O protesto do Movimento Passe Livre (MPL) contra o reajuste da tarifa de ônibus, trens e metrô terminou em vandalismo e confronto, na noite de ontem, entre black blocs e policiais militares, no centro de São Paulo. O tumulto deixou um rastro de destruição pelas ruas, com focos de incêndio, ônibus depredados e agências bancárias atacadas. Até as 21 horas, havia um PM e um manifestante feridos – duas pessoas foram detidas. Hoje, a passagem sobe de R$ 3,50 para R$ 3,80.
A manifestação, com 10 mil pessoas, segundo a organização, se concentrou às 17 horas na frente do Teatro Municipal, a poucos metros da Prefeitura. A passeata começou uma hora depois. Com mascarados na linha de frente, o grupo passou pelo Largo do Paiçandu, acessou a Avenida Tiradentes e entrou no Túnel do Anhangabaú. Por volta das 19h20, a confusão começou na confluência das Avenidas 23 de Maio e 9 de Julho, quando um veículo ficou no meio da passeata e deu a ré. Mascarados foram na direção do carro e a PM reagiu com bombas de efeito moral.
A região virou uma praça de guerra. A confusão se espalhou pela Ladeira da Memória, levou ao fechamento da Estação Anhangabaú do Metrô e assustou passageiros do Terminal Bandeira. Em resposta à ação da Tropa de Choque, os black blocs atacaram com garrafas, pedras e pedaços de madeira.
Houve pânico entre a população. A comerciante Elisangela Rodrigues, de 27 anos, estava no Terminal Bandeira quando o gás lacrimogêneo tomou o local. Chorando e assustada, ela disse que não sabia do protesto. “Eu desci do ônibus e começou a estourar um monte de bomba. Tinha rojão voando por cima da minha cabeça.”
Série de ataques. Divididos em vários grupos, os black blocs iniciaram uma série de ataques. Parte dos mascarados foi para a Rua Xavier de Toledo, Rua da Consolação, Praça Roosevelt, Rua Amaral Gurgel e chegou à Avenida Paulista.
Os black blocs interceptaram ao menos dois ônibus que subiam a Avenida Ipiranga. Os passageiros receberam ordem para descer – de um deles saltou uma mulher com um bebê de colo. Os motoristas foram obrigados a atravessar os coletivos na Rua da Consolação. Os mascarados, então, destruíram os ônibus – os vidros foram quebrados e as latarias, pichadas. Os manifestantes usaram pedaços de pau e extintores.
Revogação. O ato começou com o slogan “R$ 3,80 o povo não aguenta” e teve a participação, além do MPL, de coletivos estudantis secundaristas das escolas ocupadas, juventude de partidos políticos de esquerda e Sindicato dos Metroviários. Desde o início, a PM monitorou de perto os black blocs. A polícia colocou também agentes à paisana na manifestação.
Segundo Vitor dos Santos, porta-voz do MPL, o foco da manifestação foi a revogação dos novos preços. “Os políticos falam que a decisão é técnica, mas beneficia mais os empresários do que a população. Eles têm de tirar dinheiro dos ricos, não do povo que faz girar essa cidade.” Em junho de 2013, o aumento de R$ 3 para R$ 3,20 foi revogado após uma série de protestos por todo o País.
Rio também tem tumulto, na Central do Brasil
Manifestantes contra aumento de tarifas e policiais entraram em confronto também na frente da estação ferroviária Central do Brasil, no centro do Rio. Às 20h20, um grupo de ativistas atirou pedras contra policiais, que revidaram com bombas de efeito moral. Centenas de pessoas que chegavam à estação para pegar os trens suburbanos correram em desespero.
Assustados, comerciantes fecharam as portas dos estabelecimentos. Durante o enfrentamento, o cheiro de gás de pimenta tomou conta do saguão da Central, intoxicando quem tentava alguma forma de proteção. Não havia informações de feridos.
A manifestação começou às 17 horas na Cinelândia, para reivindicar o cancelamento do aumento da tarifa de ônibus no Rio (que passou de R$ 3,40 para R$ 3,80 no dia 2) e reuniu cerca de 700 pessoas. Houve um protesto menor em Belo Horizonte, onde cerca de 300 manifestantes marcharam pacificamente com cartazes de “R$ 3,70 ninguém aguenta”.