A Câmara dos Vereadores do Rio decidiu, por maioria simples, barrar o processo de impeachment contra o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) nesta quinta-feira (3). Por 25 votos a 23, os vereadores decidiram rejeitar a proposta.
As discussões duraram quase 4 horas, numa sessão híbrida – presencial e remota, em meio à pandemia de coronavírus.
Houve momentos inusitados, como um vereador usando uma camisa do Flamengo, uma vereadora participando remotamente da sessão em um carro e outra comendo pipoca no plenário da Câmara.
A denúncia feita à Casa foi fundamentada na revelação do RJ2 sobre a existência do “Guardiões do Crivella” – grupo em aplicativo de conversas criado para tentar calar o trabalho de jornalistas e impedir denúncias da população sobre a situação precária da saúde municipal.
No total, a Câmara tem 51 vereadores e a votação se deu por maioria simples: para aprovação, bastava a maioria dos votos dos parlamentares presentes.
Como funciona a votação
Votação por maioria simples
Exemplo 1: com 51 vereadores presentes, são necessários 26 votos para abrir o processo
Exemplo 2: com 48 vereadores presentes, são necessários 25 votos para abrir o processo
Quarto pedido de impeachment
Este foi o quarto pedido de impeachment votado contra Crivella. Um foi aceito e dois, rejeitados. Um dos que não vingaram foi baseado no caso conhecido como “Fala com a Márcia”.
No episódio, Crivella foi flagrado orientando líderes evangélicos a procurar uma servidora para que os fiéis tivessem preferência na fila de hospitais municipais e federais.
Tarcísio Motta, vereador do PSOL, recorda que um dos argumentos para rejeitar o impeachment do “Fala com a Márcia” foi de que já havia uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o assunto.
Atualmente, também há uma CPI para investigar o “Guardiões do Crivella” — com maioria governista, como mostrou o G1 na quarta-feira (2). Isso, segundo ele, pode ser usado como artifício para engavetar o pedido de impeachment.
“A composição governista da CPI pode indicar que alguns vereadores digam Não precisa do impeachment porque tem CPI e a CPI vai acabar em pizza, igual ao caso da Márcia. O governo está usando a mesma tática de aceitar uma CPI que vai terminar em pizza e impedir o impeachment”, alerta.
Guardiões do Crivella: entenda o caso
Funcionários da Prefeitura do Rio, pagos com dinheiro público, fazem plantão na porta de hospitais municipais para atrapalhar reportagens e impedir denúncias de problemas na Saúde, como mostrou o RJ2 de segunda-feira (31). O esquema era combinado em grupos de aplicativo de mensagens. Um deles denominado “Guardiões do Crivella”.
A cúpula do governo municipal faz parte de um dos grupos. O telefone do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, consta na relação. O jornalista Edimilson Ávila já falou com o prefeito neste número. Uma testemunha disse ao RJ2 que Crivella enviava mensagens parabenizando as ações.
Resumo
funcionários da prefeitura vão a hospitais para fazer plantão e impedir reportagens ou denúncias
eles se organizam em grupos de WhatsApp, formados também pelo prefeito e por secretários
após a reportagem, o Ministério Público abriu uma investigação criminal e outra de improbidade sobre o caso
a polícia abriu inquérito e cumpriu nove mandados de busca
um pedido de impeachment foi protocolado na Câmara dos Vereadores
Como funciona o esquema
os “guardiões” são distribuídos por escalas, postam fotos para “bater ponto” e comemoram quando atrapalham a imprensa
O líder do esquema é Marcos Luciano (o ML), que foi missionário com Crivella e é assessor especial do gabinete do prefeito
ML teve bens apreendidos, como celular, notebooks e dinheiro
há funcionários que têm salário maior do que enfermeiros e técnicos de enfermagem