Distância parece nunca ter sido problema para esses amigos. Depois de trocarem o Brasil pela Austrália há cerca de 15 anos, agora realizaram mais uma longa viagem, de cerca de 10 mil quilômetros.
Dessa vez, deixaram o principal país da Oceania para trás e seguiram para a Rússia, com a intenção de acompanharem mais uma edição da Copa do Mundo, seguindo os passos da Seleção do técnico Tite.
“Seguir os passos”, nesse caso, tem mesmo sentido literal. Na última terça-feira, 12, eles estenderam as faixas da Galo Austrália e da Fla Ozzy no estádio Slava Metreveli, em Sochi, onde assistiram ao único treino aberto ao público da Seleção na preparação para a Copa do Mundo – a expectativa deles era para que mais atividades fossem liberadas, o que não ocorrerá na sequência da competição. Em meio a um público de 4 mil pessoas, a sua maior parte crianças de escolas russas, eles deram um tom mais brasileiro à atividade.
Mas não se contentaram com isso. E, sem serem convidados, mas também sem infringirem nenhuma regra, os intrépidos brasileiros foram entrando no luxuoso hotel onde a Seleção Brasileira está hospedada em Sochi. Lá, consumiram produtos no restaurante e até usufruíram da piscina. Além disso, “deram de cara” com Tite, seus auxiliares e Edu Gaspar, coordenador da seleção, e até mesmo com o zagueiro Miranda.
Isso foi possível porque o Swissôtel Kamelia, onde o Brasil está hospedado, não foi reservado para a equipe nacional, que utiliza uma das alas da sua luxuosa estrutura que conta com procedimentos de segurança, mas mais voltados para a imprensa. Assim, o grupo de torcedores acessou o local e usufruiu de suas dependências, também contando com uma certa dose de “cara de pau” em uma instalação com diárias de mais de R$ 1 mil.
Ao treinador, Vladimir Costa fez um pedido que não esconde que o clube do coração não foi esquecido quando ele aproveita a Copa do Mundo na Rússia. “Você precisa voltar para compensar 2005”, disse, em referência ao rebaixamento do Atlético Mineiro no Campeonato Brasileiro de 13 anos atrás, quando Tite comandou o time durante quase toda a competição.
A paixão clubística, aliás, não é esquecida por eles nem no momento da pose para fotos, com os torcedores turistas sempre trajados com as camisas do clubes e mantendo “distância de segurança” da camisa das bandeiras do oponente – Flamengo e Atlético Mineiro decidiram o Brasileirão em 1980 e, desde então, carregam uma rivalidade que vai além dos seus Estados de origem.
A amizade e o espírito de Copa do Mundo, porém, prevalecem e deixam a paixão clubística em segundo plano, ainda mais com o futebol do País paralisado e os times deles nas duas primeiras posições do Brasileirão – a equipe carioca é a líder. E eles seguirão a seleção em novas viagens nos próximos dias.
Neste sábado, 16, vão para Rostov, palco da primeira partida do Brasil na Copa do Mundo diante da Suíça. Depois, os destinos serão São Petersburgo, onde a equipe de Tite terá pela frente a Costa Rica, e Moscou, onde o rival da Seleção vai ser a Sérvia. Depois, será a vez de voltar para a Austrália. “A Copa é realmente uma festa na primeira fase, depois fica difícil acompanhar”, afirmou Vladimir Costa, com a experiência de quem acompanha in-loco o seu quinto Mundial.
Parece uma rotina, quase como a de voltar ao Brasil, o que acontece a cada dois anos, em média para ele e seu amigo flamenguista Rodrigo Costa. Em Sochi e por onde a seleção for, eles terão a companhia de outros três amigos. Todos sonhando com o hexacampeonato mundial, mesmo morando tão longe do Brasil e há tanto tempo.
“A ausência do Renato Augusto me preocupa, pois acho que a defesa pode ficar vulnerável”, afirmou Rodrigo Costa, talvez um raro exemplo de torcedor brasileiro pouco adepto do jogo ofensivo e que aponta a França como principal preocupação para a sequência do torneio na Rússia. “Acho que vamos vencer, mas desde que Neymar decida”, concluiu Vladimir Costa, mostrando que o craque do Paris Saint-Germain é capaz de unir todas as torcidas brasileiras.
Da Rússia, até agora, nenhuma reclamação. Mas uma enorme dificuldade: a língua. “Sem o Google Translate (um aplicativo para tradução de línguas) eu estaria passando fome”, admitiu Vladimir Costa.