Um casal de rio-pretenses foi preso ontem pela Polícia Militar acusado de integrar uma quadrilha acusada de praticar pelo menos 70 abortos em um ano.
Além disso, os integrantes também respondem pela venda e administração de medicamentos proibidos no Brasil e formação de quadrilha. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Rio Preto também participou do cumprimento dos mandados de prisão. A Operação “Vida”, como foi apelidada, resultou na prisão de 24 pessoas, 18 delas no Estado de São Paulo, e outras seis em Minas Gerais.
O casal de Rio Preto – Anderson Siqueira Neves da Anunciação, 29 anos, e Cibele Martins da Silva, 25 anos -, foi preso na manhã de ontem, no bairro Alvorada, zona norte da cidade, na casa onde residiam. “O casal faria parte do esquema agenciando as mulheres que queriam fazer o aborto”, diz o promotor do Gaeco João Santa Terra. O casal recebia uma comissão pelas mulheres aliciadas. Os dois tiveram a prisão preventiva decretada pelo Ministério Público de Minas Gerais e estão aguardando para serem ouvidos na Delegacia de Investigações Gerais (DIG) da cidade.
Em Belo Horizonte, foram presos dois médicos, três agenciadores e um fornecedor de medicamentos. Entre as pessoas presas no Estado de São Paulo estão um taxista, que recebia para transportar pessoas a qualquer hora e com sigilo, e uma mulher, que cuidava da higienização do ambiente e dos materiais utilizados. Segundo as investigações, agentes públicos eram pagos para proporcionar segurança aos quadrilheiros do núcleo de Diadema.
De acordo com o promotor responsável pelas investigações, Mário Konichi, coordenador da Promotoria Estadual de Combate aos Crimes Cibernéticos de Belo Horizonte, a Operação Vida foi desencadeada em março de 2012 após recebimento de uma representação. Para chegar até a quadrilha foram realizadas escutas telefônicas e, diante da constatação de que o núcleo da quadrilha atuava no interior de São Paulo, as provas foram encaminhadas também ao Ministério Público.
Negociações pela internet
Mulheres grávidas e decididas a interromper o processo de gestação buscavam na internet endereços de clínicas clandestinas ou pessoas dispostas a realizar o aborto. As negociações eram feitas através de agenciadores, que indicavam os médicos e negociavam os preços, que variavam de R$ 4 mil a R$ 8 mil, de acordo com o poder aquisitivo da gestante e com a idade gestacional.
No dia e horário previamente agendado, consumava-se o aborto em uma clínica na rua Alvarenga Peixoto, região Centro-Sul de Belo Horizonte. O método utilizado pelo médico dependia do tempo de gestação da grávida. De acordo com o MP, várias formas de aborto foram utilizadas: indução, curetagem, sucção ou administração de remédios (normalmente o Cytotec).
No caso do núcleo de Diadema, uma gerente, além de receber as mulheres e fazer a sua preparação, realizava os procedimentos de baixa idade gestacional com o uso de medicamentos proibidos.
Quando a gravidez já estava mais adiantada, com mais de 12 semanas, uma médica ia até a residência ou realizava o procedimento em uma clínica. Em Belo Horizonte, um médico formado em universidade do Rio de Janeiro, conhecido como “Doutor Cássio”, acumulava as funções de gerente e de executor dos abortos.