Mais aguardada pelas empresas de chocolates do que pelas crianças, a Páscoa é a maior oportunidade das empresas ligadas ao chocolate ganhar um dinheiro a mais. E a razão é simples: as pessoas estão dispostas a gastar muito mais pelo produto se ele estiver em forma de ovo.
A grama do chocolate nos ovos de Páscoa chega a custar mais de quatro vezes mais do que o vendido nos formatos normais vendidos durante o ano todo. (Veja tabela no fim do texto)
O ovo Bis Tradicional, por exemplo, tem 318 gramas, e é vendido a R$ 39,50 — R$ 0,12 por grama. Já a caixa do Bis de 126 gramas que é vendida o ano todo sai por R$ 3,49. Resumindo em um número: a grama do ovo custa 4,47 vezes mais que a grama do chocolate.
O levantamento foi feito pela reportagem na semana passada, no Itaim Bibi, em São Paulo. Entre outros produtos pesquisados, o ovo Kit Kat, da Nestlé, custa 3,12 vezes mais do que a barra e o Talento, da Garoto, 3 vezes mais.
Por que as pessoas pagam?
Mesmo sabendo dessa diferença, a maioria das pessoas não deixa de comprar o chocolate nessa época do ano. O consultor de marketing e marcas da Brandwagon, Marcos Bedendo, explica o porquê: “As pessoas não se importam em pagar mais caro porque essa data acontece apenas uma vez por ano. É a mesma coisa que ocorre em outras datas comerciais, como o Dia das Mães e o Dia dos Namorados por exemplo. ”
É justamente pensando nessa ideia que as empresas veem uma forma de lucrar, cobrando preços maiores e apostando na publicidade. “As empresas vendem a preços mais caros porque o ovo de Páscoa não é só chocolate. O consumidor o compra pelos atributos emocionais e acaba não pensando na funcionalidade do produto. A pessoa vê naquele ovo deum presente, criando um laço emocional e lúdico. Acaba não pensando no gasto.
Para Bedendo, portanto, o consumidor não vê o ovo de chocolate exatamente como chocolate. “Vale comparar essa data com um jogo de futebol: você pode assistir aos pela televisão, mas não é a mesma coisa que assistir em um estádio. E nesse momento eles entendem que a publicidade tem um poder de alavancar mais as vendas que no restante do ano”, comenta Bedendo.
Aumento de preços
Apesar da nova tributação de produtos de chocolate entrar em vigor somente em maio, o chocolate em si teve um aumento substancial (reajuste entre 5% e 15%). A economista e consultora de varejoFatima Merlin explica que isso está diretamente ligado ao cenário econômico atual, que trouxe a inflação na casa dos 10%.
Esse cenário, segundo Merlin, leva os consumidores a buscar outras alternativas para essa época de Páscoa, o que “abre espaço para o mercado de ovos caseiros e também para a diversificação das opções de ovos. ”
Custos
Segundo a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados), os custos do ovo também pesam. “A produção, distribuição e vendas de ovos de chocolate contam com um reforço de equipe e por isso as indústrias contratam um grande número de colaboradores temporários e em alguns casos estas contratações podem durar até seis meses. Além disso, o processo de embalagem é feito manualmente e as próprias embalagens são bem maiores e mais sofisticadas do que as de chocolates de linha regular”, diz ele.
Previsão
O varejo deve ter uma Páscoa mais magra neste ano. As vendas devem recuar 3,4%, segundo projeção da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), movimentando R$ 2,8 bilhões.
Se confirmada a retração, será o segundo ano consecutivo de encolhimento nas vendas da data, que disputa com o Dia dos Namorados a quinta colocação no ranking do calendário do varejo nacional.
