Com a mesma paixão que fala da sua música e das reivindicações sociais, Carlinhos Brown fez um alerta de que Brasil e América Latina precisam de “um movimento urgente de educação básica”.
Em entrevista à agência de notícias EFE, Brown analisou o momento que o país e a humanidade atravessam e voltou a defender que a educação é a ferramenta que pode “mudar o mundo”. “A pessoa educada é menos violenta, sabe distinguir o que come, tem conhecimento”, declarou o cantor.
Para Brown, o importante é dar apoio para que as pessoas em risco de exclusão social possam sair dessa situação. “As pessoas precisam de escolas desde o início da vida. [Falta de] educação tem relação com falta de entendimento, com fome, violência doméstica e feminicídios”, argumentou.
Dentro da educação, o cantor defendeu como fundamental as noções musicais. “A educação ajudou muito, principalmente pessoas mais desfavorecidas na América Latina”, destacou.
De acordo com Brown, a arte é ferramenta para melhorar a vida das pessoas. “Eu sou um artista e o artista tem que buscar as habilidades de expressão. A música não basta se você tem curiosidade”, explicou ele sobre como entrou no mundo da pintura. Cerca de 1.000 obras que o baiano já pintou poderão ser vistas a partir desta segunda-feira (29) na Fundação Telefónica, em Madri, na exposição “La mirada que escucha”.
Filho de um pintor de parede, Brown contou que gostava de brincar com as tintas quando era criança, mas que o pai sempre quis outro futuro para ele. “Um dia, ele me levou para ver um professor de música e disse a ele que eu queria ser artista. Um pai conhece bem o filho e eu espero que ele goste dessas pinturas”, comentou.
Brown conheceu a música antes da arte com os pincéis, mas em uma viagem à Espanha, há 15 anos, já bastante reconhecido, visitou uma exposição no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, sobre Pablo Picasso e Joan Miró.
“Fui tomado por uma força, passei por uma estátua e algo aconteceu. Nunca tinha sentido algo assim na minha vida, nem mesmo na música. Comecei a sonhar com pinturas, com telas e no meu aniversário comecei a pintar, fiquei 24 horas seguidas pintando, suando, e os meus filhos começaram a dizer que tínhamos um pintor em casa. A minha vida mudou”, relembrou. “A pintura ajudou bastante. Tudo o que não brinquei antes, na minha infância, estou brincando agora com a pintura”, refletiu.
Embaixador ibero-americano da Cultura desde 2018, Brown disse se sentir sempre um migrante. “Somos todos migrantes, desde a Bíblia, desde aquele homem que abre o mar fugindo do faraó. Essa ideia de que o imigrante é um inimigo é uma ideia errada. Todos nós viemos de algum lugar, o braço da imigração é o braço do progresso”, afirmou, ressaltando que o Brasil “não existiria sem a migração negra”.
“Os negros foram ao Brasil obrigados, mas foram e ajudaram a construir o país. Foi a mão de obra escrava que fez o Brasil ser o que é”, finalizou.