A Assembleia Geral Extraordinária realizada na CBF na segunda-feira tinha como ponto central – ou, pelo menos, se imaginava isso – a possível mudança na diferença de pesos dos votos das federações estaduais e dos clubes nas eleições à presidência da entidade.
Mas, quando tiveram a chance de mudar isso, os clubes decidiram votar de forma unânime pela manutenção da diferença. Em troca, ganharam a promessa da entidade de que a confederação não irá se opor à criação de uma liga.
Para que se entenda o contexto: uma mudança no estatuto da CBF em 2017 estabeleceu pesos diferentes nos votos dos cartolas brasileiros. A partir daquele ano, o voto de um presidente de federação passou a valer três pontos, enquanto que o de um clube da Série A ficou com peso dois, e o de um da Série B com peso 1. Na prática, isso significa que, desde então, o apoio de um cartola de uma federação estadual que não tenha nenhum clube nas duas principais divisões do futebol brasileiro vale mais do que o voto de qualquer agremiação que passou a sua existência inteira na elite, ou que ostente um título de campeão do mundo.
Quando houve aquela alteração, os clubes chiaram, mas o estatuto foi adiante e serviu para eleger o já afastado Rogério Caboclo. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) acionou a Justiça e o imbróglio só foi resolvido com a assembleia de segunda-feira Na reunião, porém, os clubes aceitaram o jogo com as cartas dadas pela CBF e mantiveram o peso dos votos exatamente como a entidade queria.
A manutenção do status ocorreu porque o presidente interino – e que provavelmente será aclamado para o próximo quadriênio -, Ednaldo Rodrigues, prometeu aos dirigentes que não irá se opor à criação de uma liga. “Para reconstruir o futebol brasileiro, acho que tem que ter uma maturidade, um entendimento, e principalmente a liga dos clubes. Esse é o foco central dos clubes”, disse na saída do encontro o presidente do São Paulo, Júlio Casares.
“A liga é o primeiro processo de mudança do futebol, então nós temos que apostar na liga. Acho que a (diminuição da) cláusula de barreira abriu uma participação maior dos clubes, democratizou um pouco mais. É um passo”, prosseguiu.
A diminuição da cláusula de barreira citada por Casares foi a única alteração substancial nas regras da eleição na CBF. Antes, para um candidato se apresentar, ele precisava contar com o apoio escrito de oito federações e cinco clubes. Agora, bastam quatro de cada. “A gente sai satisfeito, porque a gente deu um passo. Não que tenha sido feito o que precisa ser feito para o futebol, mas a gente entende que foi um bom passo para que a gente comece a fazer essa mudança”, disse Duílio Monteiro Alves, do Corinthians.
O problema é que essa alteração, por ora, é inócua. Na mesma assembleia, Ednaldo Rodrigues recebeu o apoio maciço de (praticamente) todos os presentes para a eleição que deverá acontecer ainda este mês. E isso fará com que até mesmo quem poderia ser contra, vote a favor.
“Claro (que vou votar nele). Vai ser candidato único!”, comentou Mario Celso Petraglia, presidente do Athletico-PR, sem conseguir esconder muito o tom da ironia. “(Sinto) Tristeza, há muitos anos não vinha aqui na CBF. Eu gostaria de sair daqui com outros resultados, mas não saio com a convicção de que eu gostaria de sair.”
E a convicção diz respeito justamente à criação da liga. “Ela nem sequer está formatada, ela não tem ainda uma personalidade jurídica, e nós temos de buscar isso primeiro”, lembrou Casares
No fim das contas, coube a Marcelo Paz, presidente do Fortaleza, resumiu o resultado da Assembleia Geral da CBF da última segunda-feira. “Se a gente fosse por um caminho de bater o pé, de que só haveria votação, só haveria algum tipo de acordo se mudasse o peso dos votos, não haveria acordo nenhum”, afirmou. “Foi o passo possível neste momento.”