Nessa semana, o senhor completa setenta anos de vida. Ao mesmo tempo, lá se vão quarenta e sete anos ininterruptos de convivência comigo. Nesse período, tivemos muitas conversas e discussões, e da mesma forma que não tive a oportunidade de lhe contar muitas coisas, outras tantas você nunca me disse.
No entanto, há algo muito importante sobre como sua postura influenciou minha vida, que todos deveriam saber. Aliás, se tivesse que dizer o que mais admiro no senhor, meu pai, diria que a generosidade é sua marca maior.
Sei muito bem dos conflitos, muitas vezes intensos, que vivemos. E a grandeza dessa generosidade sempre se fez presente, mesmo com seus modos duros, às vezes intempestivos e até intransigentes, mas que nunca estiveram distantes de um enorme coração.
Com você, meu velho pai, aprendi a ser fiel a meus princípios.
Aprendi a ir além do óbvio e entendi que o mundo não se resume ao que parece ser. Tomei paixão pela leitura, fruto dos inúmeros jornais que lia e aos livros com os quais me presenteou.
Aprendi a agir com presteza e também ser generoso. Aprendi a olhar mais alto do que podia enxergar. Compreendi, por fim, o peso das origens de um homem e a coragem de fazer o impensável, mesmo quando todos discordam de você.
E se hoje estou aqui, diante de ti, saiba que o orgulho que sinto por você é sem fim. Que sou imensamente grato pela criação que recebi; pelos acertos, desacertos e brigas; afinal, personalidade não nasce sob chuva leve, mas, sim, é forjada em tempestades. Se caminho altivo, então, esse é seu legado.
Tal qual Mario Quintana e seu “velho do espelho”, surpreendo-me a cada dia, invadindo-me e ficando mais parecido com o senhor, ruga a ruga, aquele mesmo menino teimoso de sempre. Gracias!
Henri Dias é advogado em Fernandópolis (henri@adv.oabsp.org.br)