Em entrevista ao DLNews concedida na última sexta-feira (2), Guilherme Boulos (PSOL) falou sobre falta de eficiência dos governos de Jair Bolsonaro e João Doria no combate à Covid-19. Para Boulos, “não adianta ficar dizendo para as pessoas ficarem em casa e não dar condições para as pessoas ficarem em casa”. Candidato a presidente em 2018 e a prefeito de São Paulo em 2020, Boulos, agora, enfrenta uma acusação de arquitetar invasão do famoso triplex do Guarujá, que, para ele, é uma “palhaçada”. Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Boulos também falou sobre 2022 e dos rumos para o impeachment de Bolsonaro. Leia abaixo a entrevista na íntegra com Guilherme Boulos.
DLNews – Se Guilherme Boulos tivesse vencido a eleição em 2018 iria se deparar com a pandemia. Qual seria a primeira ação?
Guilherme Boulos – Olha, Heitor, a pandemia do Coronavírus é a crise mais grave desta nossa geração. E no Brasil, além de ser a crise sanitária, que é no mundo todo com mortes, internações, casos graves, ela também tem dimensão muito forte de uma crise social e econômica que já havia antes da pandemia. Temos hoje o pior nível de investimento dos últimos 50 anos no país. Nós estamos na recuperação econômica de 2015 para cá mais lenta da história das crises brasileiras. 14 milhões de desempregados. O país voltando ao mapa da fome. Aqui temos uma tempestade perfeita que é a combinação da crise sanitária com a crise econômica e social. Por isso, as medidas de combate à pandemia precisam combinar duas linhas de atuação: a primeira, é a defesa das vidas. Eu, como presidente da República, se tivesse sido eleito em 2018, quando veio a pandemia teria adotado o modelo que os países que enfrentaram com maior sucesso a pandemia adotaram. A Coreia do Sul teve menos mortes que a cidade de São Paulo. A China, país mais populoso do mundo, teve menos mortes que a cidade de São Paulo. Foi lá que começou o vírus. Como fizeram? Testagem em massa, testar as pessoas, porque testando você identifica os focos de contágio e, a partir daí, começa o monitoramento epidemiológico para praticar o isolamento. Deveria ter sido feito lá atrás. Se estamos na situação que estamos hoje é justamente porque não se fez o básico e a pandemia se descontrolou no Brasil. Medidas de isolamento, intervenção emergencial de recursos para saúde para contratações de profissionais e aberturas de novos leitos. E desenvolvimento, investimento total para pesquisa de vacina. O Brasil tem a FioCruz, o Instituto Butantan, o nosso plano nacional de imunização há três décadas é referência mundial. E nós estamos com pires na mão pedindo vacina para Índia, para China e para o Reino Unido. Isso é resultado desse desmonte por não ter feito a lição de casa. Agora, as medidas de isolamento precisariam ter sido tomadas, ou seja, você identifica os focos, faz o isolamento, que significa ter que fazer fechamento de atividades econômicos com todos os protocolos, precisa vir junto com apoio econômico, porque senão não funciona. A escolha dos brasileiros, sobretudo os mais pobres, não pode ser entre ir para rua para poder ganhar o pão e se arriscar a morrer pelo vírus ou ficar em casa se protegendo do vírus e morrer de fome. Para o isolamento funcionar tem que ter apoio econômico. E o governo Bolsonaro cortou o auxílio emergencial no pior momento da pandemia e agora volta com dinheiro que não paga nem o botijão de gás…
E no começo eram R$ 200, R$ 250. O Congresso Nacional que conseguiu ampliar para R$ 600. Se dependesse do governo Bolsonaro seriam R$ 200 e olha lá, que foi proposto pelo Paulo Guedes (ministro da Economia), que foi pífio.
Esse Paulo Guedes, Heitor, é um maníaco da tesoura. Só sabe cortar. Você fala com esse cara ele vai te falar de ‘corte, corte, corte, corte’. Ele não sabe investir, ele não sabe colocar a vida das pessoas com mínimo de prioridade. Veja, no mundo todo teve política de auxílio para as pessoas mais vulneráveis. Você teve, e era para ter, neste momento, e aqui quero conversar com pequenos comerciantes, microempreendedores de São José do Rio Preto e região, era para ter uma política de apoio com crédito, capital de giro para pequenos comerciantes e para os pequenos empresários. Se há definição sanitária de que tem que fechar o comércio, beleza. Tem que ser fechado. Agora, você não pode atirar as pessoas à própria sorte. Aí vem alguém que trabalhou a vida toda para erguer seu pequeno negócio e olhar um mês depois e virar um CNPJ falido e cheio de dívida. Era preciso ter capital de giro com juros zero. Era preciso ter adiamento de cobrança tributária, apoio para folha de pagamento. As pessoas que têm negócios possam pagar os fornecedores para que não precisem demitir ou que vão à falência. No mundo todo teve medidas de apoio dessa natureza. E aqui no Brasil, vamos falar o português claro, nem Bolsonaro nem o Doria fizeram. Bolsonaro dizia que queria salvar a economia, salvar os empregos. Não salvou coisa nenhuma. Não tomou nenhuma medida relevante nesse sentido. Não salvou vida nem economia. E o Doria que, pelo menos minimamente dizia respeitar os protocolos sanitários, mas não adianta ficar dizendo para as pessoas ficarem em casa e não dar condições para as pessoas ficarem em casa. Nos dois casos tivemos condução errada.
Nos EUA o governou mandou dinheiro (cheques) pelo correio para auxiliar na pandemia. Isso sob o comando de Donald Trump, que a gente sabe é um desmiolado na condução de um país. Inclusive começou com a história da cloroquina e Bolsonaro comprou a ideia de uma maneira muito fácil. Parece que o presidente é fácil de ser manipulado, não é?
Olha, primeiro que o presidente da República não tem CRM. Presidente da República não tem que receitar remédio. Se minha filha ficar doente, se a sua filha ficar doente, se seu pai ficar doente, você não vai perguntar para o Bolsonaro o que tem que fazer. Você vai perguntar para o médico. Não faz sentido essa campanha esdrúxula que o Bolsonaro fez da cloroquina, a não ser que tenha interesse por trás. No caso do Trump, existe uma denúncia. Um acionista, grande acionista da farmacêutica que produz a cloroquina é próximo do Trump. Aqui, o Exército está com mais de 300 mil caixas de cloroquina apodrecendo em armazém, porque comprou. Inclusive, o governo comprou de forma superfaturada. Tem inquérito no Ministério Público. O deputado (federal) Ivan Valente, do PSOL, obteve as informações pela Lei de Acesso à Informação. Ou seja, a não ser que tenha interesse econômico escuso, que alguém ganhou, que tenha maracutaia, é uma doideira, uma loucura o presidente da República querer fazer propaganda de remédio. Ele foi eleito para governar o Brasil, não para ser marqueteiro da indústria farmacêutica. Agora, problema é que temos hoje um país sem rumo. Um presidente que prefere desinformar a população. Tenho dificuldade de entender e aqui não é nem política. É humanamente falando, sabe? O Brasil estava quase chegando a 300 mil mortos e ele (Bolsonaro) chega e diz que as pessoas têm que parar de chorar, parar de mi mi mi. Olha o desprezo pela dor dos outros. São milhões de brasileiros chorando perda de entes queridos, cemitério cheio, cemitério fechando, porque não tem mais lugar para abrir cova. Eu estava vendo dados de São José do Rio Preto com 110% de ocupação de leitos de UTI. Se alguém ficar doente não vai ter respirador, vai morrer na calçada asfixiado. Olha o estado de desastre, caos que o país está e ele diz que é mi mi mi? Um cidadão desse não serve para ser presidente e precisa de um tratamento, porque é desumano isso.
Esse dinheiro todo que foi gasto de maneira irresponsável com compra de cloroquina. Se tivesse investido em vacina, ao menos deixar contrato pronto, a gente teria começado a vacinar no mesmo período que os EUA começaram. E aqui a gente tem um plano de vacinação bom pelo SUS, um dos melhores do mundo. Dá para gente afirmar que muitas das mortes que estão acontecendo agora, como no mês de março, por exemplo, são pessoas que poderiam ter sido vacinadas…
Olha, você citou um ponto que é fundamental, que muitas dessas mortes que estão acontecendo hoje no país poderiam ter sido evitadas. A gente não tem que encarar as mortes da Covid como se fosse natural. Como natural? No mundo todo está descendo a curva e só no Brasil está subindo a curva. Março foi o mês mais sangrento da história brasileira. Tivemos mais de 60 mil mortes por Covid em março. É evidente que isso poderia ter sido evitado se a vacinação estivesse andando, não a passos de tartaruga, mas de acordo com a capacidade que o Brasil tem, que o SUS tem, que a Saúde da Família tem, que os agentes comunitários de saúde têm, que os institutos de pesquisa como FioCruz e Butantan têm. O Brasil sabe fazer. O Brasil é referência em campanhas de vacinação. Desde a produção de vacina da febre amarela que foi produzida por Bio-Manguinhos, no laboratório da FioCruz até a logística de aplicação de vacinas. O Brasil, se não me engano, na campanha de poliomielite conseguiu vacinar 10 milhões por dia. Então, é evidente que essas mortes eram evitáveis. O governo deixou de gastar, eu entrei no Ministério Público agora em março, para investigar o Bolsonaro e o Pazzuelo, que era ministro, porque eles deixaram de gastar R$ 40 bilhões do orçamento da Saúde e rejeitaram vacina. A Pfizer ofereceu milhões de doses e eles rejeitaram. As doses já teriam sido entregues. Então não venha dizer com cara lavada e hipocrisia que ‘não tem vacina no mercado internacional’. Foi oferecida. Não aceitou. Muitas dessas mortes seguramente poderiam ter sido evitadas e por isso, com toda razão, que a gente responsabiliza Bolsonaro por essas mortes. No Estado de São Paulo, eu também não vou passar pano para Doria, porque ele não tomou medidas no tempo correto. Não teve coragem para fazer isso e, sobretudo, não propôs apoio econômico. Não adianta você ficar dizendo para as pessoas ficarem em casa e não dar as condições para as pessoas ficarem em casa. Parte disso é responsabilidade do governo federal e parte do governo do Estado, que é o Estado mais rico do país, que teria condições de ter medidas aos pequenos comerciantes, aos trabalhadores informais, aos desempregados. O governo do Maranhão, que é Estado muito mais pobre que São Paulo, está dando vale gás. Você tem a pandemia do vírus e a pandemia da fome. Quem tem a caneta na mão tem a responsabilidade de enfrentar as duas.
Boulos, você acredita que a eleição municipal do ano passado fez com que prefeitos e até governadores deixassem a questão da pandemia, digamos, frouxa? Com medo de perder a reeleição ou a eleição?
Você não tenha dúvida que pesou. Não só da parte de prefeitos, como do próprio governador do Estado. O Comitê de Contingência propôs para ele medidas sanitárias mais fortes antes da eleição e não foram tomadas. Aqui, eu fui para o 2º turno em São Paulo, eu vi como foi. No dia seguinte que o Bruno Covas (PSDB) ganhou da eleição da gente aqui, o Doria deu coletiva mudando a fase (no Plano SP). Ou seja, houve uma toda tentativa de esconder a gravidade da segunda onda da pandemia para ter resultados eleitorais. Isso foi denunciado amplamente não só pela nossa candidatura, mas foi mostrado por setores da imprensa. Então, isso aconteceu. Não só aqui na Capital de São Paulo, mas em várias cidades houve minimização e agora a gente está colhendo os frutos dessa tragédia.
Voltando para esfera federal. Já existem mais de 100 pedidos de impeachment do Jair Bolsonaro. Fatos não faltam, são vários tópicos para um impeachment, mas não destrava, não é?
Não destrava, veja, motivos para impeachment não faltam. A Dilma (Rousseff) foi derrubada alegando pedalada fiscal. Estamos com mais de 320 mil mortos no Brasil. Bolsonaro está usando o governo para proteger os filhos. Isso é um escândalo, não é? O cara que foi eleito com discurso que era contra corrupção, que ia acabar com a mamata. Olha o que está fazendo. Usando o governo federal para proteger filho, para proteger miliciano, para proteger rachadinha, para proteger Queiroz. É uma esculhambação o que está acontecendo no Brasil. Agora, para acontecer impeachment, além de ter crime, e crime existe de sobra, tem folha corrida, tem que ter o Congresso Nacional abrindo o processo de impeachment. E o que aconteceu, para dizer o português claro, Heitor, foi o seguinte: O Bolsonaro comprou o centrão. O Bolsonaro deu emenda, cargo, agora deu mais um ministério para o centrão. E o acordo é esse. Ele abre a chave do cofre para o centrão e o centrão mantém ele lá. O Arthur Lira foi eleito presidente da Câmara (dos Deputados) a partir desse apoio. Conquistou a base para ter os votos em troca de emendas liberadas pelo Bolsonaro, ou ninguém sabe disso? Ou ninguém viu isso?
Em 2018, em um dos debates, o Bolsonaro pergunta o que ele achava sobre o presidente da República trocar cargos com o centrão em troca de apoio e que isso ele não ia fazer. Então, não sei se ele mente ou se é fácil de ser manipulado, não é?
Olha, eu não sei o que passa na cabeça do Bolsonaro. Se é que passa alguma coisa coerente na cabeça do Bolsonaro. Agora, o que eu sei é que o Brasil acabou comprando um peixe podre. Muita gente votou no Bolsonaro em 2018, e por isso ele ganhou a eleição, mas votou em 2018 não por concordar com absurdos dele. Eu conheço muita gente que votou no Bolsonaro e são pessoas bem-intencionadas, não são malucas, agressivas, violentas, não são pessoas que acreditam que a Terra é plana. Não é nada dessa loucura. Votaram porque tinham uma esperança de melhorar o país, acabar com a corrupção, melhorar suas vidas, sair da crise econômica. Agora, o que a gente vê hoje dois anos depois? A gente vê que aquele que disse que ia governar para acabar com corrupção, com toma lá, dá cá, com a mamata está envolvido até o pescoço. Ele vendeu um peixe podre para o Brasil. As pessoas precisam se dar conta disso. Então, eu acho que o Bolsonaro vai acabar ficando com o grupo dele de fanáticos. Eu estive em 2018 em São José do Rio Preto, tenho um grande amigo que é o vereador João Paulo Rillo (PSOL), foi deputado estadual, candidato a prefeito em Rio Preto, e conversamos sempre sobre a situação de Rio Preto, enfim, eu vejo que muita gente que votou no Bolsonaro com essa esperança já percebeu não é esse o caminho e ele brincou com sentimento do povo.
Mudando de assunto. Vamos falar da Lava Jato. Tivemos agora em março as anulações das condenações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Porém, agora há denúncia de que você arquitetou a invasão do triplex do Guarujá. Quero saber se você teve acesso à denúncia, já leu o que o Ministério Público alega para ter feito essa denúncia? Podemos dizer que você virou alvo do triplex do Guarujá e a gente sabe que você não dormiu nem uma noite lá.
Heitor, é uma palhaçada. Eu fico impressionado como no meio do absurdo que a gente está, no caos que a gente está tenha promotor que dedique seu tempo pago com dinheiro público para fazer chicana, para fazer palhaçada. Sabe, o que aconteceu é que em 2018 ocorreu uma manifestação de movimentos sociais no triplex do Guarujá para questionar a forma que o processo foi conduzido pelo Sergio Moro e que agora foi derrubado pelo Supremo Tribunal Federal. Eu não estive lá, eu era candidato a presidente da República e estava em campanha. Mas, mesmo assim, me intimaram sobre a manifestação que aconteceu no triplex. E agora, o promotor colocou a denúncia para o juiz para que tenho que ser investigado, julgado por dano a coisa própria. Olha o nível de loucura. É um nível de insanidade. O que me preocupa é o Judiciário ser utilizado para fazer política. Então, você é o juiz, e você não gosta da pessoa, então você vai dar uma canetada contra a pessoa. Não pode ser isso. Judiciário não é espaço de perseguição. Pouco importa quem o juiz gosta, quem ele não gosta. Pouco importa quem o promotor gosta, quem ele não gosta. Pouco importante em quem o promotor vota. Agora, ele tem que fazer justiça. O que está acontecendo preocupantemente no Judiciário do Brasil é que, parte dessas figuras, não vou generalizar, mas uma parte tem usado a toga para fazer política. Mas o processo é tão absurdo que ele não para em pé. Eu tenho certeza de que ele não vai prosperar.
Mas muitas ações que todo mundo achava que não andaria, a gente viu que dá trabalho para reverter…
Você tem razão. O nível de absurdo é tão grande que a gente não pode duvidar de mais nada no Brasil.
Você teve uma votação expressiva para Prefeitura de São Paulo no ano passado. Ganhou de gente que está na política há muito tempo, como Márcio França (PSB), o Celso Russomano (Republicanos). Enfim, com a chance de o Lula ser candidato a presidente, você apoiaria o Lula para presidente e tem chances de disputar o governo de São Paulo, por exemplo?
Heitor, eu acho que ainda está muito cedo para gente definir as coisas sobre 2022. Estamos a um ano e meio da eleição, o Brasil está afundado numa crise sem tamanhos, com quase 4 mil pessoas morrendo por dia. Não dá para estar com a cabeça na eleição do ano que vem. É dever cívico atuar para tentar diminuir esse desastre que está acontecendo. Estou empenhado agora em fortalecer campanhas de solidariedade. Criamos um projeto chamado “Cozinhas Solidárias”, que até o final de abril serão 16 cozinhas espalhadas por várias partes do país, projeto do movimento social, que está levando comida para quem não tem. Através de uma rede de doação pela internet está levando alimentação para as pessoas, um projeto muito bonito. Você sabe que esta semana (semana passada) em uma favela de São Paulo, favela Alba, aconteceu um fato que as pessoas não deram visibilidade para isso, pegou fogo em quatro barracos. Começou incêndio com uma mãe que foi esquentar leite para o filho à noite no fogão à lenha, porque não tinha dinheiro para o botijão de gás. Então, assim, estamos em uma crise tão grande na saúde e no social, que não dá para ficar com a cabeça em 2022. Temos que enfrentar essa situação de agora, seja pressionando, cobrando os governos para fazer as coisas, iniciativas de solidariedade, que eu vejo muita gente fazer em véspera de eleição, mas agora é difícil. Agora, em 2022, a minha defesa hoje é que a gente construa uma unidade. Eu acho que precisa unir as forças de oposição, forças progressistas para tirar o Brasil desse pesadelo. Unir a nível nacional contra o Bolsonaro e nível estadual contra o Doria. Para tirar o Brasil e São Paulo desse pesadelo.
Agora, um fato que ocorreu em São José do Rio Preto. Na última sessão da Câmara, um projeto do prefeito Edinho Araújo (MDB), para criar Conselho de Direitos de Diversidade Sexual e de Gênero foi votado. Dois votaram a favor: João Paulo Rillo (PSOL) e Renato Pupo (PSDB). Os outros vereadores, quem declarou voto disse que não precisa de um conselho como este, porque a Constituição Federal garante direitos iguais para todos. Para parte da população de Rio Preto ficou claro que usaram a Constituição para maquiar o preconceito com a comunidade LGBT. Quero que comente sobre isso.
Bom, primeiro é lamentável que as pessoas não consigam defender claramente quais são suas posições. Ficar usando subterfúgio, hipocrisia não dá. Esse argumento de que a Constituição já garante… bom, a Constituição já garante saúde pública gratuita e de qualidade para todo mundo e sucatearam o SUS. A Constituição garante moradia digna para todo mundo e nós temos sete milhões de famílias que não têm casa no Brasil. Então você precisa ter leis e o papel do Legislativo é justamente para poder assegurar aquilo que a Constituição garante seja de fato efetivado. Eu defendo o respeito à diversidade. Acho que as pessoas têm suas orientações e precisam ser respeitadas por isso. Simples assim. É papel do Poder Público garantir esse respeito. Me solidarizo com meu amigo, companheiro João Paulo Rillo, que não cedeu a posição mais fácil. Quando você é levado pelo medo de enfrentar determinados preconceitos, medo de enfrentar determinadas posições que parecem ser de uma maioria, é uma forma covarde de se fazer política. Política a gente faz com princípio, valores, ideais. Esse tipo de política que eu acredito e vejo também em Rio Preto representada pelo Rillo.