sábado, 23 de novembro de 2024
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Com 80% dos contratos por acabar, time sensação teme pausa

Campeão da Copa do Brasil em 2004, calando mais de 70 mil torcedores do Flamengo no estádio do Maracanã, vice-campeão estadual em 2010 quase parando o Santos de Neymar, Robinho…

Campeão da Copa do Brasil em 2004, calando mais de 70 mil torcedores do Flamengo no estádio do Maracanã, vice-campeão estadual em 2010 quase parando o Santos de Neymar, Robinho e Paulo Henrique Ganso no Pacaembu, o Santo André que se acostumou a surpreender parece ter retornado em 2020. Recém-promovido da segunda divisão (Série A2), o Ramalhão tem a melhor campanha do Campeonato Paulista, a dois jogos do fim da primeira fase.

A suspensão do torneio como forma de prevenção à pandemia do novo coronavírus (covid-19), porém, preocupa o clube para a sequência, caso ocorra, da competição. Isso porque o estadual está paralisado, conforme a Federação Paulista de Futebol (FPF), por tempo “indeterminado”. Dos 26 jogadores inscritos pelo Santo André, apenas sete têm vínculo para além do mês que vem (o campeonato, inicialmente, terminaria em 29 de abril). “Mesmo eu, como executivo de futebol, só tenho contrato até o fim do Paulista”, conta à Agência Brasil o diretor-executivo do Ramalhão, Edgard Montemor.

Dos onze titulares na última partida da equipe (derrota por 1 a 0 para o Mirassol, fora de casa), nove estão ligados ao clube somente até abril, e só o meia Dudu Vieira tem vínculo longo (até 2021). O contrato da maioria, aliás, vence já nos primeiros dias do próximo mês. Caso do atacante Ronaldo, de 29 anos, artilheiro do time no Paulistão com seis gols e, na prática, jogador do Santo André apenas até o próximo dia 9. Ele, inclusive, já chamou atenção do Sport, da Série A do Campeonato Brasileiro. Ou seja, esses atletas já podem assinar um pré-contrato com qualquer outra agremiação.

Dos 16 times da divisão principal do estadual mais antigo do país, apenas três não participam de competições nacionais em 2020: Água Santa, Inter de Limeira e o próprio Ramalhão. Todas com predominância de elencos cujos contratos estão em vias de finalizar, já que a única competição que poderia lhes restar no ano, a Copa Paulista (torneio que reúne equipes sem calendário no segundo semestre e dá ao campeão vaga na Série D ou na Copa do Brasil) é considerada deficitária e, para disputá-la, costuma-se montar elencos mais baratos. Mesmo assim, até equipes que estão na terceira (Ituano) e quarta divisões (Mirassol, Ferroviária e Novorizontino) do Brasileirão vivem a realidade de planteis de vida curta.

Como ainda não há certeza sobre a continuidade do Paulistão, o Santo André não teve como iniciar as negociações para prorrogar os vínculos. “Hoje, é inviável conversar com qualquer atleta ou com a comissão técnica porque não temos ideia de quando voltará o campeonato. Por quanto tempo teríamos que estender os contratos? Quanto mais chegar perto do fim dos contratos, sem definição de retorno ou não do Estadual, mais inviável fica”, explica Montemor. “Corre o risco do clube e de outros times do Paulista e outros estaduais, principalmente [times] médios e pequenos, ficarem sem atletas [para as sequências dos torneios]”, completa.

De fato, 128 dos 742 clubes profissionais do Brasil, segundo a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), têm competições nacionais a disputar no ano. Significa que 614 times (mais de 82%, portanto) dependem que as federações providenciem torneios além dos estaduais para seguirem na ativa. Para o diretor do Santo André, a paralisação da maioria das competições pelo país e a situação de agremiações como o próprio Ramalhão torna mais relevante a discussão sobre um novo calendário para o futebol brasileiro.

“Para as equipes pequenas, o calendário sempre foi preponderante para elas não conseguirem planejar nem a médio, quanto a mais a longo prazo. É importante, sim, que seja levada em consideração, cada vez mais, uma implementação de um calendário nacional, ao menos para a maior parte dos clubes. Vejo a FPF atuante, a própria CBF com a modificação da Série D, mudando o formato que garantia só seis jogos na primeira fase para 14. Quem sabe, em um curto espaço de tempo, não se pense em uma Série E, regionalizada”, avalia.

Campeão antecipado?
No Campeonato Paulista, são quatro grupos com quatro times em cada na primeira fase. Dirigido pelo técnico Paulo Roberto Santos, o Santo André lidera o Grupo B com seis vitórias, um empate e três derrotas após 10 rodadas, acumulando 19 pontos. Só o Palmeiras, entre os outros 15 clubes da primeira divisão, fez tantos pontos (coincidentemente, está na mesma chave do Ramalhão, que fica na frente por ter uma vitória a mais). Hoje, os andreenses enfrentariam o próprio Verdão nas quartas de final, em jogo único, e teriam o mando de campo.

A FPF informou que, na última segunda (16), os times decidiram em consenso pela suspensão do Estadual. “No primeiro momento, a posição do Santo André era da continuidade da competição [disputar as duas partidas finais da primeira fase durante a semana] com portões fechados. Mas, o clube respeitou a paralisação, principalmente diante do fato de um atleta [o atacante Luan] e um funcionário do Corinthians terem possibilidade do coronavírus por apresentarem os sintomas, conforme exposto pelo próprio representante corintiano [Andrés Sanchez, presidente]. Os principais fatores de preocupação têm de ser a vida e a segurança de todos. Acredito que a decisão foi acertada”, conta.

Com o calendário apertado para a maior parte dos clubes do Paulista, há a possibilidade de o campeonato ser cancelado se a pandemia do novo coronavírus se estender e inviabilizar o retorno dos jogos. Se ocorrer, o dirigente do Ramalhão entende que a equipe mereceria ser considerada campeã. “Nós, departamento de futebol e atletas, queremos que a competição seja retomada para que tudo seja decidido em campo. Entendemos os problemas de saúde e a gravidade disso, e que o futebol só pode retornar quando isso passar”, afirma.

“Acredito que, se o torneio não reiniciar, primeiro: acho inviável decretar rebaixamentos porque ainda teriam rodadas a serem disputada e os dois últimos [Botafogo-SP e Ponte Preta têm as piores campanhas] possuem chance de escapar. Mas não vejo como hipótese declarar que o campeonato não existiu. Trabalhos foram realizados, planejamentos feitos e recursos dispendidos. A definição de vagas na Série D e na Copa do Brasil, acesso em divisões menores para maiores e título não podem ser deixados de lado. Devem ser colocados a quem de direito”, conclui.

O elenco andreense foi liberado dos treinamentos e recebeu recomendações de cuidados com a saúde em meio à pandemia. “Foi passado aos atletas e funcionários que fossem para casa, evitassem a contaminação, ficassem com os parentes, respeitando as orientações que têm sido colocadas a todos nós. Na medida do possível, eles [jogadores] poderão seguir orientações do nosso departamento técnico e da comissão, preparador físico, para se manterem em forma [em casa] caso a competição retorne”, encerra Montemor.

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