O Instituto Butantan apresentou hoje (15) a segunda etapa do processo de transferência de tecnologia da vacina contra o vírus do HPV, que previne o câncer de colo de útero. Com isso o Brasil, que atualmente utiliza a vacina importada, avançará para se tornar autossuficiente na produção da defesa.
Na segunda fase, o Butantan passará a aferir a qualidade e embalar o produto no Brasil, com rotulagem própria do Instituto, antes de distribuir as doses para a rede pública. A vacina contra o HPV é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014 para meninas entre 9 e 13 anos e meninas e mulheres de 9 a 26 anos que vivem com HIV.
A transferência de tecnologia é resultado de parceria entre o Instituto, o Ministério da Saúde e a empresa farmacêutica MSD. De acordo com o Butantan, a transferência de tecnologia é feita do fim para o início do processo produtivo. Ou seja, desde 2014 o Butantan importava os lotes da MSD e distribuía para o ministério.
Treinamento
Nesse período foram feitos vários processos, entre os quais o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o treinamento das equipes de controle de qualidade e embalagem.
Para a próxima etapa é necessário o treinamento dos profissionais do instituto para o processo de formulação da vacina e envasamento pelo Butantan. Na última etapa, o Butantan realizará a produção integral do produto. Com a parceria, é possível reduzir o custo da vacina em 80%. A expectativa é produzir 10 milhões de doses por ano, suficiente para cobrir as novas gerações e vacinar pessoas de idades além do público-alvo.
Segundo o diretor do Instituto Butantan, Jorge Kalil, cada vez que se faz uma transferência de tecnologia se aproveita para fazer melhorias nos métodos produtivos, além de resultar em um impacto econômico de peso. “ Se não tivéssemos feito essa transferência de tecnologia, as meninas e meninos não se beneficiariam da vacina, porque o custo é proibitivo. Cada dose é vendida a mais de US$ 100,00. Com isso a vacina tornou-se viável”.
Prazos
De acordo com o secretário de Saúde de São Paulo, David Uip, a vacina é ministrada em três doses e é muito bem aceita. A eficácia é estimada em 98,8% contra quatro tipos de HPV. “Nós precisamos controlar o HPV como causa fundamental do câncer de colo de útero. A política pública de vacina é do Ministério da Saúde. Minha posição como infectologista é que nós vamos avançar também prevenindo os homens. Já que uma das vias de transmissão é sexual, quanto mais pessoas você vacinar menor a transmissão”.
Uip evitou estimar prazos para produção nacional, argumentando que isso demanda tempo. “O importante é ter a vacina disponibilizada. A parceira deve ser exemplo para outras. Esse é um projeto muito auspicioso e importante para o país, lembrando que o HPV tem outras manifestações, como verrugas comuns e câncer em outras partes do corpo”.
Os tipos 16 e 18 do HPV são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer de colo de útero, 60% dos cânceres vaginais, 50% dos cânceres anais. Os tipos 6 e 11 estão ligados a 90% dos casos de verrugas genitais.