Magia ou ciência? Uma bola perfeita ou repleta de deformações? Para o laboratório suíço que testou a bola da Copa do Mundo da Rússia, ela passou em todos os testes.
Mas as impressões de que ela não teria um voo coerente não vêm nem de problemas de sua circunferência, resistência e nem peso. A diferença desta vez, segundo os cientistas, é o efeito ótico que o objeto gera.
O laboratório suíço Empa anunciou que, depois de milhares de testes, a Telstar 18 recebeu um “selo de aprovação”. “Alguns goleiros têm sido críticos sobre suas características em voo. Mas a razão seria sua aparecia não convencional”, explicou o laboratório, apontando para as críticas já feitas pelos espanhóis De Gea e Pepe Reina, entre outros.
Os responsáveis pelo laboratório afirmam que, mesmo que o futebol viva de emoções, seu trabalho é técnico. “Impressões são subjetivas”, disse Martin Camenzind, representante do laboratório que há 22 anos realiza os testes para a Fifa.
Para que a bola fosse aprovada, ela foi esmagada 250 vezes dentro de um tanque com água. Ela é apenas aprovada se, mesmo depois disso, reter apenas um volume mínimo de água. Outro teste se refere a garantir que a bola sempre salte na mesma altura ao ser largada de uma distância de dois metros.
“Para provar que a bola é uma esfera perfeita, ela é medida em não menos que 4 mil pontos”, destaca o laboratório. “E finalmente, a bola precisa manter seu formato, mesmo que seja chutada duas mil vezes contra um muro de aço, a 50 quilômetros por hora”, explica. “Nem todas as bolas passam nos testes e não é apenas circunferência ou peso que se mede”, apontou o laboratório, em um comunicado.
Mas, no caso da versão da Adidas em 2018, a realidade é a de que é sua textura que traz inovações, com o plástico ganhando uma nova projeção. “E é essa superfície que é responsável pelo voo imprevisível da bola”, reconhecem os cientistas.
Se os goleiros que já a testaram a julgam “estranha”, Camenzind contra-ataca. “O que entra em jogo aqui é a ótica”, disse. “A Telstar 18 não é feita de hexágonos tradicionais e pentágonos, mas de elementos irregulares com impressões assimétricas”, explica o laboratório. “Portanto, a bola que voa pode gerar uma visão pouco comum sob condições de luzes apropriadas”, diz.
“Num estudo que fizemos a partir de um pé controlado por um computador, mostramos que a bola acusada de um comportamento estranho de forma alguma se comportou dessa forma nos experimentos”, diz o laboratório. “O fato de a trajetória de uma bola ser complexo e, de acordo com teorias de aerodinâmica, as vezes caótica é usada a seu favor por jogadores profissionais”, insiste o Empa.
“Ao contrário de um projétil que descreve um parábola perfeita, a bola se deforma quando um jogador a chuta”, diz. Para Camenzind, grandes jogadores usam justamente desse fato para dar efeitos especiais.
“Mas isso não é uma questão de mágica, e sim de física aplicada” insiste. “Tudo isso precisa ser perfeitamente ensaiado, já que uma vez que o pé atinja a bola, o jogador não pode mais influenciar deliberadamente sobre seu movimento”, destaca.
“No instante do chute, a física do pé e da bola precisam se encaixar perfeitamente”, afirma o laboratório. “São bolas com qualidade consistente que permitem que possamos viver momentos mágicos em campo”, completam os suíços.