

O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) encaminhou uma denúncia à Organização das Nações Unidas (ONU) a respeito de um vídeo publicado nas redes sociais do 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) de São José do Rio Preto (SP). A gravação, posteriormente apagada após gerar repercussão negativa online, mostra policiais militares queimando uma cruz enquanto um deles ergue o braço na altura do ombro.

A publicação, feita em 15 de abril, exibia uma cruz em chamas, uma trilha de velas e um brasão de fogo no chão com a inscrição “Baep”, cercado por ao menos 14 policiais. No dia seguinte, o comandante do batalhão, tenente-coronel Costa Junior, defendeu o ato como uma cerimônia rotineira na corporação, com o objetivo de valorizar o empenho dos policiais durante o estágio.
Na denúncia enviada à ONU na quarta-feira (16), o CNDH estabelece paralelos entre os gestos dos PMs e a queima de cruzes associada a saudações nazistas e ao ritual da Ku Klux Klan nos Estados Unidos. O conselho argumenta que o vídeo possui correlação com rituais supremacistas, afirmando que “historicamente, a queima de cruzes significa um ato de intimidação contra minorias, incluindo pessoas negras, judeus e imigrantes”.
O CNDH recomendou à ONU a formulação de uma Política Nacional de Combate a Atos Neonazistas, envolvendo todas as esferas do governo, e a adoção de ações nacionais para combater esse movimento na segurança pública, cultura e educação.
Procurada pelo g1, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que analisa as circunstâncias da gravação e da formatura, mas garantiu que já é possível descartar qualquer interpretação que associe o evento a símbolos ou manifestações de ideologias nazistas, supremacistas ou totalitárias. O CNDH, em sua denúncia, alega que a corporação precisa cumprir as diretrizes de respeito à dignidade humana e que o vídeo desrespeita os princípios da Polícia Militar.
O Ministério Público (MP) informou que irá investigar o caso e estabeleceu um prazo até sexta-feira (25) para que o comando do Baep de Rio Preto informe sobre as medidas adotadas em relação à publicação do vídeo. O MP mencionou que as ações estão sendo comparadas a rituais da Ku Klux Klan na internet, e internautas também fizeram associações com atos nazistas, classificando o ocorrido como “desrespeitoso” e “fora dos padrões”.
A Polícia Militar justificou que o vídeo retrata o encerramento de um treinamento noturno, com a intenção de simbolizar a superação de limites físicos e psicológicos, negando qualquer intenção de associar o ato a ideologias políticas, raciais ou religiosas. A corporação afirmou que investigará as circunstâncias da produção dos vídeos e repudiou qualquer alusão a símbolos nazistas ou manifestação de intolerância, preconceito ou discriminação.
O comandante do Baep de Rio Preto, tenente-coronel Costa Junior, em vídeo publicado nas redes sociais da corporação antes da remoção, explicou que a queima da cruz e o gesto faziam parte da cerimônia de integração de novos policiais à unidade após o treinamento, um ato considerado rotineiro na corporação, chamado de “entrega de braçais”. Ele afirmou que os elementos da cerimônia possuem simbologia dentro dos princípios da Polícia Militar e que a remoção do vídeo ocorreu para evitar confusões. O comandante reiterou o compromisso do Baep com a defesa da sociedade e o combate ao crime, negando qualquer associação com ideologias extremistas.
