No último domingo, a cidade uma vez mais acordou assustada. As primeiras notícias davam conta do assassinato de Geison, um jovem fernandopolense que trabalhava no Mato Grosso, filho de família tradicional. Na segunda, outra notícia triste anunciava a morte da jovem Paola, em conseqüência de ferimentos provocados por acidente de trânsito. Em comum, a precocidade de ambos, ele 25 anos, ela 18.
Notícias como essas sempre nos deixam muito perturbados. Eu, particularmente, até porque também tenho filho nesta faixa etária, me coloco no lugar dos pais e das pessoas que perdem alguém assim tão jovem, com o futuro todo pela frente e tantos planos interrompidos de maneira abrupta e estúpida.
A sensação que fica, no primeiro momento, é de que isso é completamente injusto, afinal, como pode ser natural que alguém interrompa sua trajetória terrena em plena “flor da idade”, quando ainda havia tanto a descobrir e a possibilidade de contribuir para um mundo melhor?
A pergunta que não quer calar é exatamente qual o sentido da morte de uma pessoa jovem e que está fazendo algo bom, trabalhando, com relacionamentos saudáveis e levando uma vida normal. Essa dúvida, ou melhor, esse questionamento, nos provoca muita angústia. Embora saibamos da finitude da vida, não sabemos quando ela chegará a termo. Talvez querendo esquecer essa realidade, vivemos como se fossemos imortais e “deixamos a vida nos levar”, sofrendo com banalidades e assuntos sem relevância, fazendo verdadeiras “tempestades em copos d´água”, transformando coisas simples em tragédias e criando dificuldades enormes.
Tudo isso é muito fácil de ser teorizado, mas na prática, se torna verdadeiramente complicado. Talvez esteja aí a beleza do ser humano, a sua complexidade, o eterno dilema entre a razão e a emoção.Embora saibamos a resposta para todas essas dúvidas, continuamos insistindo em dificultar o simples.
Aliás, se tudo é tão fácil e simples, como explicar que não conseguimos usar nosso tempo de vida para aquilo que realmente valha a pena, como amar de verdade, compreender as pessoas com suas qualidades e seus defeitos, conviver com nossos desafetos?
Nesse corre-corre diário, coisas triviais como sorrir para um estranho ou tomar café da manhã com a família acabam se tornando insignificantes e sem importância. Nessa época do ano, acabo absorvido por meus pensamentos e minha inquietude me faz refletir sobre aceitar a vida como ela é.
Cada vez que me surpreendo com esses pensamentos e com a morte prematura de pessoas jovens, sinto uma enorme vontade de gritar à minha volta, escancarar minha necessidade de viver bem, comigo e com os que me cercam e me são caros. Afinal, embora não saibamos como ou quando vamos morrer, todos sabemos que essa é uma verdade absoluta (se é que ela existe).
Todas as vezes que me deparo com essas circunstâncias, chego à conclusão de que precisamos nos preparar para a morte, mas, principalmente, precisamos nos preparar para a vida, aprender a viver cada momento como se fosse o último, e, sobretudo amar, amar muito, porque, queiram ou não, é o amor que define a qualidade do mundo onde vivemos. Se há sofrimento, também há muita luz à nossa volta.