A Polícia Federal resgatou na manhã desta terça-feira (23) uma chinesa de 23 anos que vivia em condições semelhantes à de escravidão em uma loja de bijuterias e presentes no calçadão de Araçatuba.
O espaço com cerca de quatro metros quadrados é cercado com papelão, coberto com folhas de zinco e sem ventilação. A jovem está no Brasil desde dezembro de 2011 e pode ter passado todo esse período morando no depósito da loja. Ela trabalharia praticamente de graça para pagar uma dívida dos pais dela com os proprietários do estabelecimento. O casal de chineses dono da loja, uma mulher de 42 anos e um homem de 41, foi preso em flagrante.
O delegado da Polícia Federal Frederico Franco Rezende informou que na terça foi a segunda vez que a polícia esteve na loja para averiguar denúncia de que no local havia uma pessoa vivendo em condições análogas à de escravidão. Agentes estiveram no local na segunda-feira, mas a proprietária da loja, que está grávida, não estava presente. No início da manhã desta terça eles retornaram ao calçadão e foram atendidos pela acusada, que permitiu o acesso dos agentes federais ao depósito da loja.
A reportagem teve acesso ao depósito onde a vítima dormia, um local no piso superior, muito quente em meio às caixas de mercadoria. No espaço cercado com papelão reservado a ela havia apenas um colchão no chão com um cobertor, uma mala e caixas com roupas.
Na cozinha havia uma torneira e um balde com água no chão, onde também estava uma vasilha com tomates picados ao lado de uma faca e outra bacia com frango cru. Uma prateleira de ferro servia de armário para alguns utensílios domésticos, material para lavar louças e vários sacos de lixo.
DINHEIRO
Ainda, segundo o que foi apurado pela polícia, a chinesa tinha um salário de R$ 1 mil mensais. Porém, não recebia esse dinheiro, que ficava com os proprietários da loja supostamente para pagamento da dívida. Ela trabalharia como repositora de mercadorias. O delegado informou que também há denúncia de que a vítima sofria maus tratos, mas aparentemente ela não apresentava lesões.
O casal, que está regularmente no Brasil, foi preso em flagrante e será indiciado por reduzir alguém a condição análoga à de escravo, crime previsto no artigo 149 do código penal, com pena que varia de dois a oito anos de prisão. Ele foi encaminhado para a cadeia de Penápolis e a mulher para General Salgado.
A movimentação no calçadão chamou a atenção de populares. O delegado da Receita Federal de Araçatuba, Edenilson Nunes Freitas, acompanhou a operação e disse que 90% das mercadorias comercializadas na loja são importadas. As notas fiscais apresentadas pelos comerciantes seriam analisadas para verificar se existe alguma irregularidade.
Folha da Região