Saradas, com seios maiores e mais novas, esse é o ideal de beleza que pode estar na cabeça de muitas mulheres. Para ter este perfil, elas recorrem logo às salas de cirurgia.
Dados da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) mostram que os procedimentos mais realizados atualmente são: lipoaspiração (remove os excessos de gordura), implante mamário de silicone e procedimento na face, como o lifting (rejuvenescimento da pele) e a ritidoplastia (cirurgia da face).
As plásticas se popularizaram tanto que o Brasil se tornou o País onde mais se realiza esse tipo de procedimento. Em segundo lugar, aparecem os Estados Unidos. Segundo a SBCP, em 2013 foram realizadas, em média, 83 mil cirurgias estéticas no País por mês.
Apenas no Estado de São Paulo, a média é de 50 mil cirurgias plásticas mensalmente, aponta o último levantamento da SPCP-SP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional São Paulo) realizado com 378 cirurgiões plásticos, entre abril e maio do ano passado. Por semana, são cerca de três procedimentos originados de atendimento particular e dois provenientes de convênios de saúde ou SUS.
Uma das causas para este aumento nos números é a melhora no acesso, com muitos dos procedimentos sendo realizados inclusive pelo SUS. Mas outros aspectos impactaram no crescimento da demanda.
“Fundamentalmente o acréscimo do poder aquisitivo das classes C e D, o culto à beleza e a criatividade do cirurgião plástico brasileiro”, explica o presidente da SBCP, Prado Neto.
Apesar do maior acesso, a banalização de alguns procedimentos, como a lipoaspiração, é o que preocupa, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica — Regional São Paulo, Fernando Prado.
— Lipoaspiração deve ser feita por quem tem treinamento para fazer, quem foi treinado para executar isso. Treinamento são dois anos de cirurgia geral e mais três de plástica. Depois você faz a prova para se tornar membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica…Tudo que é muito barato pode causar problemas.
A modelo brasileira Ângela Bismarck é um nome bem conhecido quando o assunto é plástica. E mesmo já tendo feito diversos procedimentos estéticos, sendo 11 deles com necessidade de cirurgia, ela diz que existe limite.
— Sempre fui uma mulher que me cuidei desde os 17 anos. Eu não sou contra a cirurgia plástica, tem limites… Corpo bonito é exercício e alimentação. Cirurgia plástica é um aliado da mulher, não a solução.
Ângela conta que nunca fez uso do hidrogel e comenta sobre a situação da modelo Andressa Urach, que ficou internada em estado grave após uma complicação em uma cirurgia para retirar o produto.
— Eu acho que ela teve pessoas do lado que a aconselharam coisas erradas. Ela não soube se impor, não teve medo e foi a fundo. Nem tudo é válido por causa da beleza.
A própria Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica não recomenda o uso do hidrogel em procedimentos estéticos. Porém não é proibido, isso porque existe uma portaria da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que permite a aplicação de até 50 ml desse produto em qualquer parte do corpo.
A ex-vice miss Bumbum Andressa exagerou ao aplicar 400 ml de hidrogel em cada perna e chegou a correr risco de vida. Um alerta de que a busca pela perfeição muitas vezes deixa de ser saudável. A psicóloga Marina Vasconcellos, com especialização em psicodrama terapêutico, explica que os sacríficos pela beleza, podem se mostrar em muitos casos desnecessários.
— Quando muita gente fala, profissionais falam, que você está bem, dentro do peso adequado e mesmo assim você não se conforma… aí tem um problema.
Transtorno?
Marina explica ainda que essa necessidade de admiração externa é fruto de pessoas inseguras. Em alguns casos, quando as pessoas se acham feia e não se aceitam, podem até estar sofrendo de transtorno dismórfico corporal.
— É uma patologia focada no corpo, numa relação “equivocada” ou “estranha” consigo mesmo. Em especial o rosto é alvo do incômodo (quer operar o nariz, as orelhas, acha os lábios feios, os dentes…); mais raro acham que o conjunto todo é desarmonioso, e sofrem com isso.
Para a psicodramatista e psicoterapeuta Cecília Zylberstajn, o grande problema é quando a cirurgia plástica está associada a uma felicidade incondicional.
— Uma coisa é aumentar o seio porque vai ficar melhor. [Outra] é a pessoa atrelar a essa mudança a felicidade incondicional dela. Se eu não tiver o nariz da fulana, eu não vou ser feliz.
Fernando Prado da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica da Regional São Paulo acrescenta que quem dá o limite de quando parar é o bom senso.
— O limite é o bom senso. É o conjunto corporal da pessoa. Na minha opinião, o exagero não é saudável.