sábado, 23 de novembro de 2024
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Caetano Veloso lança Meu Coco, reagindo às demandas virtuais

Caetano Veloso lança hoje, 22, um álbum com 12 músicas inéditas. Seu material de estúdio mais recente havia saído há nove anos, Abraçaço. Meu Coco, título do novo disco, foi…

Caetano Veloso lança hoje, 22, um álbum com 12 músicas inéditas. Seu material de estúdio mais recente havia saído há nove anos, Abraçaço. Meu Coco, título do novo disco, foi gravado durante a pandemia, em um estúdio caseiro que a produtora e mulher do artista, Paula Lavigne, pediu para ser construído na casa da família.

Mesmo abrindo mão de algumas ideias que não puderam ser realizadas com a chegada da pandemia, Caetano seguiu com a gravação do álbum e convidou o jovem músico Lucas Nunes para participar da produção a seu lado e pilotar a mesa de som, garantindo uma presença mínima de pessoas no local de gravação. Lucas, um amigo de colégio de Tom, filho de Caetano, toca vários instrumentos. “Ele cresceu praticamente em casa”, diz Caetano. Além de Lucas, poucos músicos foram ao estúdio gravar seus instrumentos in loco. Assim, o álbum é um feito marcado, ao menos em sua produção, pela histórica pandemia da covid-19.

Caetano fala sobre essas condições. “Eu fui fazendo como dava para fazer. A pandemia não determinou o clima do disco, mas interferiu bastante em sua produção. As pessoas que vinham aqui eram testadas e usavam máscara. Marcio Vitor (percussionista) tocou em uma faixa, Vinicius Cantuária (compositor e violonista) em outra e Marcelo Costa (baterista) em outra. Um por um.”

Os arranjadores trabalharam a distância. Thiago Amud mandou colaborações de Belo Horizonte; Jaques Morelenbaum, do Rio; e Letieres Leite, de Salvador. As gravações do que eles colocavam nas partituras eram feitas por naipes de músicos que também não iam ao estúdio do artista.

E assim nasceu Meu Coco, um álbum com instantes de uma beleza profunda e muitas vezes triste, como a bela Ciclâmen do Líbano, um pedido de Caetano a Jaques Morelenbaum para que ele achasse uma sonoridade “que misturasse música árabe a Weber”; e um incômodo geracional forte em especial, Anjos Tronchos. Diz a letra: “Uns anjos tronchos do Vale do Silício / Desses que vivem no escuro em plena luz / Disseram: vai ser virtuoso no vício / Das telas dos azuis mais do que azuis”. E segue, desconstruindo demandas criadas por metadados: “Agora a minha história é um denso algoritmo / Que vende venda a vendedores reais / Neurônios meus ganharam novo outro ritmo / E mais e mais e mais e mais e mais”.

É talvez Anjos Tronchos um dos discursos de reação mais fortes de Caetano. Não é o tom do álbum, que tem ainda o axé minimal Não Vou Deixar, a doçura de Autoacalanto, feita ao neto Benjamin; a homenagem afro-terreira a Gil e Gal de Gilgal, e a presença da portuguesa Carminho no fado Você Você. Mas Anjos Tronchos tem conflito e dialética. “Eu achei que não seria capaz de lidar com esse tema, mas acabei conseguindo. Concluir essa música foi uma vitória sobre mim mesmo.” Se o próprio Caetano se cuida para não apequenar o pensamento se expondo ao ritmo das plataformas digitais, ele responde: “Eu sou muito velho para estar tomado pelo mundo das redes sociais. Não vejo muito Spotify, quando pego no computador dá tudo errado. Vivendo fora disso, a pessoa fica meio cética a respeito da possibilidade totalizante e dominante desse mundo se desenvolvendo assim. A experiência humana pode enfrentar muita coisa que parece inelutável e na hora H continua a ser apenas a experiência humana. Temos de ir vendo e vivendo. Eu não me entrego não”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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