O jornalista William Bonner disse na madrugada desta quarta-feira (27), em entrevista ao programa Conversa com Bial, que a suspeita sobre a utilização indevida do CPF de seu filho Vinícius, 22, para pedir o auxílio emergencial de R$ 600 ao governo federal teve o objetivo de “encurralar” ele e a ex-mulher, a apresentadora Fátima Bernardes e, dessa forma, atingir a TV Globo.
A Globo informou nesta terça-feira (26) por meio de nota que Bonner tem sofrido uma campanha de intimidação.
O editor-chefe e apresentador do Jornal Nacional contou que o filho é vítima de estelionato há três anos, desde que sofreu um acidente de carro. Um bombeiro teria divulgado a carteira de habilitação do jovem na internet e desde então a família precisa contar com a atuação de advogados para desfazer golpes.
A fraude mais recente foi a tentativa de vincular o nome do filho de Bonner e Fátima Bernardes a um pedido de auxílio emergencial. O jornalista foi informado que um jornal do Rio preparava reportagem sobre o assunto e, por meio de advogados, mostrou ao veículo as provas de que era um golpe e alertou a Caixa Federal para não fazer o pagamento. A reportagem não foi publicada.
Mesmo sem nada ter sido divulgado, segundo ele, o filho começou a receber insultos pelas redes sociais. Bonner então fez um desabafo em público e, a partir disso, afirma que começaram a acontecer “coisas estranhas”.
“Circularam vídeos que o acusavam de ter feito o pedido e recebido. E cobravam isso do pai e da mãe. De William e de Fátima. E dele”, disse durante a entrevista a Pedro Bial.Para Bonner, o material estava pronto para ser divulgado nas redes sociais antes mesmo dele fazer o desabafo.
“Quem em meio a uma pandemia, com milhares de mortes, teria a ideia, do nada, de entrar no site do Ministério da Cidadania ou do Dataprev e verificar se o filho do William Bonner tentou se inscrever para receber os R$ 600?”, questionou. “Esse é o tempo que estamos vivendo hoje, mas vamos em frente”Para Bial, ficou evidente o caráter doloso do que aconteceu.
Com a voz embargada, Bonner contou que a polarização política faz com que ele evite frequentar lugares públicos desde as eleições presidenciais de 2018. A tentativa é de evitar ataques e agressões verbais.Um episódio ocorrido em uma padaria na Lagoa, região nobre do Rio, foi citado como marcante pelo jornalista.
Segundo ele, uma mulher embriagada às 10h disparou insultos contra ele a uma curta distância, o que provocou grande constrangimento no ambiente.
“Eu, no meu constrangimento, querendo me livrar de uma situação em que estava sendo insultado, me senti culpado por estar estragando o dia de outras pessoas”, lembrou.
A decisão de evitar viagens de avião foi tomada antes, em 2016, quando passou um ano indo de carro do Rio a São Paulo para visitar o pai doente nos finais de semana. A mesma situação foi vivida em 2018, quando quem estava doente era a mãe.
Ex-frequentador do Twitter, o jornalista disse ter visto a intolerância ganhar força nas redes sociais e depois extrapolar para as ruas.
“O que era diversão foi se transformando em campo de batalha”, afirmou. “A gente vai para as ruas e assiste essa mesma incivilidade. A cada eleição vai piorando”.Hoje, além de ser mais recluso, ele evita as redes sociais, que utiliza apenas profissionalmente ou em episódios como o do golpe com o documento do filho.
O jornalista comentou também a insegurança vivida por jornalistas que cobriam diariamente a rotina do presidente Jair Bolsonaro em frente ao Palácio do Alvorada. Ele disse ter a sensação de que foi criada uma situação para dificultar o trabalho da imprensa.
A Folha de S.Paulo decidiu suspender a cobertura jornalística na porta do Palácio da Alvorada temporariamente até que o Palácio do Planalto garanta a segurança dos profissionais de imprensa. O Grupo Globo tomou a mesma decisão.
Ainda na entrevista, Bonner falou sobre a cobertura da pandemia do novo coronavírus como a mais dramática de sua carreira jornalística. Até mesmo o tom de sua narração mudou diante da tragédia.
“Estou me permitindo respirar. Estou respirando na minha necessidade de respirar”, disse.
Para o jornalista, a situação é avassaladora, o que inclui o perigo dos negacionistas que têm o poder da comunicação direta e divulgam fake news para enganar a população.
Sem citar nomes, Bonner definiu como “maldade humana” a atitude de uma pessoa que inventa informações como a de que um medicamento teria o poder de salvar pessoas.”O que é isso, senão maldade?”