Quanto vale uma transa? Nas escadarias de um dos edifícios mais populosos do Brasil, o Copan, custou R$ 678.
Esse é o valor da multa que a administração do prédio, um dos cartões-postais paulistanos, emitiu ao proprietário de um apartamento do bloco E, ocupado por imóveis de um quarto e quitinetes.
O apê estava alugado. A inquilina emprestou o imóvel para uma amiga do Rio de Janeiro. Esta recebeu um casal de visitantes. Os dois se identificaram na portaria do edifício e pegaram o elevador.
Câmeras de segurança flagraram a saída deles, que, no lugar de seguirem em direção ao apartamento, mudaram de rumo: foram para as escadas externas de acesso ao terraço.
Desconfiado, o segurança resolveu ir atrás. Encontrou os dois lá no alto bem na “hora H”. As câmeras pegaram o casal arrumando as roupas.
A transa rolou no último dia 27, às 22h20.
“Entrei numa área livre, não quebrei a porta, não incomodei ninguém. Quando o segurança chegou, parei o que estava fazendo e fui embora”, conta. “É ridícula essa situação de moralismo, de patrulha da vida alheia. Quem nunca transou num local público?” Oi? “Tá bom, a diferença é que fui pega”, diz a garota, que praticou o sexo.
A garota, que mora no Rio, conta que já pagou o valor da multa para a amiga inquilina. “Que chato! Ela foi advertida. Temo por represálias.”
Para tentar minimizar o estrago na conta bancária, a garota da escada criou uma página chamada “peripécias no Copan”, no site Vakinha.
Como o próprio nome indica, o vakinha.com.br é usado por internautas para levantar uma grana para as mais variadas causas. Nele, a carioca se identifica com o nome fictício de Alana Milesi, 25. Escreveu: “Aprontei um pouco demais da conta e acabei recebendo uma multa de R$ 678 por transar no último andar do Copan. Agora quero ver vocês pingarem e ajudarem uma amiga que foi penalizada pelo universo apenas pelo fato de ser transona”.
Até ontem à noite, a página tinha cerca de 9.000 visitas. Balanço da “sacolinha”? R$ 20 –a confirmar.
Comentários pipocaram pela web. No próprio site: “Façam uma outra vaquinha para um motel, porque nem nas escadas se pode transar em paz mais. Valeu e bom sexo”. O assunto, é claro, também caiu nas redes sociais. No Facebook: “Cobra do cara que te catou… Pelo menos, 50%”. No Twitter: “Multa por transar é sacanagem”.
A garota está esperançosa. “Isso já deu tanta dor de cabeça. Podiam ao menos dar uma contribuída. Fala sério, minha causa é nobre”, gaba-se.
Para o síndico do Copan, Affonso Celso Prazeres de Oliveira, 73, o ato “é simplesmente depreciativo”. “Que foda cara! Só dá para fazer piada”, brinca. “E ainda na escada?” A multa, explica Oliveira, é por desrespeitar às normas do prédio.
Projetado nos anos 1950 por Oscar Niemeyer, o Copan enfrentou nos anos 1980 prostituição aberta nos corredores e tráfico de drogas.
O prédio só foi colocado nos eixos graças ao trabalho incessante do síndico e também de quem vive por lá.
Hoje, o edifício localizado no centro de São Paulo abriga 2.038 moradores, que ocupam 1.160 apartamentos distribuídos em seis blocos.
“Quase ninguém aqui ficou sabendo dessa história da transa, mas, depois que o caso foi parar no Vakinha, bombou”, conta Juliana Trento, 27, projetista, moradora do edifício. “Só se fala disso.”
Vale lembrar, no entanto, que essa não foi a primeira vez que as escadas do Copan tiveram uso indevido, Juliana. O síndico conta que, há três anos, um morador, proprietário do imóvel, foi expulso do edifício por transar nas escadas. Detalhe: duas vezes.