Neste sábado (18), Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil, um levantamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Ministério da Justiça mostra que as rodovias federais do Brasil abrigam 9.745 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes. Este dado ganha ainda mais destaque quando contextualizado com os números do Ministério da Saúde, que apontam 202.948 casos de violência sexual contra menores de idade entre 2015 e 2021.
As estatísticas sobre os pontos vulneráveis são fruto da nona edição do Projeto Mapear, realizado entre 2021 e 2022. Desse total, 1.884 pontos são classificados como de alto risco e 640 como críticos. Segundo Eva Dengler, superintendente de Programas e Relações Empresariais da Childhood Brasil, o objetivo do mapeamento é a prevenção da exploração sexual.
“Se eu tenho como mapear os lugares pelas características, a polícia tem a possibilidade de fazer operações de repressão e blitz noturna”, explica Eva em entrevista ao G1. A estratégia visa permitir uma ação mais frequente da polícia nesses locais, retirando crianças de situações de risco e atuando preventivamente.
Veja as principais rodovias:
BR 101: 1.204 pontos vulneráveis
BR 116: 1.011 pontos vulneráveis
BR 153: 550 pontos vulneráveis
BR 163: 400 pontos vulneráveis
BR 040: 338 pontos vulneráveis
BR 232: 330 pontos vulneráveis
Veja a distribuição por regiões
Nordeste: 177 pontos críticos
Sudeste: 166 pontos críticos
Centro-Oeste: 119 pontos críticos
Sul: 103 pontos críticos
Norte: 75 pontos críticos
Só no Distrito Federal, por exemplo, foram identificados 42 pontos vulneráveis. No biênio anterior (2019-2020), a região possuía quase metade dos pontos mapeados como críticos (46,1%). No entanto, esse número caiu para 14,2% no biênio 2021-2022, indicando um avanço significativo na redução de áreas de risco.
Segundo o boletim do Ministério da Saúde de 2023, entre 2015 e 2021, o Brasil registrou 202.948 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes. Desses casos, 83.571 (41,2%) foram contra crianças de 0 a 9 anos, e 119.377 (58,8%) contra adolescentes de 10 a 19 anos. Alarmantemente, 3.386 casos envolveram bebês com até um ano de idade.
O cenário digital também é preocupante. Em 2023, as denúncias de abuso sexual infantil na internet aumentaram 80%. Eva Dengler orienta que a educação sobre o uso seguro da rede deve seguir os mesmos princípios ensinados na “vida real”: não falar com estranhos. A superintendente destaca a importância da regulamentação do uso da internet por menores de idade como uma medida fundamental de proteção.
Os adultos precisam estar atentos às mudanças de comportamento das crianças, que podem indicar abuso ou violência. “Se a criança é comunicativa, mas se fecha, não quer conversar, se fecha no quarto. Se ela acorda chorando ou apresenta transtornos alimentares, como bulimia ou para de comer, são mudanças de comportamento preocupantes”, alerta Eva.
Além disso, Dengler ressalta a necessidade de discutir o tema nas escolas, de forma apropriada à faixa etária das crianças. Ela esclarece que educação sexual nas escolas não é sobre “ensinar a fazer sexo”, mas sim sobre proteção contra abusos e violências.
“Os adolescentes enxergam a escola como segundo lugar de confiança. É um lugar em que os jovens devem se sentir seguros para falar sobre isso. Os professores também precisam estar preparados”, acrescenta.
Denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes podem ser feitas pelo número 100, um canal gratuito do Ministério dos Direitos Humanos que funciona 24 horas por dia. A denúncia pode ser anônima e as ligações podem ser feitas de qualquer lugar do Brasil, tanto de telefones fixos quanto móveis.
Os canais de denúncia são:
Disque 100: Ministério dos Direitos Humanos
Disque 191: Polícia Rodoviária Federal
Aplicativo Direitos Humanos BR
Disque 190: Polícia Militar
Disque 197: Polícia Civil
Disque 194: Polícia Federal
Eva Dengler também enfatiza a necessidade de atenção especial às crianças em situação de rua, que estão em condições de extrema vulnerabilidade: “No caso da exploração sexual, crianças e adolescentes em situação de rua, na estrada, abordando pessoas, restaurantes, carros parados, são situações de enorme vulnerabilidade. Nós como adultos temos que denunciar isso. Se ver flagrante, chama diretamente a polícia, anota placa do carro e faz a denúncia”.