Enquanto governo e empresas petrolíferas batalham para liberar a exploração de petróleo na margem equatorial, o Brasil alcançou em 2023 o maior volume de reservas provadas de petróleo desde 2015, fruto de novas descobertas no pré-sal.
Para ecologistas, o potencial das bacias petrolíferas já conhecidas assegura a produção nacional até que a demanda por petróleo no mundo comece a declinar. Já as petrolíferas argumentam que o país se tornará dependente de importações caso não expanda suas fronteiras.
Dados divulgados no início de abril pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) mostram que as reservas provadas de petróleo no Brasil, aquelas cuja viabilidade é comprovada, atingiram 15,9 bilhões de barris em 2023.
Segundo a ANP, esse volume assegura o nível atual de produção nacional pelos próximos 13 anos. Considerando as reservas prováveis, com um nível menor de confiança, o volume chega a 22,8 bilhões de barris, o equivalente a 18 anos da produção atual.
O volume de reservas provadas adicionadas em 2023 é praticamente o dobro da produção brasileira durante o ano. Em outras palavras, para cada barril de petróleo retirado do subsolo, o país encontrou outros 1,8. Em 2022, o índice de reposição foi ainda maior, de 2,4 barris para cada barril produzido.
Os campos com maior produção no país – Tupi e Búzios, no pré-sal da bacia de Santos – foram os principais contribuintes nos últimos anos. Em 2023, um novo campo do pré-sal operado pela empresa norueguesa Equinor, chamado Raia Manta, também contribuiu.
O diretor do Instituto Arayara, Juliano Araújo, alega que o Brasil realizou diversos leilões de áreas exploratórias nos últimos anos, com potencial de descobertas que eliminariam a necessidade de abertura de novas fronteiras na margem equatorial ou na Amazônia profunda.
“Há um momento de tudo ou nada para a indústria fóssil, que busca correr para encontrar reservas e aumentar o valor de suas ações”, avalia Araújo. “Por mais que não consiga explorá-las no futuro, há um ganho econômico agora.”
A pressão pela margem equatorial deve aumentar após o anúncio da descoberta de uma acumulação de petróleo no Rio Grande do Norte, feito duas semanas atrás pela Petrobras. O poço atingiu um tipo de reservatório semelhante ao que gerou as descobertas gigantes da Guiana e do Suriname.
Araújo defende que as projeções do setor petrolífero ignoram as mudanças esperadas no consumo nos próximos anos, com o aumento do uso de biocombustíveis. A própria AIE (Agência Internacional de Energia) prevê que o pico da demanda de petróleo ocorrerá no final da década.
“Com o que já temos hoje leiloado, não há necessidade absoluta de tocar a margem equatorial ou a Amazônia profunda. Se isso acontecer, é uma decisão política”, afirma Araújo.
O Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) ainda não decidiu sobre o recurso da Petrobras contra a negativa de exploração do bloco 59 da bacia da Foz do Amazonas, no litoral do Amapá.