Brasileiros que viveram a Copa de 2014 e agora estão morando na Rússia têm uma oportunidade rara: observar o maior evento do futebol sendo realizado em dois países com culturas e contextos completamente diferentes. Mais que viver o mesmo Mundial duas vezes é quase como viver dois eventos diferentes.
Para Guilherme Gerotto, estudante de Administração de Empresas, a principal diferença está nas pessoas, na visão dos russos e dos brasileiros sobre o evento. “O brasileiro é apaixonado por futebol e isso está em várias esferas da vida. Para o russo, o futebol é secundário”, explicou. Isso pode parecer óbvio, mas modifica toda a relação com a Copa do Mundo.
O engenheiro químico e mecânico Victor Gers é descendente de russos, vive no Brasil, mas está realizando um trabalho de consultoria no mercado automotivo da Rússia que vai durar dois anos. Em 2014, esteve no Brasil; agora, está lá. Para ele, os russos só se envolvem com um grande evento na hora agá. Isso explica, na sua opinião, o fato de o clima de Copa ter demorado a invadir as ruas. “Os russos gostam de futebol, mas têm um jeito mais contido de torcer. Eles não saem vibrando nas ruas ou pintam as calçadas das ruas onde moram. O jeito russo de torcer é mais reservado”.
Para a professora Elena Vassina, a maneira como a Copa do Mundo é apresentada para a população causa certa resistência inicial nos povos que não são apaixonados pelo esporte. “Não há grande envolvimento popular nas decisões: onde construir um estádio, como os times serão beneficiados pelo torneio. No caso do povo russo, isso explica um certo distanciamento. Eles precisam ver o que vai acontecer de fato para dar seu apoio”, disse o especialista em Literatura Russa.
A partir da última semana, os russos entraram no espírito do Mundial inspirados e motivados principalmente pela chegada dos estrangeiros.
Infraestrutura
As diferenças entre os Mundiais de 2014 e 2018 ficam ainda mais gritantes quando o tema é a infraestrutura para receber os jogos e as seleções. “Moscou já estava pronta para receber o Mundial. Foram feitas mudanças importantes, principalmente no transporte e na mobilidade, mas coisas pontuais”, afirmou o professor Augusto Pessanha, que faz pesquisas na Universidade Estatal de Moscou. “Eu me lembro que no Brasil as promessas do chamado legado não se cumpriram. Faltaram obras de infraestrutura que simplesmente ficaram pelo caminho”.
A exemplo do que aconteceu no Brasil, a utilização dos estádios após o período da Copa é uma incógnita. A reportagem mostrou nesta semana os esforços do Comitê Organizador para evitar que o estádio Fisht, em Sochi, se transforme em um elefante branco. A intenção é “importar” um time de São Petersburgo, norte do país, para ocupar o local. “Isso não mudou da Rússia para o Brasil. Muita gente não sabe o que vai acontecer com os estádios depois. Só os dos centros vão sobreviver”, opinou Guilherme Gerotto.
