domingo, 22 de dezembro de 2024
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Carga Pesada

A ideia de transportar este texto dos meus neurônios para a página do editor de texto apareceu na semana passada. Deixei de fazê-lo pois fui impedido, não por outros articulistas,…

A ideia de transportar este texto dos meus neurônios para a página do editor de texto apareceu na semana passada.

Deixei de fazê-lo pois fui impedido, não por outros articulistas, tão somente por outro compromisso profissional. Providência divina. Se tivesse sido publicado anteriormente, provavelmente teria sido apedrejado. Sem maiores riscos agora, quem sabe, vamos a ele.

A Petrobras é uma empresa cuja atividade principal é explorar petróleo e todos os brasileiros da pátria amada, exceto aqueles que, na contramão, extraem dela seus lucros. Dentre eles políticos, seus administradores desonestos e os grandes acionistas. A estatal (hoje, de economia mista) foi criada “tendo como principal objetivo a exploração petrolífera no Brasil em prol da União” e, ao menos na teoria, mantem nos dias atuais essa finalidade. Na prática, ela existe em prol da reunião de vantagens financeiras particulares.

A greve dos caminhoneiros anunciada há tempos surgiu num estalo de dedos dias atrás com a intenção inicial de reivindicar a redução do preço do óleo diesel, combustível que faz rodar a frota transportadora do país.

As intenções secundárias (ou primárias) embiocadas nessa manifestação nunca conheceremos. Mas, partindo da premissa que a reivindicação seria tão somente conseguir a diminuição dos valores e dos interstícios de aumento de preço do óleo diesel, o que se viu realmente foi uma rodovia de confusões, cheia de buracos e sem placas de sinalização.

Os caminhoneiros, os grevistas, os oportunistas, os baderneiros, os politiqueiros e os tantos outros “istas” e “eiros” mais pareciam o exército de brancaleone, cujo enredo só não foi mais cômico por ter sido trágico.

O movimento principiou com dois representantes oficiais, mas, ao longo da estrada, apareceram dezenas de supostos líderes, cada um querendo seu minuto de fama, sua fatia do bolo ou seu palanque antecipado.

As pautas de reivindicações foram se multiplicando e variando conforme a cara do freguês. Baixar o preço do diesel, demitir o Predo Parente (não sei de quem), Fora Temer, “intervenção“ militar, a volta da Playboy, Marcela Temer na Playboy de junho e por aí vai. Só faltou pedirem o Michel na Globo Rural de julho.

O Apoio da sociedade à grave foi incrível, ao invés de ninguém abastecer seus carros para causar prejuízo àquela estatal, correram para acabar com os estoques da semana em apenas um dia. E dá-lhe passeata para gastar ainda mais. Os comerciantes subiram os preços dos combustíveis, ou retiraram os descontos,

como preferir. Subiu a batata, o tomate, o botijão de gás e falta de pudor. É a lei da oferta e procura, assim funciona o mercado, aquele mesmo da Petrobrás que estão criticando.

A idiotice é a mais democrática das qualidades, não discrimina etnia, cor, classe social, situação financeira, formação educacional ou intelectual. As redes sociais estavam presentes mais uma vez para provar. Com sua enxurrada binária de desinformações, mentiras, notícias falsas, estupidez engarrafada (ou deveria dizer smartfonizada) e tantas outras bizarrices, elas foram as protagonistas da confusão acéfala implantada na batizada “greve dos caminhoneiros”.

Um exemplo que serve muito bem para ilustrar é a tal “intervenção” militar. Entre aspas, porque, na verdade, até onde eu deduzo, estão querendo dizer Golpe Militar, pois intervenção é outra coisa. Até consigo entender que há um desejo de que se coloque ordem no país, que às vezes se assemelha a um caminhão sem freios na ladeira.

No entanto, quem verbaliza ou escreve em uma placa essa asneira nunca deve ter lido sobre história da ditadura no Brasil. Se aqui ainda fosse uma ditadura militar, o combustível estaria no mesmo preço e ninguém poderia dar um “piu”, quanto mais fazer greve. Falar mal do Governo seria assinar sentença de morte, como assinaram tantos brasileiros (de verdade) que lutaram, e deram suas vidas, para ser implantada a democracia no país, para que seja possível criticar o governo, fazer greve, fazer piada do Excelentíssimo Senhor Presidente, sem desaparecer no dia seguinte, a exemplo de tantos outros Brasileiros cujas famílias sequer puderam sepultar seus restos mortais até hoje.

Enfim, acabou a greve, problema resolvido. O Problema de quem? A Petrobras não irá mudar sua política de preços e de abastecimento de bolsos alheios, mas o governo irá bancar a redução no preço do diesel, quer dizer, todos os brasileiros, sejam eles donos de caminhão, de carros, motos ou até o coitado que não conseguiu até hoje comprar sequer uma bicicleta, vão pagar por isso.

O dinheiro sai do orçamento da união, por isso, não existe mágica, faltou em um lugar pega-se de outro, ou reduz-se a despesa, coisa que não vai acontecer, ou aumenta-se a receita. Débito e credito, menos e mais. A matemática nos ferrando de novo. Não bastasse na escola, agora em nosso lar doce lar. Não há o que Temer. Tudo como dantes no palácio de Abrantes.

Resumo da ópera (interpretada por Sula Miranda), quem vai continuar carregando nas costas a carga de impostos, do aumento de produtos e serviços, talvez agora ainda maiores, serão os viajantes da estrada Brasil apelidados de “o povo”. Pior, sem poder cobrar o frete.

Assim caminha a desumanidade, como cantou a musa dos caminhoneiros: com o pé na estrada, “Lá vou eu / Viajando por caminhos / Que não sei onde vão dar”

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