Bento XVI participou nesta quarta-feira (27) da última audiência pública como papa, e falou para mais de 50 mil fiéis na Praça São Pedro.
Foram tantas quartas-feiras para Bento XVI: 348, com a audiência geral de quarta-feira (27), em praça pública. Encontros criados por Paolo VI em 1963, para dar ao papa a chance de falar com o povo.
O papa deu uma longa volta na Praça São Pedro, onde milhares de pessoas se aglomeraram para vê-lo. Bento XVI saudou os peregrinos pela última vez.
No inverno quente de Roma, Bento XVI agradeceu aos fiéis: “Obrigado de coração. Estou comovido e vejo a Igreja viva.”
Lembrou o dia da sua eleição: 19 de abril de 2005. “Nesses quase oito anos, a igreja viveu dias felizes, mas também momentos difíceis”, disse o papa, que confessou muitas vezes ter se sentido como Pedro no barco com os pescadores, em águas agitadas e ventos contrários.
“Deus parecia dormir, mas eu sempre soube que ele estava dentro do barco.” E concluiu: “O barco da igreja não é meu, não é nosso, mas dele. E ele não o deixa afundar.”
Em um tom sereno e em paz, disse que não terá como voltar à vida privada e que está consciente da gravidade da renúncia. Mas que tomou a decisão para o bem da igreja.
Agradeceu em língua portuguesa, e passou aos fiéis confiança e conforto.
Se cada papa representa uma época diferente no mundo, se cada um dá uma contribuição até pessoal à evolução da igreja, a de Bento XVI foi a de ter repensado a fé. A sua decisão de renunciar ao papado, que antes parecia um ato impossível, tornou-se um gesto natural. Bento XVI, aos quase 86 anos, deixa o pontificado e entra para a história.
“A gente percebia da parte do povo um sentimento de gratidão, de forte presença e de proximidade do papa. E o papa interagiu com as pessoas de uma maneira impressionante”, disse Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo.
“Um homem que procurou fundamentar a nossa fé na razão humana, mostrando essa relação entre fé e razão”, avaliou Dom Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida.
No seu segundo conclave, o arcebispo emérito de Salvador, Dom Geraldo Majella Agnelo, não vê ainda um candidato. “Não desponta nenhuma pessoa, nenhum cardeal que eu diga: agora parece que vai ser esse”, declarou.
“A igreja não pode ser só conservadora ou só progressista. A igreja dificilmente é enquadrável”, acrescentou Dom Odilo.
Bento XVI foi eleito como um papa conservador. Com o seu gesto de renunciar ao trono, deixou a praça aclamado como revolucionário.