Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou que o Brasil é o país onde as pessoas têm mais dificuldade em identificar notícias falsas.
O estudo, chamado “Truth Quest,” foi realizado em 21 países e avaliou a capacidade das pessoas de distinguir entre conteúdos verdadeiros e falsos. A pesquisa categorizou os conteúdos em cinco tipos: desinformação, informação errônea, decepção contextual, propaganda e sátira, abordando três temas principais: meio ambiente, saúde e assuntos internacionais.
Fabio Cozman, do Departamento de Engenharia Mecatrônica da Escola Politécnica da USP e Diretor do Centro de Inteligência Artificial da USP, destacou a importância do estudo da OCDE. “Tem uma quantidade muito grande de pessoas que estão confiando [nas notícias on-line], mas que não estão conseguindo detectar se está correto ou não”, comentou Cozman. Ele enfatizou que a OCDE tem uma longa tradição de produzir estudos rigorosos e que utilizou uma abordagem inovadora para garantir resultados confiáveis.
O estudo adotou uma técnica de “gamificação” para testar a capacidade dos participantes de identificar notícias falsas. “Você mostra uma notícia como se fosse um joguinho, ‘você consegue dizer se é falso e verdadeiro?’, e com isso eles conseguiram dados bastante mais confiáveis do que existia anteriormente”, explicou Cozman. Foram entrevistadas 2 mil pessoas em cada um dos países participantes, o que permitiu obter um panorama detalhado da percepção sobre notícias falsas ao redor do mundo.
Um dado interessante do estudo é que o tema das notícias não afeta significativamente a habilidade das pessoas de identificar se elas são falsas ou verdadeiras. “Se você tem uma notícia de meio ambiente, saúde, política internacional, não faz diferença”, afirmou Cozman. A pesquisa também indicou que notícias produzidas por inteligência artificial são ligeiramente mais fáceis de serem identificadas como verdadeiras ou falsas, mas Cozman ressalta que esses dados são preliminares devido ao rápido avanço da tecnologia.
Os resultados mostram que, em média, as pessoas conseguem distinguir corretamente notícias verdadeiras de falsas em cerca de 60% das vezes. No entanto, essa média pode ser enganosa, pois, se dois terços das notícias consumidas são falsas, como é plausível nos dias de hoje, as pessoas podem acabar acreditando em uma parte significativa dessas falsas informações. Cozman acrescenta que, no Brasil, essa percepção é ainda pior, sendo o país onde as pessoas menos acertam a identificação de notícias falsas.
Outro ponto levantado pelo estudo é a relação entre o consumo de notícias nas redes sociais e a capacidade de distinguir entre notícias verdadeiras e falsas. No Brasil, 20% das pessoas confiam muito nas informações das mídias sociais, enquanto a média mundial é de apenas 9%.
O relatório também mostrou que países como Colômbia e México, onde o consumo de notícias pelas redes sociais também é alto, apresentam desafios semelhantes. Por outro lado, o Japão se destaca pelo baixo consumo de informações por redes sociais, com apenas 25%, refletindo uma maior cautela no uso dessas plataformas para obter notícias.