sexta, 15 de novembro de 2024
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Bolsonaristas protestam contra Doria e obrigatoriedade de vacina

Um grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) realizou na tarde deste domingo (1) uma manifestação na Avenida Paulista contra o governador de São Paulo, João Doria (PSDB),…

Um grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) realizou na tarde deste domingo (1) uma manifestação na Avenida Paulista contra o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e contra a obrigatoriedade da vacina CoronaVac, que está sendo produzida e estudada pelo Instituto Butantan, em parceria com o laboratório chinês Sinovac.

A manifestação começou por volta das 14h em frente ao Masp e terminou 16h30. O ato foi convocado pelo deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (PTB). Ele declarou nas redes sociais neste domingo que o objetivo da manifestação é “defender o direito de escolha” em se vacinar ou não contra o coronavírus em SP.

“É uma manifestação que estamos fazendo em defesa da nossa liberdade, nosso direito de escolha. João Doria prometeu que vai vacinar os 45 milhões de paulistas de forma obrigatória e compulsória. Só se vacina quem quer. Ninguém é contra a vacina em si, mas contra essa obrigatoriedade”, disse Douglas Garcia no Twitter.

Por meio de nota, o governo de São Paulo afirmou que “respeita o direito democrático à livre manifestação, mas lamenta que o obscurantismo ideológico insuflado por uma minoria raivosa em redes sociais seja usado para espalhar pânico e desinformação”.

“[O governo de São Paulo] atua de forma decisiva, desde junho, no desenvolvimento de uma vacina por meio de parceria internacional entre o Instituto Butantan e a biofarmacêutica Sinovac Life Science. Age de forma responsável para coibir impactos na economia e manter o equilíbrio fiscal das contas públicas, sem aumento de impostos e enxugando a máquina administrativa. Incentiva e orienta diariamente a população sobre a necessidade das medidas de distanciamento social, uso de máscaras e higiene pessoal”, afirmou a nota do governo paulista.

A Polícia Militar não informou o total de participantes da manifestação, mas disse que o ato ocupou duas faixas da Avenida Paulista, nos sentidos Consolação e Paraíso. As imagens da manifestação transmitidas pelas redes bolsonaristas registraram muita gente participando do ato sem máscara.

Divergências
A intenção de compra da vacina Coronavac pelo Ministério da Saúde tem sido motivo de divergências públicas entre Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que pediu em 21 de outubro que o presidente que “tenha grandeza” em relação à vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan.

Em pronunciamento em Brasília, onde esteve para reuniões com o Ministério da Saúde, Doria afirmou que “não é ideologia, não é política, não é processo eleitoral que salva, é a vacina.”

“Falo aqui na condição de governador do estado de São Paulo, mas falo principalmente como brasileiro, como pai. E como pai eu desejo que meus filhos tomem a vacina, desejo que minha família tome a vacina, desejo que meus vizinhos tomem a vacina, desejo que os brasileiros tomem a vacina. A vacina é que vai nos salvar a todos. Não é ideologia, não é política, não é processo eleitoral que salva, é a vacina”, afirmou Doria.

Nas redes sociais, o governador fez um pedido a Bolsonaro: “Peço ao presidente Jair Bolsonaro que tenha grandeza e lidere o Brasil para a saúde, a vida e a retomada de empregos. A nossa guerra não é eleitoral, é contra a pandemia. Não podemos ficar uns contra os outros. Vamos trabalhar unidos para vencer o vírus e salvar os brasileiros”, disse Doria.

Em 20 de outubro, Ministério da Saúde havia anunciado a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. Com isso, o governo federal deveria editar uma nova Medida Provisória para disponibilizar R$ 2,6 bilhões até janeiro. No entanto, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, em sua página no Facebook em 21 de outubro, que o Brasil não irá comprar “a vacina da China”.

Após o post de Bolsonaro, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, afirmou, que “não há intenção de compra de vacinas chinesas” contra a Covid-19. “Não houve qualquer compromisso com o governo do estado de São Paulo ou seu governador no sentido de aquisição de vacinas contra Covid-19”, completou.

Bolsonaro escreveu na mesma rede social: “minha decisão é a de não adquirir a referida vacina”.

No mesmo dia, o presidente declarou durante visita a um centro militar da Marinha em Iperó (SP) que já tinha mandado cancelar o protocolo de intenções de compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac.

“Houve uma distorção por parte do João Doria no tocante ao que ele falou. Ele tem um protocolo de intenções, já mandei cancelar se ele [Pazuello] assinou. Já mandei cancelar. O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade. Até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado por ela, a não ser nós”, afirmou Bolsonaro.

SP recebe com imenso espanto
Em entrevista ao G1, o secretário estadual da Saúde de SP, Jean Gorinchteyn, disse que “recebeu com imenso espanto” o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro de não adquirir a Coronavac, mas que o governo de São Paulo vai buscar fornecer a vacina para os brasileiros.

“Recebemos com imenso espanto. A vacina é um direito da população, e é a única maneira que temos de evitar que tantas pessoas continuem morrendo. O governo do estado de São Paulo irá , assim que aprovado pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], fornecer aos brasileiros a vacina”, disse Gorinchteyn.

Assim como as demais vacinas testadas no Brasil, a CoronaVac está em fase de testes e sua eficácia ainda precisa ser comprovada antes que o uso seja liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Nos testes, são aplicadas duas doses do imunizante por voluntário.

Reuniões com os estados
O anúncio de que o Ministério da Saúde compraria 46 milhões de doses da CoronaVac veio após uma reunião em que participaram 24 governadores, incluindo o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Após o encontro, o ministro Pazuello disse que quando a vacina fosse aprovada, as doses seriam distribuídas a todo o Brasil por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que há décadas é responsável por campanhas nacionais de vacinação. “Temos a expertise de todos os processos que envolvem esta logística, conquistada ao longo de 47 anos de PNI. As vacinas vão chegar aos brasileiros de todos os estados”, disse Pazuello.

Segundo auxiliares do presidente, Bolsonaro desautorizou Pazuello. Ao blog da Andréia Sadi, fontes do Planalto disseram acreditar que o governo não vai recuar da compra, desde que duas condições sejam atendidas:

que a vacina seja aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa);
e que a vacinação não seja obrigatória.

Antes do encontro em 20 de outubro, uma reunião havia sido realizada na semana passada com os secretários estaduais de Saúde, nela o governo federal não havia incluído a CoronaVac no programa nacional de vacinação.

Em entrevista ao G1, o secretário estadual da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse, na ocasião, que o ministério só havia investido em Oxford, e tratava vacinas que estavam na mesma fase de testes de “maneira diferente”.

Contrato com SP
O governo de São Paulo já havia fechado contrato com o laboratório chinês para a aquisição dessas 46 milhões de doses. A gestão João Doria (PSDB) buscava negociar com o governo federal para que elas fossem distribuídas via Sistema Único de Saúde (SUS).

Apesar disso, o governador já chegou a afirmar que, caso não houvesse acordo com o Ministério da Saúde, o governo estadual iria garantir a vacinação para “os brasileiros de São Paulo”.

O acordo para compra de 46 milhões de doses foi firmado com verba estadual e custou 90 milhões de dólares. A assinatura foi feita por Doria durante coletiva de imprensa no final de setembro. Segundo Dimas Covas, diretor do instituto Butantan, a vacina começaria a ser envasada no Brasil já em setembro e até o final do ano o Instituto teria 46 milhões de doses prontas. “Aí aguardaremos o processo de registro”, disse o diretor do Butantan.

O governo estadual também anunciou a previsão de adquirir mais 15 milhões de doses até fevereiro de 2021, chegando ao total de 61 milhões com verba própria. A expectativa era que, com o dinheiro do governo federal, mais 40 milhões fossem adquiridas, chegando a 100 milhões até maio de 2021.

Segurança da vacina
A CoronaVac está na terceira fase de testes. O governo de São Paulo afirmou que 35% dos nove mil voluntários que participam dos testes no Brasil apresentaram reações adversas leves. Segundo o governo, não houve registro de efeitos colaterais graves e a vacina pode ser considerada segura.

A informação faz parte de um estudo parcialmente apresentado em entrevista coletiva. O estudo, no entanto, não foi publicado em revista científica. Ainda não há dados sobre a eficácia da CoronaVac. Segundo o governo, essas informações serão apresentadas até o fim do ano.

Embora Doria tenha garantido anteriormente que a vacina começaria a ser aplicada em profissionais de saúde no dia 15 de dezembro, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse nesta segunda que a data para liberação ainda é incerta. Para ser aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é necessário que a eficácia da vacina também seja comprovada.

“As perspectivas da vacina são otimistas, mas não podemos dar uma data específica de quando isso vai acontecer. Esperamos que até o final do ano essa vacina tenha o dossiê entregue na Anvisa, e que a Anvisa possa proceder a análise e o registro”, disse.

Íntegra da nota do Governo de SP
“O Governo de São Paulo não mede esforços para combater uma pandemia que já se aproxima de 160 mil vidas perdidas no Brasil. Desde fevereiro, prioriza a medicina e a ciência, mais que dobrando o número de leitos de UTI para atendimento a pacientes graves e reforçando o Sistema Único de Saúde para atendimento a mais de 1,1 milhão de pessoas infectadas pelo coronavírus em nosso estado. Incentiva e orienta diariamente a população sobre a necessidade das medidas de distanciamento social, uso de máscaras e higiene pessoal. Atua de forma decisiva, desde junho, no desenvolvimento de uma vacina por meio de parceria internacional entre o Instituto Butantan e a biofarmacêutica Sinovac Life Science. Age de forma responsável para coibir impactos na economia e manter o equilíbrio fiscal das contas públicas, sem aumento de impostos e enxugando a máquina administrativa. E respeita o direito democrático à livre manifestação, mas lamenta que o obscurantismo ideológico insuflado por uma minoria raivosa em redes sociais seja usado para espalhar pânico e desinformação”.

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