Jogador de passes espetaculares, dribles desconcertantes e goleador, Alexsandro de Souza, 40, mais conhecido como Alex, foi um craque de características únicas.
Aposentado desde 2014, o ex-meia tornou-se crítico frequente da gestão do futebol brasileiro, principalmente do calendário apertado de jogos.
À reportagem, Alex afirma que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) joga contra os times do país e que o Brasil é o único local onde a copa (torneio disputado em mata-mata) vale mais que do que a liga (competição de pontos corridos).
Palmeiras e Cruzeiro, duas equipes onde ele se destacou e que se enfrentam nesta quarta-feira (12), às 21h45, pela partida de ida das semifinais da Copa do Brasil, têm priorizado o torneio em relação ao Campeonato Brasileiro.
Alex foi um dos líderes do movimento “Bom Senso F.C.”, que durou de 2013 a 2016 e cobrava melhores condições no futebol nacional. Hoje ele trabalha nos canais ESPN.
PERGUNTA – Sempre que Palmeiras e Cruzeiro se enfrentaram pela Copa do Brasil, um deles foi o campeão. Quem passar levantará a taça?
ALEX – Vai ser um duelo dificílimo, porque são dois times bem equilibrados. O desequilíbrio no Palmeiras que existia com o Roger [Machado], o Felipão acabou ajustando. O Mano tem um trabalho mais longo no Cruzeiro. Mas afirmar quem vai ser o campeão realmente não consigo.
P – Pode comparar defesa, meio e ataque dos clubes?
A – São times com bons goleiros, defesas consistentes, meio-campo que marca bem. Ambos têm bons ataques. O Felipe tem usado a experiência dele para proteger bem a linha de defesa. E, do outro lado, o Mano, que está há muito tempo no Cruzeiro, e os jogadores já reconhecem esse trabalho. Acredito que vão fazer 180 minutos de uma baita eliminatória.
P – Qual foi o time mais forte: o Palmeiras de 1998 e 1999 (campeão da Copa do Brasil e da Libertadores) ou o Cruzeiro de 2003/04 (campeão brasileiro e da Copa do Brasil)?
A – O Palmeiras em 1998 e 1999 era muito forte. E ainda pode colocar 2000. Era um grupo que mentalmente tinha uma força assustadora. Agora, o time de 2003 era um grupo espetacular e era mais plástico, mais bonito. Acho que o que diferencia mesmo era a visão dos treinadores. O Felipão [Palmeiras] era mais pragmático, queria vencer os jogos. O Vanderlei [Luxemburgo, do Cruzeiro], além de querer vencer, queria que a gente jogasse bem, jogasse bonito.
P – O que achou do retorno de Felipão ao Palmeiras?
A – Jamais desconfiei da qualidade do Felipe, um homem super vitorioso. A única ressalva que fazia era não tê-lo acompanhado nos últimos anos, no futebol chinês. Mas dúvidas eu não tinha, porque ele sempre foi vitorioso e sabe lidar com seus jogadores. E os jogadores, em contrapartida, estão devolvendo aquilo que ele deseja e exige.
P – Você ainda tem alguma relação com ele?
A – A vida foi nos separando. Eu fui para um lugar, ele foi para outro… A relação existe pelo passado e, se eu o encontrar, a gente senta, se for para almoçar, almoçamos juntos. Mas, relação de ligar, trocar ideia, manter contato, realmente não tenho.
P – Não ter ido para a Copa do Mundo, em 2002, o deixou com mágoas?
A – Eu fiquei [chateado] logo em seguida. Mas hoje já não guardo mágoas, já faz muito tempo. Eu torço para que ele [Felipão] consiga desenvolver os trabalhos como sempre fez e, agora, com ele no Palmeiras, torço para que as coisas aconteçam da maneira como o palmeirense deseja.
P – Você acha que sua forma de jogar está em extinção no futebol brasileiro?
A – Sim, acabou. Os treinadores não utilizam mais esses jogadores. Mesmo que ainda tenham alguns com a mesma característica, modificou-se um pouco a forma de posicionar os atletas no campo.
P – Você identifica alguma mudança na forma dos técnicos mais experientes trabalharem? Eles se adequaram ao futebol atual?
A – Acho que tem lugar para todos. Não existe uma forma apenas de ganhar ou de trabalhar. Não corroboro muito essa ideia de treinador jovem ou antigo.
Treinador é treinador independentemente da idade, da história que traz com ele. E jamais vamos poder abrir mão da experiência desse pessoal, de um Felipe, de um Luxemburgo, do Mano… Esse pessoal tem que poder passar a experiência e, enquanto tiver motivação para trabalhar, acredito que eles sigam dando resultado, como sempre fizeram.
P – A política conturbada da CBF e a falta de organização do calendário refletem de que forma no futebol brasileiro?
A – Jogos de baixa qualidade, jogadores cansados, lesões cada vez maiores, treinadores e clubes dando valor maior às copas. O Brasil é o único país do mundo em que a copa vale mais que a liga, devido a esse calendário apertado que o Brasil oferece, que dificulta o trabalho dos treinadores e a recuperação dos jogadores.
P – O Bom Senso pretendia mudar isso?
A – O Bom Senso deu muito certo. O que aconteceu foi que nós paramos onde define, não temos poder nenhum de execução. Nós só tínhamos poder de discussão, e o poder de discussão levamos ao mais alto nível do Brasil. Na época, a presidente era a Dilma Rousseff, sentamos com ela algumas vezes, sentamos com o chefe da casa civil, conversamos com senadores, deputados… São essas pessoas que definem.Eu vejo que realmente deu resultado, mas o nosso poder de execução é zero. Ou a gente junta todas as forças referentes dentro do futebol, jogadores, treinadores, executivos, os próprios presidentes de clube, para que tenha uma melhora geral, ou a gente vai seguir nisso, parando sempre no governo, no legislativo, que é onde se define tudo.