandeira nacional; também não se vê mais a bandeira colada em carros, e muitos motoristas retiraram o adesivo “Brazil was stolen” (o Brasil foi roubado). O Twitter deste movimento, por exemplo, não é atualizado desde 6 de dezembro do ano passado por seus autores, e não sei porque ainda não foi derrubado pelo TSE ou STF.
E aqui este artigo entra em sua área mais perigosa. Estes tribunais, além de outros órgãos públicos e forças de segurança, compõem o Frankestein que nos apavora e limita nosso direito constitucional de opinar. Vem deles um rosário de casos de perseguição, condenações judiciais – muitas irregulares do ponto de vista jurídico – e punição pública a profissionais da área, como Allan dos Santos, Bárbara Destefani, Rodrigo Constantino, Guilherme Fiuza, Augusto Nunes e Paulo Figueiredo, entre muitos outros.
Também vem desses tribunais uma sequência quase incontável de abusos, como a criação de leis – prerrogativa exclusiva do Poder Legislativo – e regras que só podem sair da cabeça de perseguidores e donos da verdade.
E aqui se entende porque o povo também não está mais indo às ruas criticar o que se assiste, mais uma vez, ocorrer no Brasil com o assalto anunciado ao dinheiro público. Cama e sofá milionários, viagens de príncipes e reis, hotéis caríssimos, MPs de isenção de impostos a setores “amigos” do poder, nomeação de condenados, entrega de cargos e bens públicos à companheirada, etc. E é bom parar por aqui, né?!
Dá medo falar do que se antevê no governo do Brasil avermelhado, se associando, de novo, a ditadores, que força o cidadão comum a engolir a liberação das drogas, a aprovação do aborto e o desarmamento; dá medo falar do retorno à pauta assuntos que o brasileiro conservador – a maioria, acredito – não aceita, como a ampliação do número de ministérios, a destinação de áreas agrícolas a indígenas que, possivelmente, nunca tenham posto as mãos em uma enxada, e a perseguição ao agronegócio, entre outras barbaridades. Melhor parar mesmo!
Por fim, como quem já enfrentou o Ministério Público e o Poder Judiciário por mais de uma dezena de vezes – sem nenhuma condenação, diga-se – e há poucos anos de pendurar as chuteiras no campo profissional, declaro meu medo de atuar como comentarista. Prezo, sem dúvida, por minha liberdade em favor de minha família.
Por isso, quem sabe, em um próximo artigo, venha a comentar técnicas de como se frita bolinhos de arroz, bater bolos, capítulos de alguma novela das 6h, a cor do biquíni de subcelebridade na praia ou qualquer outra amenidade por medo de ser alvo de inquéritos como o “do fim do mundo”, por exemplo, e ser condenado ilegalmente como Daniel Silveira e Deltan Dallagnol, entre muitos outros.
O certo é que já vivemos em um país de exceção. E eu, que passei metade do período da ditadura militar trabalhando na imprensa, posso afirmar com certeza: nunca nada se compara ao que vemos hoje. Por isso, me atrevo a trocar o “Brazil was stolen” por “Brazil is afraid” – Brasil com medo.
*É jornalista e professor universitário